Carlos Cauê: “Obra de Edvaldo Nogueira foi o vetor fundamental da vitória dele”

Entrevista

Jozailto Lima

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Carlos Cauê: “Obra de Edvaldo Nogueira foi o vetor fundamental da vitória dele”

5 de dezembro de 2020
“Eu estimularia Edvaldo a pensar em tudo o que ele possa vir a ser no futuro”

Carlos Cauê é excelente no marketing político a que se presta ano após anos em Sergipe, há exatos 32, ou os políticos sobre os quais ele aplica sua ação marqueteira é que são os tais, os bonzões, com baixa vocação para perdedores?

Esta Entrevista Domingueira não se presta a desvendar isso. Mas, ao longo deste tempo a expertise de Carlos Cauê, 59 anos, em fazer campanha e ganhar eleições passou a ser um referencial de excelência em terras sergipanas. Pelo que faz e representa, ele é quase canonizado. Amado e odiado.

Dez entre dez políticos sergipanos sonham em casar marqueteiramente com ele. Explicando melhor: sonham em tê-lo como um auxílio luxuoso em suas campanhas eleitorais.

Mas se Carlos Cauê, este alagoano que está há 40 anos em Aracaju, é competente no planejamento e na aplicação do marketing que põe em prática, o é também em fidelidade e preservação de relacionamento de grupos políticos com os quais se relaciona.

Outrora um militante de um PCdoB ainda na clandestinidade do fim da ditadura militar brasileira - ela morre em 1985 -, onde conhece a figura de Edvaldo Nogueira e com que firma amizade, Cauê bota corpo e alma no marketing de uma primeira campanha política em 1988.

Era a de prefeito de Aracaju, na qual Jackson Barreto, que houvera sido cassado do mandato de prefeito um ano antes, apoiava a figura de Wellington Paixão. Ganhou - e desde então nunca mudou de lado nem de camisa. Sabe esgueirar-se como um mágico dos dramas e divisionismos que ocorrem no seio do agrupamento no qual atua.

Momento de alegria com Edvaldo e Katarina Feitoza, após confirmação da vitória deste ano de 2020
Edvaldo Nogueira e Carlos Cauê: amizade que remonta aos anos 80 na UFS e a um tempo de militância política na clandestinidade

E desta leitura, Cauê tira, também, o maior coeficiente de erros dos oponentes do prefeito e dos seus aliados neste 2020. “O maior erro foi a subestimação de Edvaldo e do alcance do trabalho dele”, sustenta.

“Para Danielle Garcia, Rodrigo Valadares e Marcio Macêdo a cidade vivia um caos. A cidade estava abandonada e se assemelhava a uma espécie de Biafra do século passado. Para eles, nada funcionava. As obras realizadas eram eleitoreiras e não serviam à população, pois, no máximo, tratava-se apenas de “asfalto” e “concreto””, completa Carlos Cauê.

“Se houvessem consultado os aracajuanos teriam entendido que não era assim que a cidade pensava. E quando se parte de uma premissa errada, fica difícil consertar no caminho. A delegada enredou-se no próprio errático de sua trajetória, quis abordar os problemas urbanos de Aracaju como caso de polícia e sofreu o revés desse equívoco. Rodrigo Valadares convocou o nonsense como fórmula para atrair o pensamento conservador e o bolsonarismo da cidade e Marcio Macêdo escandalizou os aracajuanos com uma crítica desproporcional e infundada a Edvaldo”, completa.

Por falar em Marcio Macêdo, Cauê o coloca como o senhor do comportamento que mais lhe despertou a atenção na campanha. “Infelizmente, negativamente, pois de todos os contendores poderia se esperar uma postura agressiva, ofensiva, de ataques e até de distorção deliberada da verdade, mas nunca esperei que tal comportamento fosse praticado por um ex-aliado que até menos de um ano antes integrava a gestão de Edvaldo, usufruía das condições por ela destinadas e participava da formulação das políticas públicas da gestão”, diz.

Nesta Entrevista, Carlos Cauê vai falar do eventual prefeito melhor que os aracajuanos devem esperar em Edvaldo Nogueira, dirá que o grupo liderado pelo governador Belivaldo Chagas tem tudo para fazer o sucessor em 2022, acenará para uma perspectiva de reatamento do PT com a base aliada de governistas de Sergipe e vai dizer que as eleições municipais deste ano foram uma prévia do bota-fora de Jair Bolsonaro em 2022.

Carlos Roberto da Silva nasce no dia 15 de julho de 1961, em Maceió, Alagoas. Ele é filho de Hildebrando José da Silva e Maria de Lourdes Lima da Silva, ambos já falecidos. É solteiro e pai de Fernanda Rabelo da Silva, de 29 anos.

Em 2019, Carlos Cauê toma posse como secretário de Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Aracaju

Carlos Cauê chega a Aracaju de mala e cuia em 1980 e vai parar no curso de Engenharia Química da Universidade Federal, na qual travou contato com a militância estudantil e depois com a política partidária.

