Ângelo  Antoniolli: “A UFS não paga preço alto por esta crise”

Entrevista

Jozailto Lima

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Ângelo Antoniolli: “A UFS não paga preço alto por esta crise”

Publicado em 17 de março de  2018, 20:00h

“Sergipe seria muito menos próspero não fosse a UFS”

Um entusiasta que não perde a estribeira. Do tipo que não se deixa vencer por crise, e agarra-se à crença e à convicção de que o espaço que ele dirige é vital para a vida de Sergipe, tem um curto passando fantástico, um futuro mais promissor ainda e cujo destino não deve ser decidido só por ele e por seus pares, e sim por todos os 2,3 milhões de sergipanos. Por ser um patrimônio da sergipanidade. 

Esse cara é Ângelo Roberto Antoniolli, 60 anos, e o espaço que ele dirige é a Universidade Federal de Sergipe - UFS -, que está comemorando 50 anos de existência, dos quais 25 anos se passaram com a presença dele. Ângelo Antoniolli, com seu modão de homem do interior paulista, entre expansivo e tímido, está reitor da UFS há cinco anos - no primeiro de um segundo mandato.

Ângelo Antoniolli é do tipo que brilha os olhos quando o assunto é UFS. Mata e morre por ela, com quem tem um caso de amor escolhido e deliberado. Sabe o peso dela e aposta fundo no futuro que essa instituição tem. “Sergipe seria um Estado muito menos próspero não fosse a UFS. Não tenho dúvida sobre isso”, diz ele.

“Basta olhar para a sociedade sergipana, para os dirigentes, para as suas origens, e ver o papel que a UFS teve na formação de políticos, de gestores, de cada cidadão, de tudo o mais. O curso de Medicina, pouco tempo atrás, era só na UFS. Nós formávamos todos os médicos desse Estado. De quem é a obrigação de formar professores? Todos nós entendemos que a Educação é importante, mas poucos apostam na formação de professores. A UFS não”, diz ele.

Segundo Ângelo Antoniolli, a crise que roeu os ossos do Brasil de 2014 para cá, não roeu os da UFS. E não lhe paralisou o ânimo, os investimentos, as projeções rumo ao futuro. Houve apenas uma breve e programada diminuição nos ritmo das ações. “Sem dúvida nenhuma exigiu muita dedicação, muita discussão e uma clara percepção dos caminhos a seguir para enfrentar a crise. E as universidades que não fizeram isso estão pagando um preço muito caro”, diz ele.

Mas para Ângelo, a UFS não “paga” esse muito caro. “Nós terminamos todas as obras. São inúmeras. Realizamos todas as obras do Campus de Lagarto. Estou hoje para receber o Centro de Simulações e Práticas, uma obra de R$ 25 milhões”, diz. Entrega em 2019 uma Maternidade no Hospital Universitário.

“Estou finalizando a Didática VII, onde vai acomodar todos os problemas de pós-graduação, de mestrado, de doutorado, onde vão ser acomodados os observatórios sociais para todas as áreas de conhecimento - uma obra de mais de R$ 120 milhões. Esperamos nesses observatórios integrar os debates para o fortalecimento das políticas públicas de Sergipe”, reforça.

Com campus em São Cristóvão, Lagarto, Itabaiana, Laranjeiras e Glória, a UFS é de fato uma máquina portentosa que não consegue passar desapercebida no corpo social, físico, educacional e político de Sergipe. Ela flana sobre um orçamento se R$ 640 milhões anual - só é menor que o do próprio Estado e o da Prefeitura de Aracaju -, e tem quase cinco mil servidores, 1.600 professores - entre os quais, 1,100 doutores -, cerca de 33 mil alunos e mais de 100 opções de cursos, entre graduações, mestrados e doutorados.

Para ser e existir com essa dimensão toda, a UFS convive naturalmente com dificuldades. Mas seu reitor não se acanhou e nem foi avaro em contatos em busca de ajuda. Partiu para um bom relacionamento político e vai preenchendo os buracos das carências com recursos do orçamento da União, via emendas, ao entender-se bem com os 11 membros da bancada federal de Sergipe.

