Agricultores familiares da Coobec constroem uma nova história no Carrilho
TRANSFORMAR A REALIDADE
Segundo a presidente da Coobec, Maria Cristina da Silva, a ideia é favorecer as famílias envolvidas na atividade de beneficiamento da castanha, prática que existe no povoado Carrilho há mais de 50 anos. Para isso, buscou-se a infraestrutura, o maquinário e as condições adequadas de trabalho, além de um planejamento de gestão para conquistar o mercado.
“Modificar a realidade da comunidade do Carrilho, mantendo a tradição e oferecendo uma nova perspectiva de negócios para as famílias que têm na castanha a sua principal fonte de renda, era um sonho. Um projeto que antecedeu à própria fundação da Coobec. Foram muitas discussões, muito trabalho, muita luta, mas valeu a pena”, comemora Cristina Silva, uma geógrafa determinada que está na Cooperativa desde a fundação e contribuiu sobremaneira para botar o pequeno e ativo Carrilho no mapa do mundo das iguarias derivadas do cajueiro.
“O que estamos vivendo hoje é um sonho que conseguimos transformar em realidade. Uma conquista que mudou não só a nossa vida, mas a economia do próprio povoado Carrilho”, destaca a presidente da Coobec.
Cristina abriu mão da estabilidade de um emprego público municipal para se dedicar apenas à Cooperativa. O que a motivou? “A possibilidade de realizar um projeto coletivo que influencia não só a minha história, mas a de muitas pessoas da comunidade”, define emocionada esta jovem de 40 anos, mãe de dois filhos e esposa de José Ramalho, também cooperado da Coobec.
Genilson Santos de Jesus, 51 anos, e Gilda Teles de Menezes, 50, veem no ofício que exercem não só o sustento da família, mas a manutenção de uma tradição local: o beneficiamento da castanha de caju.
“É um aprendizado que passa de pai para filho. Queremos preservar a história das castanhas do Carrilho e garantir nosso sustento trabalhando em condições adequadas. É o que conquistamos aqui”, avalia Genilson.
“Nossa vida mudou para melhor. Hoje, vivemos bem", garante Gilda. Genilson e Gilda têm a companhia no trabalho de dois dos seus seis filhos: José Denilson Menezes Santos, 26, e Leonardo Menezes Santos, 19.
Ambos aprenderam a quebrar castanhas com os pais. Também querem repassar o aprendizado aos filhos, mas buscam oferecer-lhes algo mais: o acesso à boa Educação.
“Vou passar para os meus filhos os ensinamentos que recebemos e quero que trabalhem com a castanha. Mas espero que estejam um passo à frente de mim, e isso só com estudo”, acredita Denilson.
Todas essas possibilidades presentes e futuras dos Menezes se transformaram em projetos desde o momento em que se organizaram e, juntamente com mais 29 famílias de pequenos agricultores, fundaram a Cooperativa dos Beneficiadores de Castanha do Povoado Carrilho - Coobec -, em Itabaiana, no agreste sergipano.
Criada em maio de 2013, a Coobec resulta de um projeto social do Instituto Votorantim e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES -, dentro do Programa ReDes –, e teve à época um aporte financeiro de R$ 1.050 milhão.
A iniciativa contou com a parceria do Instituto de Socioeconomia Solidária - ISES - e o apoio da Prefeitura Municipal de Itabaiana, do Governo do Estado e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae. Contou, sobretudo, com a expertise do povo itabaianense, um dos mais inventivos de Sergipe.
SONHO QUE SE SONHA JUNTO...
Todas essas conquistas são comemoradas, mas os produtores familiares querem muito mais. “Creio que estamos no caminho certo. O que sabemos é beneficiar castanha, então, só faltava essa organização para expandir. Meu sonho é servir de exemplo para aqueles que ainda não integram a Cooperativa, abrir caminhos, mostrar que pode dar certo”, ressalta Cristina Silva.
