Aparte
Opinião - Análise do evento de Lula com Rogério e seus desdobramentos

[*] André Luis Carvalho

A tão aguardada vinda de Lula, PT, a Sergipe conseguiu fortalecer o nome de Rogério Carvalho, PT, junto à parte significativa da militância de esquerda sergipana, mas seu crescimento nos demais segmentos dependerá de suas próprias ações.
O apoio indivisível de Lula é o capital político mais cobiçado num Estado como Sergipe, onde pesquisas apontam o ex-presidente com apoio de mais de 60% do eleitorado. Entretanto, não há transferência automática de votos entre os candidatos.

O público presente no evento era, sem dúvida, para Lula. A fala da representante do PSOL, Sônia Meire, exemplifica o cenário. Sônia frisou que o PSOL estará com as campanhas nas ruas para eleger Lula, sem caminhar ao lado do projeto local do PT.

Competindo com os gritos de apoio a Lula, ecoaram as vaias para Valadares Filho, PSB. Foi preciso esforço para tentar convencer os presentes de que, mesmo após os seguidos apoios ao projeto que retirou Dilma Rousseff, PT, do poder e elegeu Jair Bolsonaro, PL, é defensável que seja ele o escolhido para estampar uma foto ao lado de Lula como sua opção para o Senado.

O desconforto com a rejeição do pré-candidato ao Senado pelos presentes ficou explícito quando seu discurso precisou ser reforçado com a presença dos petistas Rogério Carvalho, Márcio Macedo, João Daniel e Eliane Aquino ao seu redor - fato que não se repetiu com nenhum outro orador. Mesmo com a tentativa, não foi possível silenciar os presentes.

Se por um lado Valadares não conseguiu um dia feliz, Rogério Carvalho conseguiu a tão aguardada declaração de Lula de que será o único candidato dele em Sergipe. Movimento que foi facilitado pela escolha dos governistas em construir uma campanha sem lado na eleição nacional.

Se antes havia motivos para que Lula pudesse se dividir entre dois palanques, hoje não há. Para que o eleitor de Lula também não se divida entre dois palanques, falta a escolha do candidato ao Senado do grupo governista.

A decisão do grupo governista pode reforçar a campanha do petista. Caso optem por um bolsonarista em vez de Jackson Barreto, MDB, os governistas entregam a Rogério o discurso de que ele seria o único alinhado com um governo Lula e o apoio de possíveis lideranças dissidentes.

O pouco número de prefeitos no evento chamou atenção. Nem todos os prefeitos petistas estavam presentes e, de outro partido, apenas o emedebista Marcos Santana pôde ser visto no palco. Num universo de 75 munícipios, isso pode simbolizar um grande desafio para o senador petista.

Caberá a Rogério Carvalho usar o capital político emprestado por Lula para resolver seu maior problema: o pouco apoio de lideranças. Para isso o petista precisará reproduzir um pouco da habilidade política de Déda na arte de construir alianças e não confundir aliado de luta que diverge pontualmente com inimigo.

Lula trouxe ao PT sergipano o ânimo que estava faltando para Rogério, mas agora o projeto deve buscar entender como atrair o eleitor sergipano. Rechaçado por petistas e não-petistas, ter Valadares, no pior momento de sua trajetória política, dividindo o protagonismo da campanha certamente não é um bom começo.

[*] É cientista político pela Universidade de Brasília.

 

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