Anselmo Oliveira: “O Judiciário é fundamental para a democracia e os cidadãos”

Entrevista

Jozailto Lima

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Anselmo Oliveira: “O Judiciário é fundamental para a democracia e os cidadãos”

26 de fevereiro de 2022
“Sem o Poder Judiciário, temos a barbárie, a violência do mais forte sobre o mais fraco”

“Ainda acredito nas utopias. Sem elas, não avançamos e não construímos nada”. Esta frase é do juiz do direito do Poder Judiciário do Estado de Sergipe, Anselmo Oliveira, 62 anos.

Mais contextualizadamente, Anselmo Oliveira a utiliza para reforçar sua profissão de fé no próprio Judiciário, instituição a quem ele serve há 33 anos, desde 1989.

“O Poder Judiciário é fundamental para a democracia e para garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e que estão na Constituição Federal. Sem o Judiciário, temos a barbárie, a violência do mais forte sobre o mais fraco”, reforça ele.
Pela lógica de Anselmo Oliveira, “ainda que seja composto por mulheres e homens imperfeitos”, o Judiciário “ainda é indispensável para uma vida civilizada em sociedade”.
Mas esse “ainda acreditar nas utopias” e a manutenção da convicção de que “sem elas não avançamos e não construímos nada” aceitam uma outra leitura que serve muitíssimo bem à biografia pessoal desse magistrado.

Anselmo Oliveira é, literalmente, uma figura que avançou e se autoconstruiu a partir de uma realidade profundamente adversa. Não fosse o determinismo pessoal dele, seria uma distopia chegar aonde chegou vindo do meio de onde veio.

“Meu pai, Alonso, era um artesão, marceneiro que conhecia a arte de envernizar e polir, de criar peças com as mãos, mas que estudou pouco, e tinha, por isso, a pouca remuneração e o desemprego sempre a vista”, traça Anselmo. 

“A minha mãe, Iolita, retomou os estudos deixados na juventude quando eu já estava no ginasial, e com muito esforço chegou a concluir o pedagógico, de nível médio. Aprovada em concurso público, ingressou na Secretaria Estadual de Educação como Agente de Serviços Básicos. No popular: “servente””, reforça.

Negando a origem dos pais e, logo a dele mesmo, Anselmo Oliveira furou o bloqueio usando as pinças da educação. “A educação é a solução”, constata ele.
E isso não pode ser considerado um clichê. “O conhecimento nos tira da ignorância e cria novas possibilidades de ascender socialmente, cultural e financeiramente. Nem todo mundo é bom de bola o suficiente para não estudar”, reforça.

José Anselmo de Oliveira nasceu em 15 de junho de 1959 em Capela e trabalhou desde cedo
Anselmo Oliveira e suas duas crias: Samir Ferreira da Costa Oliveira, 40 anos, e Marla Rabello Oliveira, 24

Anselmo Oliveira acessou a magistratura por uma convicção ontologicamente boa. “Sou de uma geração romântica do direito, cuja maior convicção era o valor da justiça”, diz ele.

“Ao ingressar na magistratura sergipana em 1989, tinha a crença de que saindo de um período muito angustiado com o estado de exceção do período militar, o Poder Judiciário poderia garantir ao cidadão os direitos assegurados na nova Constituição de 1988 e contribuir na reconstrução da democracia no país. Ainda acredito nas utopias. Sem elas, não avançamos e não construímos nada”, diz.

José Anselmo de Oliveira nasceu no dia 15 de junho de 1959 na cidade de Capela. Ele é filho de Alonso Batista de Oliveira, já  falecido, e de Maria Iolita Santos de Oliveira.
É casado com a médica ultrassonografista Sônia Maria Nunes da Silva Oliveira e é pai de Samir Ferreira da Costa Oliveira, 40 anos, formado em Tecnologia da Informação, e de Marla Rabello Silva Oliveira, 24 anos, compositora, cantora e estudante de música numa universidade em São Paulo.
Anselmo Oliveira formou-se em Direito em 1982 pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Sergipe.

Em 1989 iniciou-se na carreira da magistratura sergipana. Mas sua ficha trabalhista já era extensa, pois começou muito cedo no batente dos múltiplos afazeres.

