Aparte
Opinião - É hora de voltar um pouco no tempo

[*] Rômulo Rodrigues

As duas maiores forças construídas pela classe trabalhadora no século 20 foram o Partido dos Trabalhadores em 10 de fevereiro de 1980 e a Central Única dos Trabalhadores em 28 de agosto de 1983.

Foi o momento em que a burguesia enfraquecida pelos crimes e desastre econômico da ditadura militar, para proteger seus interesses, substituiu a tática da repressão pela da concessão e a classe trabalhadora se organizou e avançou, dentro e fora do parlamento e com a pressão dos movimentos nas ruas, no campo e nas fábricas fez com que uma bancada de 40 deputados constituintes e uns poucos senadores fizessem aprovar bandeiras históricas da classe.

Bandeiras como, por exemplo; redução da jornada de trabalho, sem redução de salário, direito de greve, direito de sindicalização dos servidores públicos e o direito de organização social em geral.

Foi uma época histórica para que a unidade das diferentes concepções que compunham os movimentos da classe trabalhadora deixassem de lado algumas divergências para unificar suas consignas na difícil tarefa de executar a combinação na guerra de movimento com a guerra de posição, onde caminhavam em separado, mas atacavam em bloco em ações estratégicas.

E foi no momento que conseguimos boas conquistas na constituinte que surgiu o monstro da lagoa, que foi denominado de Centrão.

Enganam-se os que pensam que tal anomalia parlamentar surgiu como um modo operandi de aglutinar e contemplar congressistas famintos por verbas de orçamento secreto no seio do parlamento brasileiro.

Não foi. Pelo contrário: surgiu porque a burguesia se reagrupou e deu corte na sua tática de concessão, criando um rolo compressor para esmagar outras prováveis conquistas como, por exemplo; na reforma agrária, reforma tributária taxando as grandes fortunas, reforma eleitoral, reforma sindical banindo o famigerado imposto sindical e a autonomia dos sindicatos em relação ao Estado e da Central Única dos Trabalhadores.

O movimento do deputado constituinte do PMDB de São Paulo, Roberto Cardoso Alves, o Robertão foi, portanto, um passo à frente da burguesia no tabuleiro da luta de classes e os votos em bloco não foram por emendas nem propinas; foram em defesa dos privilégios da classe dominante, que já havia pago suas eleições.

E como tudo que apodrece tende a virar carniça e feder, este putrefato Centrão de agora é muito mais ofensivo à vida do povo do que aquele criado por necessidade de preservação de classe por Robertão, e o tumor em forma de presidente da câmara dos deputados, precisa ser sajado para que não volte a ocupar uma cadeira no parlamento em 2023.

E isso é possível? Tanto é possível, quanto necessário para deter Artur Lira a partir de uma grande campanha em Alagoas, para que ele não seja reeleito. Artur Lira é no momento a maior ameaça à democracia brasileira, bem maior que Bolsonaro, Heleno, Villas Boas e Nunes Marques.

Há uma necessidade urgente de grande solidariedade ao deputado Glauber Braga e à deputada Gleise Hoffman ameaçados de terem seus mandatos cassados por discordarem de Lira no plenário da câmara.

A resposta para o momento é construir uma frente parlamentar de esquerda para se revezarem na tribuna da câmara dos deputados, diariamente, para falarem com os eleitores dos municípios onde ele teve votos em 2018 e explicarem os porquês de não votarem mais nele, elencando os crimes cometidos contra a Petrobras, o emprego e a economia do estado de Alagoas. 

É preciso fazer um levantamento do mapa de votação dele e, basta que a cada sessão três ou quatro deputados se revezem e discursem para suas bases eleitorais específicas, numa verdadeira maratona em defesa da democracia e soberania do Brasil

[*] É sindicalista aposentado e militante político.

 

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