Não conclui, e termina entrando para a área de Comunicação Social, habilitando-se em Jornalismo com conclusão em 1997. Ele iniciou doutorado na Universidade Complutense de Madrid, na Espanha, mas não concluiu.

Paralelamente às atividades de marqueteiro, Cauê é professor de Marketing Político, está secretário de Comunicação Social da Prefeitura Municipal de Aracaju, já o foi da mesma área no Estado de Sergipe, é consultor de Marketing Político, Administrativo e Eleitoral e é contista e poeta com livros lançados nas duas áreas.

Depois de tanto tempo radicado em Aracaju, Carlos Cauê não guarda dúvida de que aracajuano e sergipano são gentílicos que lhe abarcam e lhe representam muito bem.

“Quarenta anos de Aracaju já são suficientes para eu saber quem eu sou e onde, verdadeiramente, é o meu lugar. Maceió e Alagoas como um todo passaram a ser o pouso de um turista bissexto, que ainda se encanta com suas paragens e sofre de uma familiaridade eterna. Mas minha terra é Sergipe”, diz ele.

Então leia a Entrevista desse marqueteiro sergipano. Vale, sim, a empreitada.

Fernandinha Rabelo da Silva, um projetinho de gente antes dos oito meses: uma dupla em alegria
DAS DIFERENÇAS ENTRE OS DOIS EDVALDOS
“Em 2016 tínhamos um candidato a prefeito que havia estado quatro anos fora de qualquer tipo de mandato, tendo sido este findado em 2012. Dessa vez, contamos com um candidato no exercício de um mandato altamente qualificado e reconhecido pela população, dono de um enorme legado de realizações e que conseguiu vencer os grandes problemas que encontrara na cidade”

JLPolítica - Quais as diferenças básicas de conduzir esta campanha de 2020 com Edvaldo Nogueira na comparação com a de 2016?

Carlos Cauê - Basicamente, o fato de que em 2016 tínhamos um candidato a prefeito que havia estado quatro anos fora de qualquer tipo de mandato, tendo sido este findado em 2012. Ou seja, um candidato que só tinha para mostrar realizações de, no mínimo, quatro anos atrás, que esteve fora da seara política via mandato e que, portanto, só contava com a lembrança que a população tinha de seu trabalho à frente da Prefeitura quatro anos antes.

JLPolítica - E agora...

Carlos Cauê - Dessa vez, contamos com um candidato no exercício de um mandato altamente qualificado e reconhecido pela população, dono de um enorme legado de realizações e que conseguiu vencer os grandes problemas que encontrara na cidade, realizando um enorme esforço de reconstrução e feito a cidade avançar visivelmente para uma etapa inquestionável de qualidade de vida. Essa a diferença fundamental entre 2016 e 2020.

JLPolítica - Como é que o senhor sentiu o “novo Edvaldo” coordenador 100% de sua própria eleição, diferentemente das duas outras? Ele passou quais características mais salientes?

Carlos Cauê - Senti um político extremamente consciente do seu papel e do enorme legado construído ao longo de pouco menos de quatro anos de mandato. Um homem reconhecido nas ruas pelo trabalho que executou - reconhecido até pelos adversários, que mesmo lhe fazendo oposição não deixaram de constatar os avanços que a cidade havia alcançado sob o seu comando. Senti em Edvaldo um homem seguro de si. Um político atento à movimentação dos vetores na sociedade, que apostou na sua capacidade de gestão para mostrar seu valor. Que soube entender as mudanças que o eleitorado veio fazendo, as alterações conjunturais e estruturais que vieram se dando na base política dos projetos que estruturaram o poder no Brasil.

JLPolítica - Qual é o contributo da obra administrativa de Edvaldo Nogueira na vitória obtida por ele este ano?

Carlos Cauê - A obra de Edvaldo foi o vetor fundamental da vitória dele. E isso porque ele soube como ninguém transfigurar sua ação administrativa - a realização das inúmeras obras e a prestação de serviços - num valor político inquestionável que, mesmo sem o rótulo de projeto político tradicional, consubstanciou-se num poderoso instrumento político para transformar vidas e melhorar a qualidade de vivência das pessoas, incluindo milhares e milhares de aracajuanos em um novo patamar de cidadania, permitindo o acesso de milhares de famílias à dignidade, ao respeito, ao direito de morar e de viver numa cidade melhor. Não vejo em Aracaju obra social maior que a de Edvaldo Nogueira.

JLPolítica - Quais dos comportamentos de campanha eleitoral de Aracaju este ano mais lhe chamaram a atenção, e por que?

Carlos Cauê - O comportamento eleitoral que me chamou mais a atenção foi o do candidato Márcio Macedo, do PT. E chamou a atenção, infelizmente, negativamente, pois de todos os contendores poderia se esperar uma postura agressiva, ofensiva, de ataques e até de distorção deliberada da verdade, mas nunca esperei que tal comportamento fosse praticado por um ex-aliado que até menos de um ano antes integrava a gestão de Edvaldo, usufruía das condições por ela destinadas e participava da formulação das políticas públicas da gestão.

