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Jozailto Lima

É jornalista há 40 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração / Tatianne Melo.

Déborah Pimentel: “É importante falar sobre suicídio”
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Médica psicanalista Déborah Pimentel é fundadora do movimento Setembro Amarelo em Sergipe

* Excepcionalmente por Tatianne Melo

Por anos a fio, tocar na temática suicídio em redações jornalísticas era algo mais que proibido. Era um tabu. Mas, aos poucos, essa cultura do silêncio vai se rompendo. E, hoje em dia, ganha espaço na mídia, pois, de forma contextualizada, responsável e educativa, precisa-se sim falar deste assunto.

A necessidade de se falar sobre o suicídio se aflora mais ainda neste mês dedicado ao tema, o Setembro Amarelo – movimento que busca prevenir e reduzir números tristes de suicídio, por meio do diálogo e reflexões para a sociedade.

“É importante falar sobre o suicídio, até porque é uma forma de alertarmos e motivarmos as pessoas que passam por algum momento depressivo, no sentido de buscarem ajuda, principalmente de um psiquiatra. Mas é claro que os psicólogos, psicoterapeutas são importantes também. Qualquer que seja o método de ajuda é importantíssimo”, destaca a médica psicanalista, professora e escritora Déborah Pimentel - uma das profissionais de saúde mais respeitadas do Estado, na área do drama psíquico da pessoa humana, e fundadora do movimento Setembro Amarelo em Sergipe.

“O Setembro Amarelo serve para chamarmos mais ainda atenção da população sobre a importância de ficarmos atentos aos nossos familiares, aos nossos amigos. A gente tem que entender que um histórico pessoal é muito importante sim”, ressalta a médica.

Déborah alerta para a importância das pessoas ficaram atentas aos sinais que os propensos suicidas dão. “Pensamentos que, às vezes, não estão declarado: “Ah, eu desejaria não ter nascido...” Ou recados indiretos: “caso eu não veja mais você de novo, feliz qualquer coisa...” Ou: “eu preferia estar morto...”. Esses recadinhos não deixam de dar sinais que são planos de ação para um suicídio”, relata.

A médica explica que a ideação de praticar, a tentativa do suicídio é uma emergência médica. Nessas situações, é necessário internar o paciente, monitorá-lo 24 horas por dia. “Ele precisa de uma medicação para que reduza o seu nível de mal-estar, sofrimento psíquico, para que, assim, mude sua angústia. E até para que ele possa falar sobre isso, porque o sujeito que está angustiado, a tal ponto de ter ideação suicida, às vezes, não quer nem falar”, diz.

A psicanalista chama a atenção para os números assustadores de suicídios. No Brasil, são registrados cerca de 12 mil todos os anos e mais de um milhão no mundo. “Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos estavam relacionados aos transtornos mentais. Em primeiro lugar, está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias”, explica.

Outro realidade que chama a atenção é que os homens obtêm mais êxito quando tentam suicídio, por isso, o índice de mortes por meio desta prática é maior entre eles. Contudo, são as mulheres que tentam mais. “Eles usam meios mais eficazes, como arma de fogo, saltam de um prédio, etc. Não é que eles tentem mais. Já historicamente e estatisticamente, o número maior de depressão é entre as mulheres”, informa Déborah.

Sob todo este contexto, surgiu a pandemia da Covid-19 e a consequente quarentena, elevando ainda mais o quadro de suicídios, uma vez que pessoas sofreram agressiva e abrupta violência psicológica. Contudo, a médica psicanalista explica que esta situação vivida pela população mundial não pode ser configurada como um estopim para a prática do suicídio e sim um fator potencializador para quem já tem transtornos mentais.

“A pandemia e a quarentena é um elemento agravante. Porque o sujeito, nesse período, está mais isolado, está, às vezes, longe do convívio de familiares, de amigos. Esse isolamento por si só já é um elemento estressor que favorece a depressão. Basta ficar confinado em casa que os fantasmas aparecem com força e tira o sujeito do seu equilíbrio psíquico”, informa a médica. Portanto, mais do que nunca, é necessário cuidar, prestar mais atenção nos sinais, situação emocional, de quem está ao nosso lado, em nosso convívio social.

 

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