Aparte
Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Francisco Gualberto sonha com a Câmara Federal e admite que pode deixar o PT
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Francisco Gualberto: mirando Brasília em 2022

O deputado estadual Francisco Gualberto, PT, que está no cumprimento do quinto mandato e é vice-presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, não esconde mais de ninguém que sonha com um espaço na Câmara Federal a ser obtido nas eleições de 2022.

Apesar de ser um petista orgânico, dos que levantam crachás com segurança e convicção em qualquer discussão que envolva esse partido, suas lideranças e seu espólio, Gualberto também não faz reserva diante da possibilidade de esta disputa do mandato de deputado federal ser por uma outra sigla. Ou seja, ele admite que pode deixar o PT.

“Estou, humildemente e desde já, construindo com alguns companheiros o projeto de disputar o mandato de deputado federal em 2022. Porque tem um ditado que diz que quem tem perna curta sai de casa mais cedo”, diz Gualberto, recorrendo às suas usuais figuras de linguagem de apelo popular.

“Como eu não tenho estrutura econômica, só terei chances com muitos amigos me ajudando na forma que nós sempre utilizamos até hoje na política, que é a de ser a política a mais responsável possível, sem querer desqualificar ninguém. Eu não tenho empresário algum me financiando, não tenho nenhum esquema financeiro próprio ou de terceiros que possa financiar uma campanha minha”, diz ele.

“Portanto, faço política com ajuda de quem milita comigo. Insistirei na minha antiga forma: a de um amigo que ajuda no interior, outro que ajuda na capital, um militante que pede o voto aqui e ali. Minha forma de fazer política é orgânica. Mas quero ser justo e devo dizer que nem todo mundo que vota em mim é da esquerda, ou é revolucionário. Não é isso. Mas tem companheiros com compromisso conosco para 2022 que estão juntos comigo há mais de 30 anos”, reitera.

Com relação ao espaço partidário por onde vai tentar viabilizar este sétimo mandato da vida política dele - teve um de vereador de Aracaju, em 2000 -, Francisco Gualberto admite que está aberto a novas relações - ele que passou pelo MDB na juventude, esteve no PSTU e obteve todas os mandatos pelo PT.

“Eu confesso que estou me sentindo distante do PT, porque não estou discutindo nada internamente no partido. Eu construí esse partido com muitos outros companheiros à base da discussão interna, de muita dedicação, muita militância. A realidade imposta ao partido por quem o dirige é o que me afasta. Não a história do PT, ou o PT em si”, diz ele a esta Coluna Aparte.

Meio cheio de dedos e de cuidados, Francisco Gualberto deixa vazar em suas falas sobre seu status partidário mais desconfortos em relação à sua condição petista. “Hoje eu me encontro numa situação que vou chamar de afastamento das discussões internas do partido”, diz.

“Hoje o partido tem situações espalhadas aí pelo interior das quais eu não quero chegar nem perto. Não me interessam. Uma coisa é você estar filiado e outra é você se sentir afastado do partido sem ter nada contra ele. Portanto, é muito difícil eu encontrar razões para, em cima de uma eleição, dizer: “Não, agora tudo mudou”. Porque só por oportunismo, se por ventura for mais fácil no PT, se for só por isso, eu não ficarei. Se for só para disputar mandato, não ficarei. Aí não satisfaria a mim”, diz.

Francisco Gualberto, que na sucessão de Aracaju preferiu  estar mais pelo lado de Edvaldo Nogueira do que de Marcio Macêdo, aprofunda-se um pouco mais filosoficamente nesse cisma com o PT. “Tem duas coisas que eu não faço. São duas condicionantes: nem fico na infelicidade, nem vou por onde perceba que se vai apoiar Bolsonaro. De modo que eu tenho que esperar um tempo para analisar melhor esse cenário”, diz ele.

“Primeiro: não fico em lugar nenhum só para ter ascensão. Jamais. Tem que ter essa busca por ascensão, sim, que é o que todos que fazem política buscam - um espaço para se apresentar e existir -, mas tem que ter também alguma contemplação mais objetiva de você querer, de você não ser desrespeitado, de se sentir acolhido. Tem que ter alguma lógica da vida. A vida não é só uma máquina política. Não fico e nem irei para lugar nenhum no qual eu me sinta violentado”, reitera.

“Segundo: não irei para lugar nenhum que apoie Jair Bolsonaro. Se o cabra me der um diploma assinado pelo Congresso Nacional, o terno e a gravata da posse, me dizendo: “Estão aqui, mas nós vamos apoiar Bolsonaro”. Eu lhe direi: “Hei, procure outra pessoa aí para dar este diploma, porque eu não quero”, diz.

Nada disso, pondera Francisco Gualberto, significa um bota-fora em relação ao PT. Metido a cartesiano nessas contabilidades de fundo eleitoral, ele prefere prudência e hora certa. “Está cedo para a gente discutir esta questão de partido tecnicamente. Com essa legislação eleitoral, o que nós vimos agora em 2022 foram complicações como a dos quatro vereadores do PSD de Aracaju terem muito mais votos do que os de outros partidos, mas só eleger dois”, lembra ele.

“Essa legislação demonstrou, a depender do partido em que ele esteja e de como esteja relação ao coeficiente com o partido, quem se elege é quem tem menos votos. Por exemplo, o PSD tem quatro deputados estaduais na Alese hoje. Na eleição de 2022 não reelege os quatro. Tem gente que nem vai pro PSD porque já tem quatro lá”, diz.

“Então o cara vai querer um partido pequeno, no qual ele monte uma chapa e a sobra seja maior do que a votação de um dos quatro bem votados do PSD. Isso é uma questão técnica. Tecnicamente, a de 2022 será uma eleição que vai requerer muita análise na decisão de pra onde se vai. Quem errar nesse pra onde vai, errará automaticamente no resultado. Não tem jeito, e será afetado”, diz.

Nascido em São Cristóvão no dia 23 de maio de 1956 - portanto há 64 anos -, Francisco Gualberto da Rocha fica órfão aos sete anos. Foi operário, sindicalista e costuma brincar seriamente que, por falta de 450 votos a mais, ele não é um defunto desde o dia 27 de janeiro de 2003.

Explica-se essa contabilidade macabra dele: esta foi a quantia de votos que lhe faltou para ter ultrapassado o candidato Joaldo Barbosa, ter sido eleito deputado estadual em 2002 e ter sido assinado pelo primeiro suplente Antônio Francisco Sobral Garcez para tomar-lhe o lugar, como acontecera com Joaldo Barbosa.

Joaldo Barbosa foi eleito com 11.626 votos. Gualberto tivera 11.117 - 449 a menos, daí os seus 450 da conta, que o deixaria com um a mais e entraria como eleito - e Antônio Francisco Sobral Garcez obteve 11.513. Ou seja, 113 votos atrás de Joaldo. Insatisfeito, articulou-se com o filho Antônio Francisco Sobral Garcez Júnior, mais uma ruma de bandidos e pistoleiros e mataram Joaldo em casa.  

 

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José Aureliano de Acioli
Deputado Gualberto,já ia tranferir meu titulo pra PE,meu estado de origem,mas depois de ler essa matéria,continuo sendo Sergipano,com muito orgulho!Já disse pra Jefferson,meu Irmão,conte comigo.Abraço.
Dalton Francisco dos Dantos
Cuspir no prato que comeu é normal para os oportunistas.