Carlos Cauê em dia de casamento da filhota, em novembro de 2018
UM SUCESSO ELEITORAL QUE VEIO DA OBRA
“A obra de Edvaldo foi o vetor fundamental da vitória dele. E isso porque ele soube transfigurar sua ação administrativa - a realização das inúmeras obras e a prestação de serviços - num valor político inquestionável que, mesmo sem o rótulo de projeto político tradicional, consubstanciou-se num poderoso instrumento político para transformar vidas e melhorar a qualidade de vivência das pessoas”

JLPolítica - Mas o que era que o senhor esperava de Marcio enquanto candidato?

Carlos Cauê - Mesmo respeitando o direito de o Partido dos Trabalhadores lançar sua candidatura própria, o que se esperava era um mínimo de honestidade na disputa. Infelizmente, o que vimos foi o contrabando político dar lugar à discussão séria e a justificação ideológica servir como camuflagem à própria recusa em enxergar os equívocos.

JLPolítica - Mas a conduta do Marcio não foi para eliminar a imagem de Edvaldo da esfera petista?

Carlos Cauê - Em algum momento, alguém justificou que os ataques de Márcio, sim, seriam uma espécie de vacina para que a população soubesse que Edvaldo não era do PT. Insinuava-se que a população desconhecia esse fato. E pior: credenciava unicamente ao PT os votos que Edvaldo obtivera ao longo de suas vitórias eleitorais. Ou seja, era como dizer: “você nunca teve voto, foi sempre o PT que elegeu você. Agora que estamos separados, a população precisa saber que você não é PT, para que não lhe dê os votos”. Este argumento beira a canalhice. Se conhecessem - e desconfio que conhecem, apenas não admitem - o profundo desgaste, demonstrado largamente pelas pesquisas de opinião, que o Partido dos Trabalhadores sofreu em Aracaju, procurariam recuperar o prestígio perdido e não espicaçar um aliado, como se este estivesse lhes roubando votos, tentando creditar a outros o infortúnio que, verdadeiramente, é somente seu.

JLPolítica - O senhor teria sido premonitório em 2018, ao dizer um “temo que a oposição de Sergipe seja um fenômeno tão qual o ovo da serpente. Traduzindo: que ela surge de entre nós mesmos. Desse agrupamento vencedor”, e ver depois a dissidência bancada pelo PT em 2020, arrastando inclusive, e radicalmente, Eliane Aquino?

Carlos Cauê - Preferiria que essa premonição houvesse sido um delírio. Mas anos de observação política e de atenção aos variados embalos que as forças costumam produzir, sobretudo num país como o Brasil, sempre nos alertam sobre o processo de mitose-meiose que se abate sobre agrupamentos políticos, engendrando seu antagonismo por dentro. É um processo que pode ser visto como natural e até inevitável, mas em certas conjunturas ele pode se revelar homicida ou suicida. Em qualquer das hipóteses, em geral, quem perde é a sociedade. Sobretudo em momentos em que a unidade deveria se impor como força superior para a sobrevivência da democracia e dos direitos.

JLPolítica - Quais lições mais saltam dos 25.070 votos de Marcio Macêdo, ou apenas 9,55% do total dos válidos?

Carlos Cauê - Salta a lição de que a sua candidatura foi um erro. Dividiu o agrupamento ao qual esteve integrado baseado em justificações mais idiossincráticas do que políticas. Deu chance ao lavajatismo - aliás, contra o qual sequer arremeteu – e à direita conservadora que, se não teve mais expressão durante a recente disputa, deve-se mais ao próprio desencontro entre papel e personagem e ao núcleo de centro-esquerda que se manteve unido em torno da candidatura de Edvaldo, a despeito da diáspora petista.

JLPolítica - Os 25.070 votos de Marcio, com o expresso e óbvio apoio da vice-governadora Eliane Aquino, ajudam a relativizar a visão dela e de seguidores dela que acham que fora ela a responsável direta pelas eleições de Edvaldo Nogueira prefeito em 2016 e de Belivaldo Chagas governador em 2018?

Carlos Cauê - Não sei se Eliane Aquino faz esse julgamento de si. Que pessoas à sua volta, como sua pergunta mesmo formula, pensam assim, é notório. De qualquer modo, é um pensamento tolo. Embasado num apriorismo inocente e cego. Às vezes a ânsia de servir produz deformações discutíveis. Tendo em conta o que fizeram e representaram na política no momento em que foram chamados, é difícil pensar que outras pessoas poderiam ter ganhado as eleições de 2016 e 2018, senão Edvaldo Nogueira e Belivaldo Chagas por eles mesmos. Isso não significa desmerecer os papéis que Eliane desempenhou nas duas eleições. Para isso mesmo ela foi chamada. E bem cumpriu.