Ângelo Roberto Antoniolli nasceu em 7 de março de 1958 em Itapeva, mas foi criado Pariquera-Açu, no Sul de São Paulo, região mais pobre deste Estado. É filho de Luiz Antoniolli, um operador de máquinas pesadas de fazer estradas, e que foi morto aos 47 anos num acidente com uma delas - um colega a quem ele ensinara a manobrar lhe atropelou – e de Dona Zoé Proença Antoniolli, vivíssima e lúcida aos 87 anos.

É cidadão aracajuano desde 5 de junho de 2006: título conferido pela Câmara de Vereadores de Aracaju
Ângelo Roberto Antoniolli tem 60 anos

CRISE NÃO ATROFIOU AS OBRAS
“Nós terminamos todas as obras. Tenho que fazer uma conta, mas são inúmeras. Realizamos todas as obras do Campus de Lagarto. Estou hoje para receber o Centro de Simulações e Práticas, uma obra de R$ 25 milhões”

JLPolítica - Em que dimensão a chamada crise econômica nacional atingiu a UFS e seus projetos?
Angelo Antoniolli -
As crises econômica e política instaladas nacionalmente atrapalharam, de certa forma, todas as universidades, todas as instituições brasileiras. Economicamente, nós tivemos uma diminuição de recursos de forma significativa de investimento e de custeio. Obrigou a fazer uma reflexão na universidade da otimização desses recursos, das estratégias para que a universidade não venha sucumbir frente a isso. Então, levou a gestão a refletir o momento e a perceber que ele seria de certa forma prolongado. Não seria um momento passageiro, rápido. Percebemos que a crise se acentuaria com o passar do tempo.

JLPolítica - Exigiu mais fôlego do gestor?
AA -
Sem dúvidas nenhuma exigiu muita dedicação, muita discussão e uma clara percepção dos caminhos a seguir para enfrentar a crise. E as universidades que não fizeram isso estão pagando um preço muito caro.

JLPolítica - A UFS paga?
AA -
 Não. Nós buscamos esses caminhos de que falei. Passamos a discutir a realidade, o momento que o país enfrenta e as estratégias para, de certa forma, superar esse déficit no financiamento da Universidade Federal de Sergipe.

É também cidadão lagartense: concedido 10 anos depois de Aracaju, em 29 de abril de 2016

ORÇAMENTO SÓ DA PARA O CUSTEIO
“O orçamento da UFS está em torno de uns R$ 640 milhões, em sua maioria para o pagamento de salários. Hoje temos 1.600 professores e 1.100 doutores. Temos o crescimento de dois hospitais universitários”

JLPolítica - Quantas obras a sua gestão tem iniciadas e paralisadas, ou atrasadas, e quantas projetadas sem poder dar início?
AA - 
Nós terminamos todas as obras. Tenho que fazer uma conta, mas são inúmeras. Realizamos todas as obras do Campus de Lagarto. Estou hoje para receber o Centro de Simulações e Práticas, uma obra de R$ 25 milhões. Estou finalizando, ainda neste mês, a Didática VII, onde vai acomodar todos os problemas de pós-graduação, de mestrado, de doutorado da Universidade Federal de Sergipe, onde vão ser acomodados os observatórios sociais para todas as áreas de conhecimento - uma obra de mais de R$ 120 milhões que deve estar à disposição da comunidade e da sociedade sergipana. Esperamos nesses observatórios integrar os debates para o fortalecimento das políticas públicas de Sergipe. É para isso que foram pensados os observatórios sociais.

