Politica & Negócios
Maria Tereza Andrade

É jornalista graduada desde 1995 e tem experiência em veículos de mídia em Sergipe e no Brasil.

Bons Negócios: Castanhas do Carrilho ganham o mundo e mudam vidas
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Agricultores familiares da Coobec constroem uma nova história no Carrilho

TRANSFORMAR A REALIDADE

Segundo a presidente da Coobec, Maria Cristina da Silva, a ideia é favorecer as famílias envolvidas na atividade de beneficiamento da castanha, prática que existe no povoado Carrilho há mais de 50 anos. Para isso, buscou-se a infraestrutura, o maquinário e as condições adequadas de trabalho, além de um planejamento de gestão para conquistar o mercado.  

“Modificar a realidade da comunidade do Carrilho, mantendo a tradição e oferecendo uma nova perspectiva de negócios para as famílias que têm na castanha a sua principal fonte de renda, era um sonho. Um projeto que antecedeu à própria fundação da Coobec. Foram muitas discussões, muito trabalho, muita luta, mas valeu a pena”, comemora Cristina Silva, uma geógrafa determinada que está na Cooperativa desde a fundação e contribuiu sobremaneira para botar o pequeno e ativo Carrilho no mapa do mundo das iguarias derivadas do cajueiro.

“O que estamos vivendo hoje é um sonho que conseguimos transformar em realidade. Uma conquista que mudou não só a nossa vida, mas a economia do próprio povoado Carrilho”, destaca a presidente da Coobec.

Cristina abriu mão da estabilidade de um emprego público municipal para se dedicar apenas à Cooperativa. O que a motivou? “A possibilidade de realizar um projeto coletivo que influencia não só a minha história, mas a de muitas pessoas da comunidade”, define emocionada esta jovem de 40 anos, mãe de dois filhos e esposa de José Ramalho, também cooperado da Coobec.

Maria Cristina da Silva, presidente da Coobec: servir de exemplo, abrir caminhos

Genilson Santos de Jesus, 51 anos, e Gilda Teles de Menezes, 50, veem no ofício que exercem não só o sustento da família, mas a manutenção de uma tradição local: o beneficiamento da castanha de caju. 

“É um aprendizado que passa de pai para filho. Queremos preservar a história das castanhas do Carrilho e garantir nosso sustento trabalhando em condições adequadas. É o que conquistamos aqui”, avalia Genilson.

“Nossa vida mudou para melhor. Hoje, vivemos bem", garante Gilda. Genilson e Gilda têm a companhia no trabalho de dois dos seus seis filhos: José Denilson Menezes Santos, 26, e Leonardo Menezes Santos, 19.

Ambos aprenderam a quebrar castanhas com os pais. Também querem repassar o aprendizado aos filhos, mas buscam oferecer-lhes algo mais: o acesso à boa Educação.

“Vou passar para os meus filhos os ensinamentos que recebemos e quero que trabalhem com a castanha. Mas espero que estejam um passo à frente de mim, e isso só com estudo”, acredita Denilson. 

Todas essas possibilidades presentes e futuras dos Menezes se transformaram em projetos desde o momento em que se organizaram e, juntamente com mais 29 famílias de pequenos agricultores, fundaram a Cooperativa dos Beneficiadores de Castanha do Povoado Carrilho - Coobec -, em Itabaiana, no agreste sergipano.

Criada em maio de 2013, a Coobec resulta de um projeto social do Instituto Votorantim e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES -, dentro do Programa ReDes –, e teve à época um aporte financeiro de R$ 1.050 milhão.

A iniciativa contou com a parceria do Instituto de Socioeconomia Solidária - ISES - e o apoio da Prefeitura Municipal de Itabaiana, do Governo do Estado e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - Sebrae. Contou, sobretudo, com a expertise do povo itabaianense, um dos mais inventivos de Sergipe.

Família Menezes: possibilidades que se transformam em projetos

SONHO QUE SE SONHA JUNTO... 

Todas essas conquistas são comemoradas, mas os produtores familiares querem muito mais. “Creio que estamos no caminho certo. O que sabemos é beneficiar castanha, então, só faltava essa organização para expandir. Meu sonho é servir de exemplo para aqueles que ainda não integram a Cooperativa, abrir caminhos, mostrar que pode dar certo”, ressalta Cristina Silva.