Com o prefeito Edvaldo Nogueira e toda a equipe de criação da última campanha eleitoral deste ano
DO BATER-FOGO DE MARCIO MACÊDO
“O comportamento eleitoral que me chamou mais a atenção foi o do candidato Márcio Macedo, do PT. E chamou a atenção, infelizmente, negativamente, pois de todos os contendores poderia se esperar uma postura agressiva, ofensiva, de ataques e até de distorção deliberada da verdade, mas nunca esperei que tal comportamento fosse praticado por um ex-aliado”

JLPolítica - Mas o senhor vê os traumas de 2020 com os petistas sergipanos como irreversíveis, gerando uma impossibilidade de interlocução futura?

Carlos Cauê - Creio que tudo vai depender de como o PT vai se mover no terreno político em Sergipe. Esse agrupamento já passou por fraturas mais dolorosas e preocupantes, mas teve a maturidade de refazer os caminhos dos unguentos, cerzir cicatrizes e retomar a função do esqueleto. O que chama a atenção é que o comportamento do PT em Sergipe não é um caso isolado, mas desvela uma posição para o enfrentamento político no país.

JLPolítica - Mas, pessoalmente, o senhor espera que dê no quê?

Carlos Cauê - Sinceramente, espero que o PT vença suas contradições, aclare sua reflexão sobre o seu papel e o papel das forças que atuam na conjuntura desse campo e que possa voltar a ser força decisiva no confronto ao conservadorismo e na luta pela democracia no país. Tudo isso, a meu ver, passa por um exame honesto e minucioso das circunstâncias e condições que derivaram para a Lava Jato, o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Não quero fazer julgamento desses episódios, nem cair no discurso militante de um e de outro lado. Mas chamar a atenção de que são neles que reside o fóssil - aqui como origem - dessa arqueologia política que se precisa praticar.

JLPolítica - E isso pode colocar em risco as intenções do senador Rogério Carvalho em disputar o Governo de Sergipe em 2022?

Carlos Cauê - É cedo para dizer qualquer coisa sobre 2022 no campo de uma pessoa individualmente. Dois longos anos se agigantam à nossa frente. E há espaço para alterar o desenho que foi, apenas, esboçado hoje. Tinta, tela, solvente, ideias e mãos habilidosas ou não estarão com os pincéis em punho. 

JLPolítica - O senhor não tem sentido uma certa dislexia na pessoa política e no mandato do senador Rogério Carvalho? Tome dislexia como alheamento, um nada poroso no estar político?

Carlos Cauê - Realmente, não tenho elementos para julgá-lo. O que recordo do mandato do senador Rogério, além de sua militância petista nas causas partidárias, é um outdoor que ele distribuiu pela cidade de Aracaju parabenizando a si mesmo por uma verba de R$ 200 milhões remetida a Sergipe pelo mandato dele, e acrescendo à mensagem o axioma: “Menos ideologia. Mais atitude”. O que me deixou muito otimista.   

JLPolítica - O senhor vê bons espaços nos horizontes políticos de Eliane Aquino fora deste agrupamento que comanda a Prefeitura Municipal de Aracaju e o Governo do Estado de Sergipe?

Carlos Cauê - É difícil dizer. As pessoas encontram seus caminhos. Nem sei se Eliane tem interesses, ou quais pretensões ela possa desejar na política. O que eu gostaria mesmo é que todos ficassem unidos. Considero que os desafios para o futuro são enormes, e separados todos perdemos.

Viração, rastro da memória: a corrente estudantil que mandou no DCE de Química da UFS, do qual Cauê foi presidente de 1984 a 1985
DO PAPEL DE ELIANE AQUINO EM 2016 E 2018
“Tendo em conta o que fizeram e representaram na política no momento em que foram chamados, é difícil pensar que outras pessoas poderiam ter ganhado as eleições de 2016 e 2018 senão Edvaldo e Belivaldo por eles mesmos. Isso não significa desmerecer os papéis que Eliane desempenhou nas duas eleições. Para isso mesmo ela foi chamada. E bem cumpriu”
 
  

JLPolítica - Qual foi o maior erro do marketing opositor contra o seu candidato e que lhe ajudou em sua ação marqueteira?  

Carlos Cauê - O maior erro foi a subestimação de Edvaldo e do alcance do trabalho dele. Para Danielle Garcia, Rodrigo Valadares e Márcio Macedo a cidade vivia um caos. A cidade estava abandonada e se assemelhava a uma espécie de Biafra do século passado. Para eles, nada funcionava. As obras realizadas eram eleitoreiras e não serviam à população, pois, no máximo, tratava-se apenas de “asfalto” e “concreto”.

JLPolítica - Onde estão os erros desta visão?  

Carlos Cauê - No todo dela. Se houvessem consultado os aracajuanos teriam entendido que não era assim que a cidade pensava. E quando se parte de uma premissa errada, fica difícil consertar no caminho. A delegada enredou-se no próprio errático de sua trajetória, quis abordar os problemas urbanos de Aracaju como caso de polícia e sofreu o revés desse equívoco. Rodrigo Valadares convocou o nonsense como fórmula para atrair o pensamento conservador e o bolsonarismo da cidade, mas nem ele mesmo convenceu a direita sergipana de estar à altura dessa representação. Márcio Macedo escandalizou os aracajuanos com uma crítica desproporcional e infundada a Edvaldo. E decepcionou aqueles que esperavam que o homem que a toda hora evocava Déda e Lula realmente tivesse algum projeto de cidade para lhes apresentar. Não tinha.