 JLPolítica - O orçamento da UFS para 2018 passa ou não dos R$ 600 milhões?
AA -
Passou. Hoje o orçamento da UFS está em torno de uns R$ 640 milhões, em sua maioria para o pagamento de salários. Hoje temos 1.600 professores e 1.100 doutores. Temos o crescimento de dois hospitais universitários, funcionando pela Ebserh. De certa forma, a Ebserh e a UFS constroem um mesmo anteparo. Estão refletindo numa mesma ação. Caminham integradas. Porque a própria Ebserh é fruto do Ministério da Educação e do Ministério da Saúde. Então, eles vêm para agregar. Nós temos aqui no Hospital Universitário, mais de 1.000 servidores que dão uma folha de R$ 100 milhões/anos para Aracaju. E, em Lagarto, 800 servidores que dá uma folha próxima de R$ 100 milhões em salários.

JLPolítica - Este orçamento é o suficiente para atender às demandas e carências da UFS?
AA – 
Não. Este orçamento é insuficiente. Precisamos buscar mais, e este é o movimento que fazemos frequentemente junto à bancada federal do Estado.

“Basta olhar para a sociedade sergipana, para os dirigentes, para as suas origens, e ver o papel que a UFS teve na formação de políticos\", exalta

TEMOS PRÓXIMO DE 33 MIL ALUNOS
“Temos próximo de 33 mil alunos. Dos quais, 26 mil estão nos cursos presenciais e quatro mil alunos fazendo graduação à distância. Temos quase três mil alunos fazendo mestrado e doutorado”

JLPolítica - No âmbito estadual, o orçamento da UFS perde apenas para os do Estado e da Prefeitura de Aracaju, ou há um terceiro maior que o dela?
AA - 
Realmente, nunca fiz essa comparação. Mas, provavelmente, Socorro pode chegar próximo disso. (Nota da Redação: Não chega. O orçamento de em média R$ 250 milhões ano).

JLPolítica - Quantos cursos e quantos alunos tem a UFS hoje e distribuídas em quantos campi?
AA - 
Nós temos próximo de 33 mil alunos. Dos quais, 26 mil alunos estão nos cursos presenciais; e quatro mil alunos fazendo graduação à distância. Temos quase três mil alunos fazendo mestrado e doutorado, onde temos 36 programas de mestrado e 15 doutorados. Então, isso tudo dá 33 mil alunos estudando aqui dentro.

JLPolítica - Nessa composição de graduação, mestrado e doutorado há quantos cursos?
AA -
São 108 opções de curso de graduação e 46 programas entre mestrados e doutorados.

É do tipo que brilha os olhos quando o assunto é UFS

A ESTATUINTE QUE ANDA
“Na minha gestão, iniciamos a estatuinte, criamos um grupo que está caminhando e deveremos avançar gradativamente. A estatuinte é uma coisa morosa, porque envolve contingente muito grande”

JLPolítica – Quantos empregos diretos no geral produz a UFS?
AA - 
Para professores, eu tenho 1.600 e tenho 1.400 servidores técnico-administrativos. A Ebserh tem 1.000 servidores no HU e 800 servidores em Lagarto. Mais ou menos cinco mil no todo.

JLPolítica - Há queixas dos funcionários com relação à Ebserh, como se ela fosse uma entidade impositiva dentro da universidade. Como o senhor vê a Ebserh?
AA - 
A Ebserh vem para dentro da universidade para fazer a regulação. Quando olharmos direito, quem está na Ebserh são os próprios servidores da universidade. Então, isso faz com que a universidade se aproxime. Nas instituições brasileiras, temos dificuldades de enxergar coisas novas regulando os processos clássicos. A Ebserh seria uma coisa nova que vem dentro de uma estrutura clássica. Só isso. É um aprendizado. É uma experiência nova que está acontecendo no Brasil. Quem não tem a Ebserh está correndo atrás para ter.

JLPolítica - Os professores se queixam de que sua gestão teria dado um tranco na estatuinte. Isso procede?
AA –
Não procede. Pelo contrário. Na minha gestão, iniciamos a estatuinte, criamos um grupo e o grupo está caminhando e deveremos avançar gradativamente. A estatuinte é uma coisa morosa, lenta, porque envolve um contingente muito grande de pessoas. Então, não temos o controle administrativo da estatuinte. Criamos um grupo de controle e ela anda por si só.