O “abrir caminhos” sonhado por Cristina tem como objetivo oferecer uma melhor qualidade de vida a todas as famílias do povoado Carrilho envolvidas no beneficiamento da castanha no fundo dos quintais. O projeto já está desenhado: levar aos agricultores familiares a expertise adquirida pelos cooperados, estruturar as “casinhas”, proporcionar melhores condições de trabalho e qualidade de vida aos pequenos produtores.
Pela experiência que a equipe do JLPolítica vivenciou na Coobec e pela determinação da sua presidente, esse é mais um sonho com possibilidades concretas de se transformar em realidade. E não foi por outro caminho, senão por esse sonho, que as castanhas do Carrilho ganharam o mundo, mudaram vidas e emprestaram ao pequeno Estado de Sergipe o status de um Estado novidadeiro. E empreendedor.
ROMPENDO BARREIRAS E FRONTEIRAS
Quando as Castanhas do Carrilho entram em cena os números são realmente animadores: mensalmente, são processadas 200 sacas da amêndoa in natura, que representam 10 mil quilos de castanhas para comercialização.
Como a extensão de Sergipe não permite o grande cultivo dos cajueiros, as frutas são trazidas da Bahia, do Piauí, do Rio Grande do Norte, do Ceará e do Maranhão. A Cooperativa tem um faturamento mensal de cerca de R$ 70 mil - em meses de pico, chega a R$ 100 mil.
Os produtos estão em supermercados da região, como a rede Peixoto. Em Aracaju, a parceria comercial inclui a Casa Alemã e o Sabor da Casa. Também é possível encontrar as Castanhas do Carrilho em toda a rede GBarbosa, em Sergipe, em Alagoas e na Bahia.
Quer mais? As Castanhas do Carrilho já conquistaram o mercado nacional. O grupo Pão de Açúcar oferece o produto nas 72 lojas da rede em todo o país. Pensa que acabou? Nada: em 2017, as Castanhas de Carrilho estiveram entre os seis produtos escolhidos para representar o Brasil numa feira gastronômica na França. E, semana passada, a Cooperativa recebeu a visita de um representante comercial da China. Novos e bons negócios podem vir por aí.
QUALIDADE DE VIDA
Mas quando a castanha vira um produto da Coobec, a realidade é outra – totalmente diferenciada. As famílias estão diretamente envolvidas em todo o processo. Na Cooperativa existe uma minifábrica com o equipamento necessário às etapas de produção. As condições de trabalho foram melhoradas e trouxeram qualidade de vida aos produtores.
Houve capacitações em gestão e planejamento estratégico para o funcionamento da produção e o relacionamento com fornecedores e clientes. A Coobec oferece, hoje, não só a castanha natural, mas uma adocicada, outra salgada e uma apimentada. A apresentação dos produtos se adaptou às exigências do mercado, ganhou embalagem personalizada com tabela nutricional e selo de inspeção federal. Coisa de gente grande.
A Cooperativa tem canal online direcionado à divulgação dos produtos, www.castanhasdocarrilho.com.br, e comercialização por internet – comercial@castanhasdocarrilho.com.br. Também está nas mídias sociais: facebock.com/Cooperativa De Castanha Do Carrilho e @cooperativadecastanhas.
AS “CASINHAS”
Segundo a representante da Cooperativa, a maioria das famílias do povoado Carrilho depende da cultura da castanha - hoje são cerca de mil moradores no bucólico povoado a menos de três quilômetros do centro de Itabaiana. Um quase bairro da cidade, olhando a serra em frente e quase às margens da BR-235.
Mas, apesar da Coobec, grande parte do beneficiamento da produção de castanha ainda é feita nas chamadas “casinhas”, espaço destinado ao preparo das castanhas nas próprias residências das famílias.
É lá onde as castanhas, a maioria vinda da Bahia, Piauí e Ceará, são assadas. Depois, o produto é quebrado manualmente, retirada uma película natural que traz, selecionado em tamanho e preparado para a venda.
As condições de trabalho nas “casinhas” são pouco seguras, e os agricultores não são os beneficiados finais na comercialização da castanha – geralmente entra em cena o papel do atravessador, diminuindo a margem de lucro desse beneficiador.