Ele tem especialização em Processo Civil pela Escola da Magistratura do Tribuna de Justiça de Sergipe e mestrado em Direito Constitucional pela Universidade Federal do Ceará, obtido em 2003.
“Aprendi que o melhor é olhar o presente e planejar o futuro, até mesmo quando coisas ruins nos atingem. Sempre tive a convicção de que a justiça prevalece, e foi isso que aconteceu comigo. Sem mágoas, mas fortalecido pela fé no ideal de justiça”, diz, relembrando um processo do seu Judiciário que intentava aposentá-lo compulsoriamente em 2018, mas que foi atalhado e desfeito pelo Conselho Nacional de Justiça.
Data venia, a Entrevista com o juiz Anselmo Oliveira vale o tempo da leitura.

Seu Alonso Batista de Oliveira, já falecido, e dona Maria Iolita Santos de Oliveira, os pais: de onde tudo deriva
“SEM AS UTOPIAS, NÃO CONSTRUÍMOS NADA”
“Sou de uma geração romântica do direito, cuja maior convicção era o valor da justiça. Ao ingressar na magistratura sergipana em 1989, tinha a crença de que saindo de um estado de exceção do período militar, o Judiciário poderia garantir ao cidadão os direitos assegurados na nova Constituição. E ainda acredito nas utopias. Sem elas, não construímos nada”


JLPolítica - Quando o senhor entra mesmo na magistratura, e movido por quais convicções ou utopias?
Anselmo Oliveira -
Sou de uma geração romântica do direito, cuja maior convicção era o valor da justiça. Ao ingressar na magistratura sergipana em 1989, tinha a crença de que saindo de um período muito angustiado com o estado de exceção do período militar, o Poder Judiciário poderia garantir ao cidadão os direitos assegurados na nova Constituição de 1988 e contribuir na reconstrução da democracia no país. Ainda acredito nas utopias. Sem elas, não avançamos e não construímos nada.

JLPolítica - Nestes 33 anos, passou por quais áreas dela e está onde neste exato momento?
AS -
A carreira do magistrado estadual tem início no interior, onde ele tem competência para todas as áreas, um clínico geral. Atuei na área de família, civil, comercial, eleitoral, criminal e, na época, até direito do trabalho, antes da instalação do Tribunal Regional do Trabalho em nosso Estado. Quando fui promovido para a segunda entrância -hoje a última entrância do primeiro grau em nossa justiça estadual - na Comarca de Estância assumi a titularidade da Vara Criminal daquela Comarca. Isso em 1995. Em 1996 pedi remoção para a 3ª Vara Criminal da Comarca de Aracaju, onde permaneci até 2013, quando pedi remoção para o recém-criado Juizado Especial da Fazenda Pública também da Comarca da Capital, e agora estou na 28ª Vara Cível da Capital, especializada em Direito de Família.

JLPolítica - O senhor teve algumas passagens de comando por entidades de classe na esfera da magistratura. Quais, e em qual delas se sentiu mais à vontade?
AS -
A minha vida associativa teve início na Associação dos Magistrados de Sergipe - Amase -, como diretor, e mais recentemente, fiz parte da Diretoria da Associação dos Magistrados Brasileiros - AMB -, a maior entidade de magistrados do mundo e que reúne os magistrados estaduais, federais, do trabalho e da justiça militar. Na AMB presidi o Conselho Fiscal da entidade no período de 2017-2020. Faço parte, ainda, da Associação dos Magistrados Estaduais - Anamages - e do Instituto dos Magistrados Brasileiros. Presidi no período de 2009-2010 o Fórum Nacional dos Juizados Especiais - Fonaje.

Anselmo Oliveira é casado com a médica Ultrassonografista Sônia Maria Nunes da Silva Oliveira
APOSENTADORIA FORÇADA: REMORSO ZERO
“Aprendi que o melhor é olhar o presente e planejar o futuro. O passado serve tão somente para o aperfeiçoamento e o amadurecimento de nossos valores e convicções, até mesmo quando coisas ruins nos atingem. Sempre tive a convicção de que a justiça prevalece, e foi isso que aconteceu comigo”


JLPolítica - Hoje é coisa do passado, mas como caiu sobre a sua pessoa física e jurídica a decisão do Poder Judiciário de Sergipe de lhe aposentar compulsoriamente em 2018?
AS -
Aprendi que o melhor é olhar o presente e planejar o futuro. O passado serve tão somente para o aperfeiçoamento e o amadurecimento de nossos valores e convicções, até mesmo quando coisas ruins nos atingem. Sempre tive a convicção de que a justiça prevalece, e foi isso que aconteceu comigo. Sem mágoas, mas fortalecido pela fé no ideal de justiça.

