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PRIMEIRA VIAGEM
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Poema Jozailto Lima / Ilustração Ronaldson

a willard lima rios


penso que não
via longe o tropel
da mula dele castanha.

cascos pra sempre
trincando sobre o lajedo.

marcha batida, distâncias
vencidas, destroçadas:
quanta potência
naquele motor animal.

e eu ouvia o pulsar do seu cheiro
- aquele olor paterno
forrado a ternura e zelo

em viagem abissal
de lonjura pertinha
que a infância espicha e delonga

- a casa do avô
logo ali na caatinga dos morrinhos,
doce oferenda de brenhas.

no cabeçote, ancho,
sob o fôlego paternal
e o calor da mula
o menino ia tragando horizontes
picotados no ir e vir
da marcha batida do animal.

Do livro “Viagem na Argila”,
edição do autor, gráfica J.Andrade,
Aracaju, Sergipe, 2012.

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Nilsara
Belíssimo.
Luiz Eduardo Oliva
Esse poema me remeteu a um texto de João Oliva em que ele faz a crítica do livro "Ária Suspensa" de Hunald Alencar ao destacar a poesia "Romance de Antôninho Ferreiro" em que ele diz do som da ferradura dos cascos do cavalo. No texto João Oliva lembra do tempo de menino perguntador diante de dois mestres ferreiros do Riachão: Seu Bernardo e Seu João Cândido. E lembrou a pergunta que fez a Seu Bernardo para que servia a ferradura de um cavalo. Seu Bernardo respondeu: "Presta para proteger os cascos do cavalo". "Só para isto?" perguntou o menino João. E seu Bernardo respondeu numa definição que me remeteu ao seu poema: "Também serve para dar o som às passadas ritimadas do animal, no calçamento, como se marcando a cadência de uma marcha executada pelo próprio montador". (João Oliva, in Mural de Impressões, 2013). Ao ler sua poesia "PRIMEIRA VIAGEM", vi a correlação dela com o texto do meu pai, sobretudo no trecho: "cascos pra sempre trincando sobre o lajedo. marcha batida, distâncias vencidas, destroçadas: quanta potência naquele motor animal. (...) o menino ia tragando horizontes picotados no ir e vir da marcha batida do animal". Três lugares e tempos distintos: os de João Oliva, os de Hunald Alencar e os de Jozailto Lima. E a poesia fazendo o elo dos três, três grandes poetas, aliás!
Rivando Gois
“…de lonjura pertinha que a infância espicha e delonga…” Além da beleza do ofício de nos encantar através da genialidade de versos simples, o bom poeta possui também o raro poder de teletransportar seus leitores para paraísos perdidos na vastidão de nossas doces lembranças… Parabéns amigo Jozailto! A “carona” foi tão agradável, que nem notei o sacolejar do caçuá…👍🏻✌🏻🙌🏻
Marinalva batista dos santos
Linda mensagem faz a gente viajar no fundo do tempo como se fosse uma criança
Léo Mittaraquis
Significativo, pelo menos à minha modesta capacidade de percepção, o ritmo melancolicamente ruidoso. O poeta, generoso, camarada, encontra lugar, no lombo da idealizada alimária, para o "amuntar" do leitor. O entorno em recortes, estes que permanecem no lembrar do homem feito. Mas que não expulsou da alma nem o mato e nem o menino☕🍷
Lêda Telles
Viagem inesquecível. Lembro meus avós, cheiro de sopa de feijão e pão quentinho. Cheiro de horizontes. Grata pelo poema que me levou a lembrar a casa dos meus avós e recordar os sonhos adormecidos. Muito bacana receber seus poemas domingueiros.
Vera Lúcia
Rica e profunda mensagem, de uma valiosa recordação.
Gideao
Parabéns
Jane Almeida
Grande inspiração! Parabéns Jozailton . Você é uma referência na área da Comunicação Sergipana
Marcia
Memórias afetivas! 👏🏻👏🏻
Telma
Infância e memória se entrelaçam nesses versos de beleza liberta em palavras exatas: coisa de grande poeta. Jozailto é desses. Abraço, cara!
Jucilene
Hounnn!!! Tantas lembranças vejo na frente de meus olhos. Lindo.
Netonio Machado
A beleza da sua construção poética, de lembranças marcantes, relatadas em sintéticas e relevantes narrativas me fizeram lembrar do tempo em que, criança, eu e meu pai galopavamos no mesmo animal extenuado que, consciente do seu mister, nos levava até a fazenda que era, para mim, a expressão natural da liberdade e do encanto da minha vida de garoto. Parabéns meu amigo Josailton.
Salete Nasvimento
Poema muito bomA ilustração fantástica! Parabéns!
Adenilta
Você é genial. Por isso que ti chamo de meu amado ÍDOLO
F. Altamiro Brasil
Você conta a história de muitos Belissimo
Pedro Paulo de Oliveira
Poema do meu interior.