JLPolítica - Quais as principais razões para Edvaldo Nogueira ter renegado os debates durante a campanha?

Carlos Cauê - Debates, assim como diversas outras variáveis na esfera de uma disputa eleitoral, são questões de estratégia, medidas com o cartesianismo clássico das estatísticas. Para a coligação de Edvaldo, não era hora nem circunstância para abrir possibilidades de marola na trajetória que a candidatura vinha traçando. Nossa avaliação indicava que não havia um clamor (como de fato se verificou) da sociedade para que houvesse debate. A dimensão da vitória de Edvaldo no primeiro turno e a distância entre os contendores no segundo turno deixavam isso claro. Os protagonistas de um debate são os debatedores. São eles que precisam concordar e decidir se vão ou não protagonizar esse episódio. E assim como há candidatos sedentos por isso, há outros que têm o direito a não estar tão sedentos assim.

JLPolítica - Quem deve ser o tutor da realização ou não de um debate?

Carlos Cauê - Essa é uma decisão que cabe aos contendores. Não pode ser uma imposição de uma emissora, de uma instituição, de ONG ou algo que o valha. Além disso, a atitude e o comportamento beligerantes de Danielle durante toda a campanha não pressupunha um certame civilizado, mas um festival de agressões bem ao estilo das fake news que sua candidatura produziu em profusão durante os dois turnos da eleição. Visto isso, decidimos não ir.

JLPolítica - Não ter ido aos debates teve que peso sobre os resultados obtidos por Edvaldo nas urnas?

Carlos Cauê - A meu ver, nenhum. O que você teve foi a galera da Danielle usando politicamente nossa decisão para tentar auferir alguma vantagem e uns pouco gatos pingados valendo-se de motivações hipocritamente democráticas tentando tirar uma “casquinha” em Edvaldo por ele não ter ido. Coisa de torcida.

Com Jorge Carvalho e Amaral Cavalcanti, na biblioteca do primeiro, degustando livros
O MAIOR ERRO DE CÁLCULO DAS OPOSIÇÕES
“O maior erro foi a subestimação de Edvaldo e do alcance do trabalho dele. Para Danielle, Rodrigo e Márcio Macedo a cidade vivia um caos. A cidade estava abandonada e se assemelhava a uma espécie de Biafra do século passado. Para eles, nada funcionava. Se houvessem consultado os aracajuanos teriam entendido que não era assim que a cidade pensava”

JLPolítica - A candidata a vice-prefeita Katarina Feitoza teria sido subutilizada pelo seu marketing e pela campanha inteira?

Carlos Cauê - Pelo contrário. Katarina Feitoza cumpriu um papel formidável na campanha. Primeiro, pela origem de sua indicação política, que lhe radicou a uma das forças importantes da nossa coligação. Segundo, por quem ela é como ser humano, que serviu para estabelecer a enorme diferença entre um jeito e outro de ser delegada. E terceiro, pela sua persona: serena, bem-querida, amigável e ao mesmo tempo reconhecida profissional e humanamente. Ela foi peça essencial em átomo, alma, cor, palavra, espírito e presença benfazeja.

JLPolítica - Pelo pouco que o senhor conviveu com Katarina, o que é ela enquanto produto humano e eventualmente de marketing?

Carlos Cauê - Enquanto ser humano, não posso opinar, porque essa é uma tarefa de Deus e eu não me atrevo a isso. Quanto à política - e não especificamente ao marketing -, creio que temos nela uma nova presença, capaz de encarar desafios e de servir à coletividade na esfera pública política.

JLPolítica - O que a reclusão das pessoas em casa em virtude do coronavírus influiu no formato da produção da propaganda eleitoral?

Carlos Cauê - O coronavírus só atrapalhou a comunicação direta entre os candidatos e os eleitores, aquela comunicação informal que se expressa no chamado corpo a corpo e que é tão tradicional entre nós. Como hoje a comunicação se processa cada vez mais através de instrumentos tecnológicos sofisticados, capaz de alcançar o eleitor em nichos ou bolhas mais específicos, foi possível levar até ele nossa mensagem adequada ao formato das principais plataformas - a televisiva e radiofônica -, via programas e inserções comerciais, e a digital através da internet nas redes. Creio que a reclusão até ajudou ao eleitor assistir mais aos programas eleitorais e inserções. E nesse particular, quero chamar a atenção para a qualidade, criatividade, irreverência e acerto do nosso programa de rádio. Desde o começo quis fazer um programa diferente, vivo, sem um formato fechado, que professasse o bom humor, sem perder a eficácia. O resultado foi que muitas vezes tentaram nos imitar, mas os resultados foram comoventemente ridículos, isso quando não caíram na pantomima tola. 