JLPolítica - A tese do Poder Judiciário, de que houvera da parte do juiz Anselmo Oliveira desleixo, sentenças sem boas fundamentações e até contraditórias, atrasos nos prazos, lhe fazia sentido naquele processo?
AS -
A verdade é que o Conselho Nacional de Justiça concluiu que não. Isso basta.

JLPolítica - O que o Conselho Nacional de Justiça viu de errado naquela decisão, ao ponto de solicitar que o senhor fosse ouvido?
AS -
Viu um equívoco procedimental, pois não tinha sido ouvido.

Anselmo Oliveira entre os desembargadores Epaminondas Silva de Andrade e Edson Ulisses de Melo - ele esta a caminho da desembargadoria
PRONTO PARA ASCENDER À DESEMBARGADORIA
“Na lista de antiguidade, sou o quarto, e ainda este ano passarei a ser o terceiro. Vou continuar concorrendo às vagas por merecimento, e se forem observados os critérios objetivos, espero ter êxito. Mas, em nossa carreira, o mais provável é chegar pela antiguidade. E aí depende de vaga”


JLPolítica - Em que mês de 2020 se dá a sua volta às funções da magistratura?
AS - 
Retornei em 11 de maio de 2020.

JLPolítica - Restam-lhe, ainda hoje, algumas angústias ou traumas por tudo aquilo?
AS -
Como afirmei antes, sou um homem de fé e de convicções, não me apego ao passado. Aprendo com as dificuldades e me fortaleço nas adversidades. Os sentimentos negativos procuro afastar porque eles minam o físico e o espírito.

JLPolítica - Com 33 anos de carreira, o senhor já deve estar na linha de ascensão à desembargadoria. Quando lhe chegará essa possibilidade?
AS -
Atualmente, na lista de antiguidade, sou o quarto mais antigo, e ainda este ano passarei a ser o terceiro. Vou continuar concorrendo às vagas por merecimento, e se forem observados os critérios objetivos, espero ter êxito. Mas, em nossa carreira, o mais provável é chegar pela antiguidade. E aí depende de vaga, pois elas são alternadas entre merecimento e antiguidade.


 

Ainda na primeira infância, o menino Anselmo Oliveira, à esquerda, sob a proteção dos pais e ao lado de dois irmãos
DA MAIOR VIRTUDE DO PODER JUDICIÁRIO
“O Poder Judiciário é fundamental para a democracia e para garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e que estão na Constituição, e ainda que seja composto por mulheres e homens, que pela natureza são imperfeitos, porque a perfeição somente Deus, ainda é indispensável para uma vida civilizada. Sem o Judiciário, temos a barbárie”


JLPolítica - Se lhe rendesse a ascensão hoje, o senhor já se sentiria à vontade e preparado para as funções da alta magistratura?
AS -
Claro que estou preparado. A minha formação continuada e a minha experiência como magistrado, como professor de direito e como pesquisador e autor de livros e artigos jurídicos, me tranquilizam no decidir qualquer questão jurídica. O juiz não pode ter medo de julgar, e deve estar preparado para decidir.

 

JLPolítica - Qual é a maior virtude do Poder Judiciário?
AS -
O Poder Judiciário é fundamental para a democracia e para garantir os direitos fundamentais dos cidadãos e que estão na Constituição Federal, e ainda que seja composto por mulheres e homens, que pela natureza são imperfeitos, porque a perfeição somente Deus, ainda é indispensável para uma vida civilizada em sociedade. Sem o Judiciário, temos a barbárie, a violência do mais forte sobre o mais fraco.

JLPolítica - Ele teria algo a ser apontado como uma espécie de “o maior pecado?”
AS -
Aqui cito o exemplo de Maria Madalena prestes a ser apedrejada e a intervenção de Jesus Cristo com a interjeição: “Quem não tem pecado atire a primeira pedra.” Não existe instituição humana perfeita. Claro que temos vários “pecados”. Alguns dependem da falta e estrutura e de investimentos e de uma cultura de litigância que nos leva a ter em andamento mais de 100 milhões de processos. Outros decorrem do fato de ser feito por pessoas humanas, onde as imperfeições existem.