Mata e morre pela UFS, com quem tem um caso de amor escolhido e deliberado

RAIO DE ABRANGÊNCIA DA UFS
“Ela está preocupada com as licenciaturas, formação dos professores, dos profissionais da saúde, da ciência e da tecnologia, e das engenharias. Estamos preocupados com todos os segmentos da vida de Sergipe”

JLPolítica - A estatuinte tem prazo de conclusão?
AA -
Não. Não tem prazo de conclusão. Ela vai apresentar os resultados na medida, e o Conselho está acompanhando. 

JLPolítica - Há uma régua que possa medir com precisão significado da UFS para o Estado de Sergipe nestes 50 anos de existência dela?
AA - 
Talvez a régua-mater que eu poderia expressar é a de que ela é a única universidade pública deste Estado. Ela está preocupada com as licenciaturas, com a formação dos professores, dos profissionais da área da saúde, da ciência e da tecnologia, e das engenharias de uma maneira geral. Estamos preocupados com todos os segmentos da vida de Sergipe. Estamos palmeando todo o interior de Sergipe, cumprindo o papel de alguma forma de responsabilidade social. Estamos debatendo todas as políticas públicas. Interessados em incluir todos os segmentos da sociedade sergipana. Talvez, a régua que nós possamos usar para definir a UFS seja a de ela tem um compromisso com toda a sociedade sergipana.

JLPolítica - Sergipe seria um Estado menos próspero se não houvesse a UFS nesses 50 anos?
AA -  
Não tenho dúvida sobre isso: Sergipe seria um Estado muito menos próspero não fosse a UFS. Basta olhar para a sociedade sergipana, para os dirigentes, para as suas origens, e ver o papel que a UFS teve na formação de políticos, de gestores, de cada cidadão, de tudo o mais. O curso de Medicina, pouco tempo atrás, era só na UFS. Nós formávamos todos os médicos desse Estado. De quem é a obrigação de formar professores? Todos nós falamos de Educação, entendemos que a Educação é importante, mas poucos apostam na formação de professores. A UFS não.

Sabe o peso e aposta fundo no futuro da UFS

UM CAMPUS DIFERENTE PRO SERTÃO
“Pensamos uma coisa que fizesse parte do arranjo produtivo local do Sertão. Lá é a bacia leiteira. Nós não replicamos o Campus de Ciências Agrárias que existe aqui em São Cristóvão. Tem que haver cursos ligados à bacia leiteira”

JLPolítica -Em que pé está a fixação do campus de Nossa Senhora da Glória? Ele seria o mais carente em relação aos campi de São Cristóvão, Laranjeiras, Lagarto e Itabaiana?
AA - 
Não. Eu tenho uma percepção diferente. Talvez porque eu mesmo fui idealizador desta arte. Pensamos no Campus do Sertão quando da aprovação do governador Jackson Barreto, das atitudes políticas de que definiram esse propósito. Nós encampamos esta ideia e passamos a compor uma construção diferente do Campus Sertão.

JLPolítica - Diferente como?
AA -
Nós pensamos uma coisa que fizesse parte do arranjo produtivo local, da Região do Sertão. Lá é a bacia leiteira. Nós não replicamos o Campus de Ciências Agrárias que existe aqui em São Cristóvão. Se lá é bacia leiteira, tem que haver cursos ligados à bacia leiteira. Por isso pensamos na Medicina Veterinária, na Zootécnica, na Engenharia Agronômica, e precisamos, para fechar o arranjo produtivo, de um curso de Agroindústria. Todo ele envolvendo metodologia ativa. É o primeiro campus em Ciências Agrárias do nosso país que envolve metodologia ativa.