O “abrir caminhos” sonhado por Cristina tem como objetivo oferecer uma melhor qualidade de vida a todas as famílias do povoado Carrilho envolvidas no beneficiamento da castanha no fundo dos quintais. O projeto já está desenhado: levar aos agricultores familiares a expertise adquirida pelos cooperados, estruturar as “casinhas”, proporcionar melhores condições de trabalho e qualidade de vida aos pequenos produtores.

Pela experiência que a equipe do JLPolítica vivenciou na Coobec e pela determinação da sua presidente, esse é mais um sonho com possibilidades concretas de se transformar em realidade. E não foi por outro caminho, senão por esse sonho, que as castanhas do Carrilho ganharam o mundo, mudaram vidas e emprestaram ao pequeno Estado de Sergipe o status de um Estado novidadeiro. E empreendedor. 

Equipe do JLPolítica agradece a recepção e a oportunidade de compartilhar esta experiência

ROMPENDO BARREIRAS E FRONTEIRAS

Quando as Castanhas do Carrilho entram em cena os números são realmente animadores: mensalmente, são processadas 200 sacas da amêndoa in natura, que representam 10 mil quilos de castanhas para comercialização.

Como a extensão de Sergipe não permite o grande cultivo dos cajueiros, as frutas são trazidas da Bahia, do Piauí, do Rio Grande do Norte, do Ceará e do Maranhão. A Cooperativa tem um faturamento mensal de cerca de R$ 70 mil - em meses de pico, chega a R$ 100 mil.

Os produtos estão em supermercados da região, como a rede Peixoto. Em Aracaju, a parceria comercial inclui a Casa Alemã e o Sabor da Casa. Também é possível encontrar as Castanhas do Carrilho em toda a rede GBarbosa, em Sergipe, em Alagoas e na Bahia.

Quer mais? As Castanhas do Carrilho já conquistaram o mercado nacional. O grupo Pão de Açúcar oferece o produto nas 72 lojas da rede em todo o país. Pensa que acabou? Nada: em 2017, as Castanhas de Carrilho estiveram entre os seis produtos escolhidos para representar o Brasil numa feira gastronômica na França. E, semana passada, a Cooperativa recebeu a visita de um representante comercial da China. Novos e bons negócios podem vir por aí.

Capacitações fazem parte do planejamento estratégico da Coobec

QUALIDADE DE VIDA

Mas quando a castanha vira um produto da Coobec, a realidade é outra – totalmente diferenciada. As famílias estão diretamente envolvidas em todo o processo. Na Cooperativa existe uma minifábrica com o equipamento necessário às etapas de produção. As condições de trabalho foram melhoradas e trouxeram qualidade de vida aos produtores.

Houve capacitações em gestão e planejamento estratégico para o funcionamento da produção e o relacionamento com fornecedores e clientes. A Coobec oferece, hoje, não só a castanha natural, mas uma adocicada, outra salgada e uma apimentada. A apresentação dos produtos se adaptou às exigências do mercado, ganhou embalagem personalizada com tabela nutricional e selo de inspeção federal. Coisa de gente grande.

A Cooperativa tem canal online direcionado à divulgação dos produtos, www.castanhasdocarrilho.com.br, e comercialização por internet – comercial@castanhasdocarrilho.com.br. Também está nas mídias sociais: facebock.com/Cooperativa De Castanha Do Carrilho e @cooperativadecastanhas.

Mensalmente, são processadas 200 sacas da amêndoa in natura

AS “CASINHAS”

Segundo a representante da Cooperativa, a maioria das famílias do povoado Carrilho depende da cultura da castanha - hoje são cerca de mil moradores no bucólico povoado a menos de três quilômetros do centro de Itabaiana. Um quase bairro da cidade, olhando a serra em frente e quase às margens da BR-235.

Mas, apesar da Coobec, grande parte do beneficiamento da produção de castanha ainda é feita nas chamadas “casinhas”, espaço destinado ao preparo das castanhas nas próprias residências das famílias.

É lá onde as castanhas, a maioria vinda da Bahia, Piauí e Ceará, são assadas. Depois, o produto é quebrado manualmente, retirada uma película natural que traz, selecionado em tamanho e preparado para a venda.

As condições de trabalho nas “casinhas” são pouco seguras, e os agricultores não são os beneficiados finais na comercialização da castanha – geralmente entra em cena o papel do atravessador, diminuindo a margem de lucro desse beneficiador.

Apresentação dos produtos se adaptou às exigências do mercado e ganhou embalagem personalizada
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