Aparte
Opinião - Neuzice Barreto de Lima: educação e superação em Sergipe

[*] Igor Salmeron

É bem verdade que um dos nossos maiores defeitos como sergipanos é desconhecer a nossa própria história. Durante esse tempo de sinuosa pandemia, a área educacional teve que passar por diversas adaptações e ao pesquisar alguns ícones que marcaram tal ambiência no cenário de Sergipe, não poderia deixar de trazer o exemplo da professora Neuzice Barreto.

Nascida num dia 4 de abril do ano 1915, em Siriri, foi uma mulher aguerrida que superou inúmeros obstáculos ao longo da inspiradora existência.

A sua trajetória de vida nos desvelam reflexões que se mostram ainda bem atuais, principalmente pelos valores de firme coragem.

Mulher pobre, mãe dedicada que teve que se virar para criar sua prole numerosa, sempre se destacou pelas características de liderança e de altruísmo tanto com a família quanto com a comunidade.

Casou com Etelvino Alves de Lima quando esteve lecionando no então povoado de Divina Pastora, em Santa Rosa de Lima. Foi transferida para Aracaju na década de 1940, onde ensinou nos Colégios Estaduais Manoel Luiz e Augusto Ferraz.

Além desses, foi também professora na Escola Comendador Calazans, em Santa Luzia do Itanhi. Trabalhou por 36 anos e se aposentou. A genitora do ex-governador Jackson Barreto continua sendo mulher exemplar no quesito fé e tenacidade.

Professora das mais dedicadas, se doou de corpo e alma em prol da juventude que estudava nas escolas públicas de periferia.

A memória do seu legado deve permanecer resgatada, pois foi responsável pela formação de inúmeras gerações, acreditando nos ideais democráticos e deixando lição que vale aos tempos hodiernos: mesmo empobrecida, jamais deixou de lutar e acreditar em tempos melhores.

Neuzice Barreto, pela modelar trajetória, nos faz refletir que é preciso ensinar para ir além e ultrapassar as dificuldades para crescer. A destemida incentivadora germinou sementes que esculpem o tempo por meio da boa vontade e compromisso social.

Foram 73 vívidos anos de lutas e de glórias, dos quais os valores familiares eram cultivados com esmerada primazia. Neuzice se mostrou um genuíno símbolo da obstinação e da iniciativa. Apesar de ter estudado até o primário, esse fator nunca a privou de possuir ampla visão do mundo.

Era leitora voraz e sabia debater qualquer temática com sensata desenvoltura. Uma matriarca que influenciava, por exemplo, em algumas decisões tomadas pelo próprio Jackson Barreto, que enxergava na figura materna seu maior exemplo de vida.

Neuzice Barreto era e continua sendo querida por todo mundo. Não à toa, sabia que a boa educação é moeda de ouro, em toda parte tem valor.

Seu amor pela arte do ensino era tão grande que costumava passar a mão na cabeça dos alunos, os tratando como seus próprios filhos. De personalidade doce, tinha uma paciência que é bastante rarefeita de vermos hoje em dia.

O sorriso de Neuzice Barreto era outra das suas marcas registradas. Para quem precisava de uma palavra bondosa, tinha em Neuzice o mais afável porto seguro.

A educação não tem preço, mas sua falta tem custo. Ela que conseguiu educar seus filhos na base de muito sacrifício na condução de uma vida digna, nos espolia humildade que nunca se deixa ser cingida pela fugacidade do tempo.

Portanto, a professora Neuzice Barreto seguiu à risca a assertiva de que se a educação tem uma nobre tarefa, esta é a de justamente preparar as novas gerações.

Gerações estas que ainda bebem da fonte do seu infindável legado. Seu exemplo de superação reverbera e nos faz enxergar que a fé sempre revitaliza a certeza da vitória.

[*]  É sociólogo, pesquisador e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe.

 

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