
Poema Jozailto Lima/Ilustração Ronaldson
em relação à china e ao japão,
moro longe.
até em relação aos vãos
de mim mesmo,
meu país mais distante e bem mais complexo.
moro longe.
acesso ventos
cuja origem eu não sei
nem como se formam,
e me briso.
falo português que,
frente ao paquistão, deixa-me sempre longe.
mas creio
que os códigos do vão de mim mesmo
sejam iguais
aos de um paquistanês:
sentimos fome e frio,
amor e ódio.
temos uma vontade atávica
de espargir gafanhotos
sobre as plantações
e de tirar
do seu centro o centro da natureza.
moramos longe.
e nem mesmo a saudade
[que não sei e nem
se sabe onde se planta]
encurta a distância
entre o que sou nas areias
do raso da catarina e o que alguém
venha a ser numa montanha de hebron.
e na minha fala portuguesa
pode ser que
ninguém jamais me entenda,
como não entendo
aquele aceno de flor a olhos miúdos em mandarim.
(Do livro “Ainda os lobos”, editora Patuá, São Paulo, 2016).