Aparte
Opinião - O futebol e o caráter dos homens

[*] Rômulo Rodrigues

Diante da crescente elevação da crise política no Brasil com as revelações alarmantes na CPI da Covid-19 no senado e a total subordinação das forças armadas a um ex-capitão expulso do exército e metido, com a família, em um mar de lama capaz de soterrar 10 lava jato; explícita na aposta de uma carta sem valor como Eduardo Pazzuelo, a desonra chega onde faltava chegar; o futebol.

Como a essência do governo Bolsonaro é apostar em crise permanente, a bola da vez é a seleção principal do País, desafiada pelo desnecessário episódio da afronta em aceitar realizar a copa américa por aqui.

O presidente Jair Bolsonaro, ciente e assustado com sua sombra magra da rejeição, apelou para um nicho onde muita gente nasce pobre, vive pobre até o limite da idade juvenil e vai ficando rico e, na medida em que a riqueza vai tomando conta dele, vira as costas para a origem e absorve as ideias dos que massacram os pobres, com ele já foi.

É angustiante sentir que enquanto a Pátria chora por quase meio milhão de pessoas mortas, os jogadores e o técnico Tite sucumbem vergonhosamente frente a um personagem bizarro, rasteiro, picareta capaz das maiores mentiras e atrocidades  para continuar seu show de maltratar o povo, por puro sadismo.

O técnico Tite tem idade para saber quem foi o jornalista João Saldanha e qual a sua atitude frente ao ditador mais sanguinário da ditadura militar de 1964 a 1985, o general Médici.

Jogadores como Neymar, Casemiro, Gabriel Jesus, Thiago Silva, Marquinho, Roberto Firmino têm a obrigação de honrar as nobrezas de caráter de Afonsinho, Falcão, Sócrates, Casa grande, Wladimir, Biro Biro, Juninho Pernambucano, Raí, Roberto Carlos e o Rei, Reinaldo que jamais deixaram que as camisas que vestiram com muita dignidade servissem como símbolo de exaltação ao fascismo.

O manifesto divulgado para tentar encobrir suas covardias, estaria de bom tamanho se tivesse sido escrito em papel higiênico e carimbado com suas mãos apontando arminhas.

Sucumbiram vergonhosamente ao bolsonarismo e se engasgaram com desculpas esfarrapadas e se submeteram à copa do negacionismo que mata mais que terremoto, queda de avião e virada de trem.

Ao publicarem um manifesto que não denuncia quase meio milhão de vidas perdidas, o escândalo da corrupção no recebimento de propina para propagandear a cloroquina e a suspeita de extermínio de populações com o objetivo de despovoar a Amazônia, os milionários egressos das camadas pobres do Brasil, chegam a se confundir como coadjuvantes de um genocídio.

Quantos deles, por hoje e pela ancestralidade, poderiam ser cidadãos de verdade se tivessem pesquisado sobre Benedito Caravelas que viveu até 1885, cuja alcunha era Benedito Meia-Légua, que com sua estratégia de organizar homens escravizados, antes da abolição, deu origem ao que muitos dizem sem saber a origem: “Será o Benedito”?

Como ficam os estômagos ao capitularem e receberem o desprezo de Bolsonaro ridicularizando os brasileiros após ultrapassar 480 mil mortes: “O milagre para termos poucos óbitos é o remédio de malária e o de piolho”.

Aos poucos vão sendo abandonados por grandes marcas de patrocinadores e ficam em tremenda saia justa com a pesquisa EXAME\ Ideia mostrando que 61% desaprovam a realização da copa e apenas 24% aprovam.

Deveriam se envergonhar de representarem uma CBF que dos últimos quatro presidentes o primeiro foi mandado embora da FIFA por corrupção, o segundo ficou cinco anos preso nos Estados Unidos, o terceiro é procurado pela Interpol e o quarto está afastado por assédio moral e sexual. 

Ou que, convivendo na nata do mundo capitalista do futebol globalizado, tem obrigação de saber o que disse Simon Bolívar: “Maldito é o soldado que aponta a arma para seu povo”.

Optaram por fazer muito mais do que apontar armas; encheram os peitos e disseram: “Somos apolíticos de direita”.

[*] É sindicalista aposentado e militante político.

 

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