JLPolítica - O senhor atribuiu aquele montão de 112.597 abstenções aracajuanas no dia 29 à pandemia, ou terá sido pela desilusão das pessoas com a classe política?

Carlos Cauê - Há, certamente, um conjunto de fatores que precisam ser levados em consideração e que podem explicar esse tamanho da abstenção. A desilusão com a política deve ainda ter seu percentual de influência, mas acredito que a pandemia e, sobretudo, a facilidade em justificar ausência na votação, que hoje pode ser feita via aplicativo no celular e pela irrisória quantia de R$ 6, tenha sido o motivo principal de as pessoas não terem ido votar. Ao facilitar tão fortemente as condições para essa justificação de ausência à votação, o TSE, na prática, instituiu o voto facultativo no país, embora sem um correspondente ordenamento jurídico para isso.

JLPolítica - Como cidadão, que mérito o senhor daria aos desiludidos da política, ou à desilusão em si por esta atividade? Isso nos salva ou nos salvará de quê?

Carlos Cauê - Esse tipo de desilusão não nos salvará de nada. Ao contrário, nos expõe a vontades alheias à nossa, com consequências nocivas para a vida de cada um.

Carlos Roberto da Silva nasce no dia 15 de julho de 1961, em Maceió, Alagoas, mas se declara sergipano e pronto
NÃO HAVIA UM CLAMOR POR DEBATE
“Debates são questões de estratégia, medidas com o cartesianismo clássico das estatísticas. Para a coligação de Edvaldo, não era hora nem circunstância para abrir possibilidades de marola na trajetória que a candidatura vinha traçando. Nossa avaliação indicava que não havia um clamor (como de fato se verificou) da sociedade para que houvesse debate”

JLPolítica - Em nenhum momento o agrupamento de vocês admitia a possibilidade de perder, mesmo com Danielle Garcia surfando bem nas primeiras pesquisas?

Carlos Cauê - Nunca acreditamos em pesquisas onde a candidata Danielle Garcia estivesse surfando bem nas estatísticas. Sempre tivemos consciência do que seria o pleito das potencialidades de cada agrupamento, suas respectivas candidaturas e o momento político de cada etapa.

JLPolítica - O senhor não acha que a votação de segundo turno de Danielle Garcia, apesar de menor do que a de Valadares Filho em 2016, relativizou um pouco o poderio do grupão em torno de Edvaldo Nogueira?

Carlos Cauê - Não acho. A dimensão da abstenção impediu que Edvaldo fosse a patamares superiores a 60% do pleito. Se você observar a proporcionalidade entre os candidatos verá que os 100 mil eleitores faltantes, distribuídos pelo peso de cada um, dariam um percentual de votos ainda maior a Edvaldo.

JLPolítica - Em Entrevista concedida pelo senhor aqui neste Portal em 10 de novembro de 2018 lhe foi feita a seguinte pergunta: “Do ponto de vista do marketing político, quais as melhores e as piores características de Belivaldo Chagas?”. Mudemos agora para Edvaldo Nogueira e a pergunta está refeita.

Carlos Cauê - Edvaldo é um homem equilibrado, ponderado, que pensa bastante nas coisas antes de fazê-las. Isso é muito bom para o gestor e o político, embora haja circunstâncias que necessitem mais celeridade. Edvaldo esconde sua dimensão humana, talvez por medo de errar, ou de resvalar à concepção trivial a que a política condena tantos políticos. Se deixar que o humano que há nele aflore mais presentemente - com seu inato direito humano ao acerto e ao erro – talvez se faça um político maior e um ser humano ainda melhor.

JLPolítica - O que se pode esperar de Edvaldo Nogueira e da nova administração dele?

Carlos Cauê - Um prefeito ainda mais comprometido com a cidade de Aracaju. Empenhado em resolver seus problemas, buscar soluções para prestar melhores serviços e realizar obras mais necessárias aos aracajuanos. Edvaldo leva a sério seu programa de governo, se notabilizou por cumprir promessas e essa característica ele vai levar adiante. Os aracajuanos podem esperar que terão um gerente atento e sensível aos anseios da população, com uma visão moderna, que aposta na tecnologia como aliada do progresso das cidades e que não deixará que questões políticas ou ideológicas desviem-no do seu compromisso com os aracajuanos.     

JLPolítica - Mas além de Márcio Macedo, quem mais entre os neo-opositores de Edvaldo excedeu nesta campanha de 2020 para além do razoável?

Carlos Cauê - A delegada Danielle e Rodrigo Valadares cumpriram seus rituais de oposição. Se notabilizaram em pintar uma cidade com os tons do apocalipse e se chocaram com a dura realidade da opinião contrária dos aracajuanos. Danielle se notabilizou pela produção de fake news, o que é deplorável. Rodrigo levou às escâncaras o objetivo de “causar”. O tempo dirá sobre a falácia ou eficácia disso.