 

Anselmo Oliveira: aluno do exército em 1978, foi declarado aspirante a oficial. E em 1979, chegou a segundo tenente
“VALE A PENA: A EDUCAÇÃO É A SOLUÇÃO”
“É preciso entender que a atividade profissional como jornalista, depois como advogado e juiz de direito, de alguém vindo de família pobre e estudando sempre em escolas públicas, diz que vale a pena estudar e aprender. O conhecimento cria novas possibilidades de ascender socialmente, cultural e financeiramente”


JLPolítica - Olhado de fora por quem é de dentro, há que se dizer ou concluir que o Poder Judiciário também comete injustiças?
AS - 
Para qualquer um que perde uma ação, ainda que a decisão observe a lei e a jurisprudência dos tribunais, se sentirá injustiçado. Quando há falha na interpretação da lei, com certeza.

JLPolítica - A sua ascensão, ou migração, de jornalista a juiz diz exatamente o quê sobre quem é de uma família humilde e que vem de escola pública?
AS -
É preciso entender que a atividade profissional como jornalista, depois como advogado e, mediante concurso público de provas e títulos, juiz de direito, de alguém vindo de família pobre e estudando sempre em escolas públicas, diz que vale a pena estudar e aprender.

JLPolítica - O conhecimento é um grande patrimônio...
AS -
Sim. O conhecimento nos tira da ignorância e cria novas possibilidades de ascender socialmente, cultural e financeiramente. Nem todo mundo é bom de bola o suficiente para não estudar. A educação é a solução.

Antes da magistratura, Anselmo flertou com a política: aqui, num Congresso Nacional do PSB. Até disputou mandato de deputado estadual
DA FORMAÇÃO SIMPLES DOS PAIS
“Meu pai, Alonso, era um marceneiro que conhecia a arte de envernizar e polir, de criar peças com as mãos, mas que estudou pouco, e tinha a pouca remuneração e o desemprego sempre a vista. A minha mãe, Iolita, retomou os estudos deixados na juventude quando eu já estava no curso ginasial e chegou a concluir o pedagógico, de nível médio”


JLPolítica - Afinal, quais são os estratos sociais dos seus pais?
AS - 
Meu pai, Alonso, era um artesão, marceneiro que conhecia a arte de envernizar e polir, de criar peças com as mãos, mas que estudou pouco, e tinha, por isso, a pouca remuneração e o desemprego sempre a vista. A minha mãe, Iolita, retomou os estudos deixados na juventude quando eu já estava no curso ginasial. Isso porque eu sou do tempo do exame de admissão ao ginásio. Os mais jovens nem sabem o que é isso. E com muito esforço ela chegou a concluir o curso pedagógico, de nível médio. Aprovada em concurso público, ingressou na Secretaria Estadual de Educação como Agente de Serviços Básicos. No popular: “servente”. Mas deslocada para a sala de aula, ministrava aulas de religião, porém aposentou-se como servente mesmo.

 

JLPolítica - Mas, antes de abrir caminhos na magistratura, por onde funcionalmente o senhor passou?
AS - 
Comecei cedo. Ao ingressar na faculdade aos 17 anos, no ano seguinte fui prestar o serviço militar obrigatório. Era o ano de 1978 e tinha acabado de ser criado o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva do 28º Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro, sediado em Aracaju, e aí os recrutas que estavam na universidade ou tinham concluído o ensino médio foram selecionados mediante prova. Dessa forma, fui aluno do Exército e em dezembro de 1978 fui declarado aspirante a oficial, e em 1979, após estágio obrigatório no 19º Batalhão de Caçadores, sediado em Salvador, Bahia, no bairro do Cabula, fui promovido a 2º tenente e fui para a reserva não remunerada.

JLPolítica - Mas o senhor o seu foco nunca deixou de ser a faculdade?
AS -
Sim. Retomei a faculdade, o jornalismo e a sala de aula no Senac como professor. Formado, pedi demissão dos empregos como jornalista e fui advogar. Quando foi criada a SMTU - Superintendência Municipal de Transportes Urbanos - de Aracaju, fui convidado e assumi a Chefia da Assessoria Técnica da autarquia que criou os primeiros regulamentos dos transportes no município de Aracaju, de coletivos e de táxis. Em 1985 fui contratado pela Prefeitura Municipal de Aracaju para ser assistente Jurídico, hoje procurador do município. Também organizei e chefiei a Assessoria Jurídica da Companhia de Processamento de Dados do Estado de Sergipe - Prodase - hoje Engetis. Nesse meio tempo também fui delegado de Sergipe no Primeiro Congresso do Partido Socialista Brasileiro - PSB -, em Brasília. Depois presidi o Diretório Municipal de Aracaju do Partido Liberal e em 1986 fui candidato ao mandato de deputado estadual. Em 1988 passei a lecionar nas Faculdades Integradas Tiradentes nos cursos de Ciências Contábeis e Direito.