JLPolítica - O que é metodologia ativa?
AA -
O aluno aprende dentro da comunidade através do ensino, do aprendizado em problemas. É um PBL. É um PBL para agrário. Então, o nosso aluno conhece a região, estuda os problemas da dela. Como lá, eu pensei num bônus para os alunos que estudam no Sertão pudessem ter uma oportunidade. Colocamos no Campus do Sertão 10% para os alunos que estudaram o ensino médio no Sertão. Logo, 90% dos meus alunos do Campus do Sertão são do Sertão. Certamente, estamos fazendo a integração sociedade sertaneja e formação de jovem lá dentro.

Entusiasmado, para ele, a crise que roeu os ossos do Brasil de 2014 para cá, não roeu os da UFS

DA TIMIDEZ DOS DOUTORES
“Acredito que os nossos doutores ainda têm muito por contribuir com a sociedade sergipana. É inesgotável a capacidade de integração. Eles são oriundos das melhores universidades do país e de fora do país”

JLPolítica - O pensado está sendo materializado?
AA -
O pensado está, sim, sendo materializado. Avançando em passos largos, graças não ao orçamento de MEC, mas sim ao apoio que tenho tido pelos parlamentares.

JLPolítica - Enquanto reitor e sendo um deles, o senhor dar-se-ia por satisfeito com o grau de interação e interlocução dos mais de mil doutores da UFS com os sergipanos e a sergipanidade?
AA - 
Acredito que os nossos doutores ainda têm muito por contribuir com a sociedade sergipana. É inesgotável a capacidade de integração. É inesgotável a capacidade de participação dos nossos doutores. Por quê? Eles são oriundos das melhores universidades do país e de fora do país. Eles têm um conhecimento muito abrangente, muito importante e profundo sobre os nossos diversos saberes da sociedade. Agora, o grande problema é como fazer com que esse repasse aconteça.

JLPolítica - A pergunta é: o senhor se dá por satisfeito com o que acontece hoje com esses doutores, ou poderia ser mais?
AA – 
Poderia ser muito mais.

Esclarece que houve apenas uma breve e programada diminuição nos ritmo das ações

A MATERNIDADE DO HU VEM AÍ
“Esperamos é que, até o final do ano, esta maternidade esteja concluída, se não tivermos nenhum problema com a empresa. Espero inaugurá-la, colocar 120 leitos à disposição da sociedade sergipana, ainda em 2019”

JLPolítica - Qual é a sua tese para justificar o alheamento deles em relação à sergipanidade?
AA -
Primeiro, porque viemos - e eu me coloco junto -, formados nas universidades para os laboratórios. Nós fomos formados num programa de mestrado, doutorado para si mesmo, para desenvolver as pesquisas. Atividades daquelas que você imagina ser sua linha de pesquisa. E aí saímos de centros desenvolvidos e viemos para universidades mais afastadas. E sonhamos com aquilo para o que fomos treinados, ao invés de olharmos para os problemas locais dos quais nenhuma pós-graduação do Brasil está ensinado. Nós treinamos nossos alunos do mestrado e doutorado - é um treinamento -, para pesquisa, para fazer aquilo que nós gostamos como orientadores.

JLPolítica - A sua Reitoria terá tempo de banir esse ensimesmamento dos doutores, ou isso é coisa para futuros reitores?
AA -
Eu acho que isso é uma coisa para se discutir na formação acadêmica, sem dúvida nenhuma. E por isso nós pensamos nos observatórios sociais, para apresentar os problemas de Sergipe, para envolver os nossos docentes. Envolver os nossos docentes não deve ser um fenômeno unilateral. É um fenômeno de várias vertentes. De várias ações. É um fenômeno que exige um envolvimento bilateral.

JLPolítica - Quando é que os sergipanos terão acesso aos serviços da Maternidade do HU?
AA -
A Maternidade do HU é pensada de muito tempo. Mas reiniciou suas atividades agora em fevereiro, porque estavam ainda incipientes. O que esperamos é que, até o final do ano, esta maternidade esteja concluída, se não tivermos nenhum problema com a empresa. Eu espero inaugurar esta maternidade, colocar 120 leitos à disposição da sociedade sergipana, ainda em 2019. Na minha gestão ainda.