Carlos Cauê, no quartel-general da Comunicação da PMA, de onde se demitiu para cuidar da campanha deste ano
“KATARINA CUMPRIU PAPEL FORMIDÁVEL NA CAMPANHA”
“Primeiro, pela origem de sua indicação política, que lhe radicou a uma das forças importantes da coligação. Segundo, por quem ela é como ser humano, que serviu para estabelecer enorme diferença entre um jeito e outro de ser delegada. E terceiro, pela sua persona: serena, bem-querida, amigável e ao mesmo tempo reconhecida profissional e humanamente”

JLPolítica - A candidatura e o desempenho de Rodrigo Valadares, PTB, nesta eleição são dignas de que nota?

Carlos Cauê - Não tenho autoridade e nem acho certo dar nota - na acepção numérica - ao desempenho deste ou daquele candidato. Faço minhas observações, como já as fiz a você nessa entrevista, movido pelo que entendo de política e de comunicação política. Mais que isso, não faço.

JLPolítica - Até que ponto a sua ação marqueteira de conformidade quase ideológica, ou de fidelidade a um grupo político, ajuda na eficácia final dos seus resultados?

Carlos Cauê - É claro que conhecer mais de perto o modus operandi de um agrupamento e de suas lideranças ajuda na formulação de uma estratégia mais correta e, talvez, mais eficaz. Nesse sentido, tenho tido sorte de trabalhar com um segmento que conheço bem.

JLPolítica - O senhor é muito cobiçado por outras vertentes políticas do Estado em busca de sua ação marqueteira? E nunca mudaria de lado?

Carlos Cauê - (Risos) No dia da votação do segundo turno encontrei o empresário Milton Andrade, que me revelou que queria meu trabalho profissional numa possível futura campanha dele. Eu respondi que é só chamar. Estou aberto a convites.

JLPolítica - A carreira acadêmica na área de comunicação e marketing nunca lhe seduziu ou não lhe sobrou tempo? 

Carlos Cauê - Seduziu e seduz. Fico me fazendo promessas de dar seguimento a estudos nessa seara, ingressar num grupo de pesquisa sobre o assunto, sei que possuo muito conhecimento nessa área e muito material das 16 campanhas que participei, desde a longínqua campanha a prefeito em 1988, quando iniciei, até hoje - essa última de 2020. Mas, o tempo também é cruel e termino me distraindo. Quero muito escrever um livro sobre essas campanhas ou aspectos relevantes delas que ajude ao entendimento e sirva como referência para os estudos do tema. Ainda farei. Tenho fé que farei.

JLPolítica - Como é possível conciliar o cartesianismo do marketing político com a condição de escritor de contos, de teatro, de poesia e ainda de leitor destas áreas?

Carlos Cauê - “Multipliquei-me para me sentir/ para me sentir precisei sentir tudo/ transbordei/ não fiz senão extravasar/ e há em cada canto da minha alma/ um altar a um deus diferente”. Esses versos de Fernando Pessoa lhe respondem. Tudo me completa.

Marcelo Déda e a lembrança de um tempo de bom relacionamento, para quem Cauê fez quatro campanhas vitoriosas em primeiro turno
A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS E A CAMPANHA
“Creio que a reclusão até ajudou ao eleitor assistir mais aos programas eleitorais e inserções. E nesse particular, quero chamar a atenção para a qualidade, criatividade, irreverência e acerto do nosso programa de rádio. Desde o começo quis fazer um programa diferente, vivo, sem um formato fechado, que professasse o bom humor”

JLPolítica - O senhor estimularia Edvaldo Nogueira a já pensar como um pré-candidato a governador em 2022? 

Carlos Cauê - Eu estimularia Edvaldo a pensar em tudo o que ele possa vir a ser no futuro. É jovem, capaz, competente e hábil. Mas teria a honestidade de não iludi-lo, nem arrojá-lo à aventura. 

JLPolítica - O senhor vê chances de esse agrupamento fazer o sucessor de Belivaldo Chagas em 2022?

Carlos Cauê - Vejo todas. Esse agrupamento saiu extremamente vitorioso dessas eleições e tem tudo para - com maturidade e juízo - equacionar os interesses internos, unificar-se em torno de um nome que seja capaz de representar o coletivo e dar sequência ao projeto político que se edificou em torno dele.

JLPolítica - Mas seria a quinta eleição consecutiva do agrupamento, iniciadas por Marcelo Déda lá em 2006. O cansaço não pode ser uma maresia a corroer as possibilidades aí?

Carlos Cauê - O projeto é o mesmo, mas as pessoas o renovam. Belivaldo faz isso hoje. Cada pessoa tem o condão de aportar novidades às coisas, pensá-las de modo diferente, fazê-las evoluir. Superar-se. É assim que a humanidade caminha e cresce. Alguns apostaram que Edvaldo ir para um quarto mandato seria sua derrota. Mas Edvaldo renovou-se no mandato em curso e se fez a melhor opção para Aracaju. A mesmice não é o projeto. Mas o que se faz dele.

JLPolítica - Em 2018, o senhor deu a seguinte resposta aqui sobre o futuro de Jair Bolsonaro e seu Governo: “Eu não confio no Governo de Bolsonaro. Ele até pode me surpreender, fazendo um excelente Governo. Mas eu não confio”. Acha hoje que foi comedido ou radical?