 

Anselmo Oliveira, que tem a educação como salvação, aí em 1973 como aluno ETFSE
OLHO NA VAGA DE CONSELHEIRO DO CNMP
“Ali existe uma vaga de juiz e a escolha é feita pelo pleno do Supremo Tribunal Federal. Disputo porque acho fundamental participar de órgãos colegiados e tenho o direito de me candidatar. Quanto às chances, dependo dos ministros do STF que devem analisar os currículos dos candidatos”


JLPolítica - O senhor está disputando uma vaga de conselheiro do Conselho Nacional do Ministério Público - CNMP. Por que, e quais são as suas chances?

AS - Ali existe uma vaga de juiz e a escolha é feita pelo pleno do Supremo Tribunal Federal. Disputo porque acho fundamental participar de órgãos colegiados e, preenchendo os requisitos legais, tenho o direito de me candidatar. Quanto às chances, dependo dos ministros do STF que devem analisar os currículos dos candidatos. É um eleitorado muito qualificado.

JLPolítica - Como foi a sua carreira de empreendedor no setor de turismo, cultura e gastronomia com bar e restaurante na juventude? Onde funcionava e com que nome?
AS -
Quando jovem, fundei um Grupo de Teatro cujo nome era “Grupo Amador Teatral Liberdade”, onde dirigi algumas peças, escrevi e atuei em outras. Quando iniciei na advocacia, aconteceu em um verão de criar na Atalaia

Nova um bar e restaurante, cujo nome era Colher de Pau. Isso era 1987, e ali pude colocar em prática uma das coisas que gosto de fazer, que é cozinhar. Montei uma equipe e virou naquele verão uma referência na Ilha, frequentado por figuras como Viana de Assis, o então governador do Estado Antônio Carlos Valadares e seu secretariado, a turma do Iate Club, os artistas da terra, como Ismar Barreto, o jornalista Hugo Costa, e até a cantora Amelinha. Era o point do verão na Atalaia Nova.
 

JLPolítica - O jornalista Pedro Valadares anda a lhe cobrar um livro de memórias daquela época do Bar e Restaurante Colher de Pau. Os segredos que viu e viveu ali seriam irreveláveis hoje?   
AS - 
O amigo Pedro Valadares é uma figura muita querida e, como bom gozador, fica a me instigar para escrever as estórias do Colher de Pau. Mas, seguindo a regra ética de que segredos de bar não se conta, nunca irei escrever. Não por ser inconfessáveis, mas porque o que se ouve no bar, no bar deve ficar.

Anselmo Oliveira e o historiador Luiz Antônio Barreto, outro sergipano que levava a história e a educação ao pé da letra
SEGREDOS DO COLHER DE PAU A SETE CHAVES
“O amigo Pedro Valadares é uma figura muita querida e, como bom gozador, fica a me instigar para escrever as estórias do Colher de Pau. Mas, seguindo a regra ética de que segredos de bar não se conta, nunca irei escrever. Não por ser inconfessáveis, mas porque o que se ouve no bar, no bar deve ficar”


JLPolítica - O jornalismo do tipo que o senhor praticou e com o qual conviveu era mais lúdico e mais romântico que o de hoje em dia?
AS -
Penso que a época era mais cheia de idealismos, mas se fazia jornalismo com muita seriedade. Os jornalistas vinham de outras áreas porque não existia faculdade de jornalismo. Aprendíamos na redação com os mais experientes. Eu, por exemplo, tive como orientadores Luiz Eduardo Costa, Hugo Costa, José Rosa de Oliveira Neto, Ivan Valença e muitos outros.

JLPolítica - Por onde, em termos de veículos, o senhor passou nesta atividade?
AS -
Pelo Diário de Aracaju e pelo Jornal da Cidade como foca. Depois passei a escrever artigos sobre economia, cultura e arte na Gazeta de Sergipe e na Tribuna de Aracaju. Em 1981 era o redator do Programa TV Mulher, da Rede Globo, na TV Sergipe, a convite do jornalista Mozart Santos, então seu superintendente.