Partiu para um bom relacionamento político e vai preenchendo os buracos das carências

BEM CONTEMPLADA PELA BANCADA FEDERAL
“A UFS tem sido muito bem contemplada. Tenho convencido a bancada federal de que se eles não ajudarem a única universidade pública desse Estado, a UFS não terá como cumprir com sua missão”

JLPolítica - Como é que tem sido a relação dos 11 representantes de Sergipe no Congresso Nacional com a UFS e as necessidades dela?
AA -
A Universidade Federal de Sergipe tem sido muito bem contemplada, muito bem recebido. Eu tenho convencido a bancada federal de que, se eles não ajudarem a única universidade pública desse Estado, a UFS não terá como cumprir com sua missão no Estado. Os investimentos que o MEC tem aportado para a universidade são insuficientes para atender as demandas que ela se predispõe. Se não fossem as emendas teríamos dificuldades de recompor esse passivo.

JLPolítica - Tem alguém que se omite, entre os 11, na interlocução com o senhor?
AA - 
Não. Têm uns que se envolvem mais, têm uns que se envolvem menos. Mas a bancada federal tem sido muito bem receptiva aos problemas da universidade. E aqui eu saliento: lá em Simão Dias estamos iniciado agora uma obra fantástica de um centro de reabilitação. É uma extensão do Campus de Lagarto da UFS. É uma obra que está sendo toda financiada por emendas do senador Valadares e do deputado federal Valadares Filho.

JLPolítica - O senhor conseguiria emoldurar com precisão que futuro terá a UFS nas próximas três ou quatro décadas?
AA -
Primeiro, como nós pensamos a UFS do futuro? A UFS do futuro tem que ser dimensionada juntamente com a sociedade. É um pensar Sergipe não para o hoje, mas para os próximos anos, do ponto de vista da Educação, Saúde, das discussões das políticas públicas. Temos que fazer na UFS um grande debate da sociedade sergipana. Nós resistimos muito ao debate que atenda os 85% da nossa sociedade que está fora. A nossa classe média é de apenas 15%. São os 15% que pagam imposto de renda, que têm os filhos nas escolas privadas. São os 15% que tem Saúde privada. Os 85% estão excluídos. E temos que fazer um debate sobre os próximos 30, 40 anos. Incluir mais jovens nesse segmento da classe média, para compor a classe média. Nós nunca seremos um país desenvolvido enquanto a nossa classe média for de apenas 15%.

Já foi bater até nas portas da Ordem pela UFS: com Henri Clay, presidente da OAB; e seu vice, Inácio Kraus

A UFS DO FUTURO É COLETIVA
“A UFS do futuro tem que ser dimensionada juntamente com a sociedade. É um pensar Sergipe não para o hoje, mas para os próximos anos, do ponto de vista da Educação, Saúde, das políticas públicas”

JLPolítica - O senhor acredita que o patamar é bom de quanto?
AA -
De no mínimo de 60%. De 50 a 60%. Enquanto a gente não chegar nesse patamar, teremos uma dificuldade muito grande em atender políticas públicas. Em qualquer lugar do mundo desenvolvido, toda política pública é para tratar a classe média. Se você vai à Alemanha, 65% é classe média. A política é para atender os 65%. Então, você começa a atender e a criar pontos de inclusão para aumentar cada vez mais.

JLPolítica - Atuar encima de apenas 15% é quase uma denúncia?
AA – 
Exatamente. É uma excrescência e a universidade não pode fugir desse debate. É um debate real.

JLPolítica – O senhor vê nos horizontes ameaças concretas de privatização das instituições públicas de ensino superior?
AA – 
Não vejo. Pela primeira vez na vida, não vejo isso. E por que não vejo isso? Porque a universidade cresceu muito e, com as cotas, 65% dos nossos alunos são oriundos da escola pública. Significa que 65% não podem pagar. Eu tenho, teoricamente, 35% que têm condições de pagar. Isso seria insuficiente. E uma arrecadação insignificante frente aos custos.