Carlos Cauê - Continuo não acreditando no Governo de Bolsonaro. E nem é só pelas causas clássicas de avilte que ele produz na democracia e no comportamento do brasileiro. É mesmo também pela má-gestão, pela ausência de um projeto de nação, pela incompetência de sua máquina. E o medievalismo de suas concepções.

JLPolítica - O senhor vê algo no horizonte atual se armando para deter Jair Bolsonaro e o bolsonarismo em 2022?

Carlos Cauê - Acho que o brasileiro é melhor e maior do que o que conseguiu produzir eleitoralmente em 2018. Veja Donald Trump nos Estados Unidos: parecia que era imbatível e dono absoluto do futuro. E os americanos escolheram um septuagenário de 78 anos. Essas eleições municipais brasileiras já ensaiaram um arrependimento. Creio que o Brasil se prepara para enterrar Bolsonaro e o bolsonarismo. E deixá-los como uma preciosa lição no tempo e na história do nosso povo.

Para Carlos Cauê, marketing tem peso, sim, mas quem ganha eleição é político e não marketeiro
SEM NUNCA TER PENSADO EM PERDER PARA DANIELLE
“Nunca acreditamos em pesquisas onde a candidata Danielle Garcia estivesse surfando bem nas estatísticas. Sempre tivemos consciência do que seria o pleito das potencialidades de cada agrupamento, suas respectivas candidaturas e o momento político de cada etapa”

JLPolítica - O expresso derrotismo dele nas eleições de 2020 deve ser lido como?

Carlos Cauê - Deve ser lido como um sinal. As condições emocionais em que o país optou por ele foram, deveras, singulares. Havia, sobretudo, a decepção com o PT e o Brasil quis dar uma resposta. Terminou abraçando um embuste. Se o Partido dos Trabalhadores houvesse, durante o processo, feito um gesto de reconhecimento de seus erros e, com a humildade dos que erram, buscado sua remissão, talvez houvesse encontrado no coração dos brasileiros campo para uma reflexão mais madura, principalmente diante de tantos benefícios legados à nação por vários governos petistas. Infelizmente, preferiu se conduzir como quem nada fizera. Não é assim que se trata feridas abertas numa relação política ou de amor. Ou de ambas.

JLPolítica - Na sua entrevista de há dois anos a este Portal o senhor responde à pergunta “deprime-lhe ser rotulado de o marqueteiro do mal?”, com uma introdução que dizia o seguinte: “recebi isso com lisonja, como elogio”. Algo mudou nessa receptividade sua? 

Carlos Cauê - Sim. Constatei que a expressão virou xororô de derrotados. Inconformados com os resultados eleitorais que a população lhes deu em algum pleito. Incapazes de assumir os próprios erros políticos na jornada, essas pessoas preferiram ficar com um mimimi monocórdio e estéril, tentando terceirizar suas derrotas. Assistir à velhas raposas passarem por esse vexame já é difícil, mas compreensível. Agora, ver pessoas com razoável nível de inteligência lançarem mão do asqueroso artifício, aí é deprimente.

JLPolítica - Em 15 de julho do ano que vem o senhor fará 60 anos e mais de 40 deles já são vividos em Sergipe e não em Alagoas. O senhor se sente hoje mais sergipano do que alagoano?

Carlos Cauê - Sim. Muitíssimo mais sergipano. Saí de Maceió com 19 anos para a aventura universitária em Aracaju. A Engenharia Química da UFS seria o porto aonde eu aportaria meu caçuá de ilusões profissionais. Mas aí veio a vida e levou esses sonhos para lá. O jornalismo findou sendo minha casa acadêmica. Marguerite Yourcenar diz, em Memórias de Adriano, pela boca de seu personagem-título, que a “pátria é aonde lançamos nosso primeiro olhar inteligente”. Eu diria que essa inteligência está em quando você se vê, e se vendo, se reconhece no mundo sabendo qual é o seu lugar. Quarenta anos de Aracaju já são suficientes para eu saber quem eu sou e onde, verdadeiramente, é o meu lugar.  

JLPolítica - A diáspora lhe dói ou lhe causa algum incômodo?

Carlos Cauê - Não. Mantenho estreita relação com meus familiares que residem lá e mantenho uma meia dúzia de amigos diletos que refestelam minha alma.

JLPolítica - Que novo mundo pode advir do pós-pandemia do coronavírus?

Carlos Cauê - Não sou otimista quanto a isso. Não acho que passada essa experiência venhamos nos transmutar tão fortemente que mereça nota no pentagrama das nossas melodias. A vileza e a mesquinhez humana, aliás tão flagrantemente exposta durante a pandemia, seguirão fazendo homens infelizes e ruins. E o egoísmo que vimos estampar condutas, também, infelizmente, perdurará, vitimando inocentes ou não tanto. Talvez uns usem mais máscaras. Talvez lavemos mais as mãos.

 

 

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