 

JLPolítica - Depois disso, não lhe sobraram vontade e nem tempo para “uma carreira de articulista” paralelamente à da magistratura?
AS -
O jornalismo nunca me largou. Ao ingressar na magistratura, a convite do desembargador Rabelo Leite, fui o redator do primeiro Jornal Judiciarium, hoje uma revista do Poder Judiciário sergipano. Atualmente escrevo semanalmente uma Coluna sobre Direito Médico no Correio de Sergipe.

 

Entre outros doutores: os amigos e médicos Marcelo Ribeiro e Jorge Viana
BATEU BOLA NAS QUATRO ÁREAS DO JORNALISMO
“Comecei pelo jornalismo econômico. Mas, como vinha de uma experiência como dramaturgo, ator e diretor de teatro, poeta, passei a escrever sobre literatura e cultura de um modo geral, e mantive durante algum tempo a “Página Cultural” da Tribuna de Aracaju, duas na edição dos domingos. Hoje, escrevo sobre direito para os leigos”


JLPolítica - O seu pendor jornalístico inclinou-se mais para a cultura ou já tinha ali uma propensão pelo jurídico?
AS -
Comecei pelo jornalismo econômico, por ser assessor de comunicação social da Federação do Comércio do Estado de Sergipe sob a Presidência de Hilton Ribeiro, da Ribeiro & Cia. Mas, como vinha de uma experiência como dramaturgo, ator e diretor de teatro, poeta, passei a escrever sobre literatura e cultura de um modo geral, e mantive durante algum tempo a “Página Cultural” da Tribuna de Aracaju, duas páginas na edição dos domingos. Hoje, escrevo sobre direito para os leigos.

JLPolítica - Como ser social, como é que o senhor vislumbra o jornalismo de Sergipe e do Brasil hoje em dia?
AS -
Tirando os extremismos, penso que em Sergipe e no Brasil o jornalismo vem cumprindo o seu papel. A ousadia e a liberdade das novas mídias permitem que boas cabeças produzam bons conteúdos. Eu procuro ler tudo que consigo, sem preconceito e sem discriminação.

JLPolítica - Como é que foi e em que entidades se deu a sua ação como educador, docente, no nível superior?
AS -
 A minha carreira de docente começou muito cedo como instrutor da Febem/SE nos chamados núcleos preventivos que atendiam crianças e adolescentes pobres da periferia de Aracaju, isso quando eu era estudante de direito. Depois fui ensinar a disciplina Relações Humanas nos cursos profissionalizantes do Senac/SE. Depois de formado em direito, passei a ensinar nos cursos Ciências Contábeis e Direito da então Faculdades Integradas Tiradentes. Em 2003 fui contratado pela Estácio-Fase para o projeto do segundo curso de direito de uma instituição privada, e consegui aprovar o projeto com conceito 4, quando o máximo 5, e deixei reconhecido também com o conceito 4. Atualmente ensino eventualmente em pós-graduação e participo de eventos jurídicos como conferencista e palestrante no Brasil e no exterior, sendo a última vez, antes da pandemia, na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.

Há quase 11 anos, juiz Anselmo Oliveira em Fórum Nacional dos Juizados Especiais, em Bonito, Mato Grasso do Sul. Era 2011
“A POESIA NÃO SERVE A NINGUÉM”
“Fazer poesia é um ato diário, mas um livro tem que ser harmônico, daí a dificuldade de se publicar tanto. A poesia não serve a ninguém. Ela é livre. Ela é um momento do poeta e da vida. Mas é libertária, sem peias. Uma poesia engajada é como manual de montagem”


JLPolítica - Virá em forma de antologia, juntamente com poemas editados avulsamente por aí e alguns outros inéditos?
AS -
A ideia é exatamente numa antologia onde serão republicados os livros anteriores e mais cerca de 100 poemas inéditos.

 

JLPolítica - Para quando o senhor programa esse lançamento?
AS -
A previsão é ser lançado no segundo semestre desse ano.

JLPolítica - A que, ou a quem, servem um poeta e a poesia?
AS -
A poesia não serve a ninguém. Ela é livre. Ela é um momento do poeta e da vida. Mas é libertária, sem peias. Uma poesia engajada é como manual de montagem.