E, claro, não esquece as instituições financeiras: com Saumíneo Nascimento, do BNB

UM PAÍS DE BAIXA CLASSE MÉDIA
“Nós nunca seremos um país desenvolvido enquanto a nossa classe média for de apenas 15%. Precisamos de um patamar de 50 a 60%”

JLPolítica - Isso não atrairia o mercado privado?
AA - 
É claro.

JLPolítica - Qual será papel dos observatórios sociais e quando é que a UFS pretende inaugurar os dela?
AA - 
Eu pretendo inaugurar no primeiro semestre os observatórios sociais. E o papel que esses observatórios têm é o da construção, no debate e nas propostas de gestão de todas as áreas de conhecimento através de políticas públicas concisas.

JLPolítica - Como os observatórios sociais são pensados?
AA -
São pensados para agregar, aproximar os nossos doutores com as diversas experiências dentro de temas específicos como Educação, Saúde, Meio Ambiente, Direitos Humanos. Todos esses temas integrarão a sociedade ao debate atual. Faremos os observatórios também sob um viés interno. Quais são os problemas da universidade? Como podemos melhorar a gestão da universidade? Nós temos uma retenção de alunos muito grande. O que nós estamos fazendo hoje? Nós temos observatório da licenciatura, dos bacharelados, implantados e funcionando. Nós estamos com os diagnósticos das nossas licenciaturas.

Nas portas do seu MEC, costuma bater, politicamente, articulado

AMEAÇAS CONCRETAS DE PRIVATIZAÇÃO
“Pela primeira vez na vida, não vejo isso. Porque a universidade cresceu muito e, com as cotas, 65% dos nossos alunos são oriundos da escola pública. Significa que 65% não podem pagar”

JLPolítica - Os observatórios irão mexer nessa composição de ensimesmamento da universidade?
AA -
 Exatamente. Vai mexer. Deverão surgir dos observatórios propostas que coloquem de forma transparente um diagnóstico da realidade social para o debate.

JLPolítica - O senhor acha que a UFS teve e tem um bom olhar para as licenciaturas de um modo geral?
AA - 
A Federal de Sergipe praticamente é a única universidade que tem o foco na formação das licenciaturas. Eu acho que temos que melhorar. Sempre vamos ter que melhorar, porque nossa retenção em licenciatura ainda é muito grande.

JLPolítica - Quanto por cento dos seus 30 mil alunos estão nos cursos de licenciaturas?
AA - 
Eu tenho mais ou menos quatro mil alunos fazendo licenciatura.

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CURSO DE MEDICINA DE ESTÂNCIA
“Não será pela Universidade Federal, lastimavelmente. Gostaria muito que fosse. Essa é uma escola de Medicina que vem com o caráter privado para Sergipe”

JLPolítica - Quatro mil alunos fazendo licenciatura num universo de 33 mil alunos não é pouco?
AA - 
É pouco sim. Mas o problema não é a quantidade e sim a capacidade que temos de responder a contento. Nós não temos retenção no curso de Medicina, Direito. Retenção é o aluno permanecer muito mais tempo aqui dentro. O aluno permanece muito tempo ou desiste. Por quê? Ele não vê na licenciatura um futuro. Nós falamos que a Educação é o nosso carro-chefe, mas nós não valorizamos a Educação.

JLPolítica - Que história é esta de mais um curso de Medicina para Sergipe, agora em Estância? Viria por onde?
AA -
Não será pela Universidade Federal, lastimavelmente. Eu gostaria muito que fosse. Essa é uma proposta do Governo Federal que vem e é feito o edital com as disputas das universidades privadas. É mais uma escola de Medicina que vem com o caráter privado para Sergipe.