Anselmo Oliveira em reunião como membro do TRE para discutir a eleição de 2010
“AMAR NÃO PODE SER DEFEITO DE FABRICAÇÃO”
“Penso que a vida nos dá a oportunidade do aperfeiçoamento. Encontrar a alma gêmea não é fácil. Hoje, posso dizer que encontrei. Infelizmente, Vinicius não a encontrou. Ou encontrou várias almas gêmeas. Amar não pode ser defeito de fabricação. E não há casamento sem amor”


JLPolítica - O poeta Vinicius de Moraes casou-se nove vezes. O senhor, está no quarto. Isso é uma virtude ou um defeito de fabricação?
AS -
Penso que a vida nos dá a oportunidade do aperfeiçoamento. Encontrar a alma gêmea não é fácil. Hoje, posso dizer que encontrei. Infelizmente, Vinicius não a encontrou. Ou encontrou várias almas gêmeas. Amar não pode ser defeito de fabricação. E não há casamento sem amor.

 

JLPolítica - O senhor tem dois filhos. Nenhum quis flertar com o direito?
AS -
Por incrível que pareça, nenhum deles quis estudar direito. Meu filho mais velho preferiu a informática. A minha filha ainda tentou e estudou alguns períodos de direito, mas agora estuda música, porque é compositora e cantora. Em minha opinião, você deve escolher fazer o que lhe faz feliz e no que possa fazer o melhor.

JLPolítica - Para que serve uma academia de letras, e por que o senhor gosta tanto delas?
AS -
As academias de letras têm um papel fundamental no registro do que se produz em termos de literatura em determinada região e da memória cultural. Eu fui sendo convidado e em determinado momento aceitei. O acadêmico, jornalista e intelectual Luís Antônio Barreto, de saudosa memória, foi o grande responsável pelo meu ingresso na Academia Sergipana de Letras. Depois a promotora aposentada, professora e advogada Adélia Pessoa me convidou para ser um dos fundadores da Academia Sergipana de Letras Jurídicas. Ajudei a fundar a Academia Capelense de Letras e Artes, que é a minha terra, a cidade de Capela. E como sou rotariano, fui eleito para a Academia Brasileira de Letras Rotárias - Abrol/SE -, presidida pelo médico e rotariano João Macedo.

A ACADEMIA NÃO É UM FEUDO DE ANDERSON
“Não concordo com a sua expressão de que a Academia Sergipana de Letras seja um feudo do acadêmico Anderson Nascimento. E esclareço: a Academia é formada por 40 membros reconhecidamente livres para votar na escolha dos novos membros quando por morte vaga uma cadeira”


JLPolítica - O senhor acha que a Academia Sergipana de Letras, hoje um feudo do culturalmente eunuco Anderson Nascimento, sinaliza o que de positivo no terreno da cultura de Sergipe?
AS -
Em primeiro lugar, não concordo com a sua expressão de que a Academia Sergipana de Letras seja um feudo do acadêmico Anderson Nascimento. E esclareço: a Academia é formada por 40 membros reconhecidamente livres para votar na escolha dos novos membros quando por morte vaga uma cadeira. Assim, o fato de a Academia ter recebido acadêmicos que são familiares do Dr. Anderson Nascimento não significa que se trate de um feudo, mas da vontade da maioria dos acadêmicos. Também não concordo que o acadêmico Anderson Nascimento não seja importante para a cultura sergipana. Eu o conheci como meu professor na Universidade Federal de Sergipe, mas a sua trajetória passa pelo jornalismo, pela educação, e como pesquisador cuidadoso e dedicado a temas como monumentos sergipanos e o cangaço. O dr. Anderson Nascimento tem uma obra fundamental para a cultura sergipana, que são os Perfis Acadêmicos que reúne a biografia e a bibliografia dos acadêmicos da Academia Sergipana de Letras ao longo de quase 100 anos de história do sodalício.

JLPolítica - O senhor acha que Sergipe tem sensibilidade e compreensão suficientes para com os que fazem arte de um modo geral a partir daqui?
AS - 
É difícil ser profeta em sua província. É difícil ser artista em sua própria terra. Falta a Sergipe o sentimento de pertencimento que tem, por exemplo, o povo baiano e o povo pernambucano.

JLPolítica - Isso torna esses povos autossuficientes.
AS -
Sim. Essa é a razão pela qual a música, a literatura e o teatro desses Estados não precisam de outras regiões. Sergipe precisa valorizar mais os seus talentos.

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