JLPolítica - O senhor identifica mais mercantilismo ou mais compromisso com a educação no ensino superior privado brasileiro?
AA – 
Evidentemente que se é privado, tem que olhar para o mercado, como o mercado recebe. Há uma grande disputa na criação dos cursos de Medicina. Mas eu não vejo a mesma disputa nas licenciaturas. Por quê? Porque evidentemente a licenciatura não acomoda uma coisa muito interessante no mercado. Mas a Medicina sim, outros cursos, as engenharias, idem. Tudo isso tem interesse. A área das agrárias parece não acomodar muito isso. Mas, de alguma forma, as áreas da Saúde me parecem estar muito próximas do interesse do mercado. Eu não sei se nós precisamos de tantos alunos fazendo Direito em Sergipe. E nem de tantas escolas. Então, é preciso que a gente compreenda isso. Evidentemente, eu sou um defensor das questões ligadas à educação pública. Gosto das políticas públicas e as políticas públicas precisam ser debatidas para atender a sociedade e não o mercado. Isso é a visão de um gestor que faz gestão pública.

“Nós terminamos todas as obras. São inúmeras\", comemora

EXTRATO POSITVO DA UFS
“É responsável por 92% de tudo que se produz, justamente, pelo seu papel social. Ela foi pensada para formar mestres, doutores. Se nós formos às universidades, escolas privadas de Sergipe hoje, vamos encontrar nossos mestres e doutores militando lá dentro.”

JLPolítica - O senhor se dá por contente com o nível de educação na esfera pública?
AA -
Não. Precisamos melhorar. Sempre precisamos melhorar. Evidentemente, o ensino fundamental e o ensino médio estão precisando de uma ampla discussão e reforma. A universidade pública brasileira tem o seu extrato positivo. Ela é responsável por 90% de tudo que se produz em pesquisa neste país. Em Sergipe, a Universidade Federal, em pesquisa, é responsável por 92% de tudo que se produz, justamente, pelo seu papel social. Ela foi pensada para formar mestres, doutores. Se nós formos às universidades, escolas privadas de Sergipe hoje, vamos encontrar nossos mestres e doutores militando lá dentro. E é um papel que nós estamos cumprindo. É o que nos caber fazer: formar para dar sequência a todo isso.

JLPolítica - O que foi feito do então “melhor curso de Geografia do Brasil”, que seria o da UFS? Ele morreu?
AA -
Não. O curso de Geografia continua muito bem. Continua debatendo e cumprindo seu papel. Há um problema que não é só o curso de Geografia: agora são muitos cursos que o circundam, e ele sai um pouco do foco. Mas os pesquisadores, os professores, estão militando. Estão continuamente trabalhando para manter o curso de Geografia num bom patamar.

50 anos de existência da UFS, 25 anos se passaram com a presença dele

►Assista: 
"Com essa praça, estamos recuperando a memória do nosso povo", diz reitor da UFS na inauguração do Memorial da Democracia​

Em 12 de sertembro de 2017, o reitor Angelo Antoniolli participou da inauguração do Memorial da Democracia, no campus de São Cristóvão. Ao lado de Fernando Sá, professor que idealizou o memorial, ele falou sobre a importância do projeto como um resgate da memória de um período histórico do Brasil. "Com essa praça estamos recuperando a memória do nosso povo. Estamos começando um processo de recuperação e valorização do processo democrático. Agora a comunidade sergipana precisa se apropriar desse espaço", afirmou.

Em seu discurso, o reitor falou ainda sobre a importância do dia para a história da Universidade Federal de Sergipe. "Hoje é um dia especial para a universidade porque não estamos inaugurando apenas uma praça, mas um lugar que traz a memória de um povo que para se fortalecer e buscar sua dignidade, precisa conhecer sua História".

O espaço, que fica localizado na área central do campus, ganhou um projeto elaborado pelos arquitetos César Henrique Matos e Silva, Júlio Santana e Cléo Maia, da Divisão de Projetos da UFS (Dipro/ Infraufs).

Assista ao vídeo: 

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