Evaldo Campos: “Como todo bom soldado, Bolsonaro deve, se necessário, doar a vida pela pátria”

Entrevista

Jozailto Lima

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Evaldo Campos: “Como todo bom soldado, Bolsonaro deve, se necessário, doar a vida pela pátria”

8 de janeiro de 2021
“Não tivéssemos a pandemia e a atuação autoritária do STF, o Brasil iria de vento em popa”

Bolsonarista, sim. Direitista, não. Mas ele é tão vistoso e significativo no que pensa e no que faz em sua área de atuação que a esta altura da vida rótulos são o que menos importam na vida desse moço.

Ele é Evaldo Campos, um sujeito longevo, operoso, ousado e corajoso, prestes a fazer 81 anos. Corajoso pelo ramo da advocacia que abraçou, a criminalista. Ou a penalista.

E corajoso, ainda, pelas ideias que defende no áspero e arenoso território da política atual, no qual levanta crachá sem sobressaltos para o presidente Jair Bolsonaro, um político que a entidade maior da qual é signatário, a OAB, quer vê-lo pelas costas, à beira de um alto precipício e em vias de se estatelar.

Isso para a OAB, menos para Evaldo Campos. Para esse senhor cabeça branca - nada a ver com o da lancha libidinosa -, o presidente da República Federativa do Brasil é um unguento. Uma décima maravilha.

Uma tábua de salvação. “O país queria um líder capaz de incorporar a revolta do povo e que, mesmo de chicote em punho, botasse para correr os que arriaram a bandeira verde amarela, esqueceram do nome e símbolos da pátria e propunham substituí-los pela “pax” vermelha do socialismo. Bolsonaro não era o “après moi le deluge” - depois de mim, o dilúvio - e sim, o depois de mim, a ordem, o progresso e a paz”, pontua Evaldo Campos, sem temores e nem tremores.

Bolsonaro era o único que, com algum crédito, acenava para uma efetiva mudança. Estávamos em marcha batida para a implantação da pilhagem do tesouro público e da formação de um cartel das esquerdas que caminhava em amistosa convivência com o crime organizado. O caos estava à vista. A sangria precisava ser estancada”, complementa.

Evaldo Campos nasceu em abril de 1941, em Ceará Mirim, Rio Grande do Norte, e é filho de João Fernandes Campos Neto e Palmira de Souza Campos
Evaldo Campos criança, encostado ao pai, João Campos Neto, com a segunda esposa dele, e o mano Everaldo Fernandes Campos

Nesta Entrevista, o decano do direito penal em Sergipe vai dizer que espera, obviamente, ver a renovação do mandato do atual presidente - “Eu não sei quem vai ganhar a eleição presidencial este ano. Se depender de mim, será Jair Messias Bolsonaro” -,  defenderá o valor real do direito penal, fará apologia afetuosa aos tempos de cátedra universitária, lembrará com lamento porque teve apenas um mandato eletivo e dirá o nome de quem ele gostaria de ver como candidato do grupo governista a suceder Belivaldo Chagas, PSD, no Governo de Sergipe. 

Evaldo Fernandes Campos nasceu no dia 26 de abril de 1941, na cidade de Ceará Mirim, Rio Grande do Norte, mas tem uma vida umbilicalmente ligada a Sergipe. Ele é filho de João Fernandes Campos Neto e Palmira de Souza Campos.

Evaldo Campos é casado com a bacharela em Direito Eciene Elias de Jesus Campos,de 36 anos. E tem oito filhos – obviamente, não com ela: Fabricius Glaucus Soares Campos, 58 anos; Alessandra Carla Soares Campos, 57; Iury Andrey Soares Campos, 55; Evaldo Fernandes Campo Júnior, que faleceu em 28 de agosto de 1994, aos 20 anos; Ana Letícia da Silva Campos, 27; Nathália da Silva Campos, 25; João Augusto da Silva Campos, 17, e Álvaro Augusto e Silva Campos, de 13 anos.

Ele formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe em 1968. Tem especialidade na área penal, mas, pela condição de procurador da República, que até 1988 era cumulada com as atribuições de advogado da União, atuou nas mais diversas áreas do Direito. Evaldo Campos tem registro de número 423-B na OAB/SE, mas sua primeira inscrição ocorreu na Bahia, sob o número 3.203.

Ele chegou a exercer a advocacia desde o tempo de solicitador acadêmico e por mais ou menos 48 anos bateu ponto no magistério, inicialmente em nível médio e posteriormente no superior, demorando-se mais nas áreas de Direito Penal e Direito Processual Penal.

Evaldo Campos foi procurador da República, com exercícios de atividade na Bahia, Alagoas, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe e eventualmente exerceu as funções de procurador Regional Eleitoral. Iniciou-se em 1973 e, aproveitando-se tempo de serviço anterior, aposentou-se em 1990.

Foi secretário de Estado da Administração e de Estado para Assuntos Parlamentares de Sergipe, quando escreveu o anteprojeto da Constituição para o Estado e foi apresentado à Assembleia Legislativa e transformado em sua Constituição, ao final dos trabalhos constituintes em 1988.

Evaldo Campos foi, ainda, secretário municipal de Assuntos Jurídicos de Aracaju, quando propus a criação da Procuradoria Geral do Município, o que foi aprovado pelo Legislativo. Dirigiu o Administrativo e o Jurídico da Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe e teve um mandato de vereador de Aracaju.

“Meus pares da OAB preferem Trotsky, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro e Che Guevara. Como a grande China, não aceitam nas religiões os dez mandamentos, mas os pensamentos dos camaradas Mao e Xijiping. Entre nós não há afinidade. Até mesmo porque em democracia não se fecham templos religiosos”, provoca ele.

Por tudo isso e muito mais, a Entrevista com Evaldo Campos vale o tempo da leitura.

Jair Bolsonaro: para Evaldo Campos, solução para males das bandalheiras brasileiras
BOLSONARO VEIO PARA ESTANCAR UMA SANGRIA
“Bolsonaro era o único que, com algum crédito, acenava para uma efetiva mudança. Estávamos em marcha batida para a implantação da pilhagem do tesouro público e da formação de um cartel das esquerdas que caminhava em amistosa convivência com o crime organizado. O caos estava à vista. A sangria precisava ser estancada”


JLPolítica - O senhor converteu-se num aguerrido e notável defensor do bolsonarismo e, obviamente, de Jair Bolsonaro, na contramão da maioria dos seus pares e da instituição maior que lhe representa, que é a OAB. O senhor está convencido de que trilha o melhor dos caminhos?
Evaldo Campos - Sim. Bolsonaro era o único que, com algum crédito, acenava para uma efetiva mudança. Estávamos em marcha batida para a implantação da pilhagem do tesouro público e da formação de um cartel das esquerdas que caminhava em amistosa convivência com o crime organizado. O caos estava à vista. A sangria precisava ser estancada.

JLPolítica - O senhor considera Jair Bolsonaro como fruto de uma revolta e pêndulo da história política contemporânea do Brasil. Quais são as reais traduções disso?
EC - O pêndulo da história sempre caminha de um extremo em direção ao outro. Ele nunca teve compromisso com o ponto de equilíbrio. Ele busca rebentar o modelo que abjura e, sem perceber, avança em território proibido. O equilíbrio só é perseguido depois da tormenta cessada. É a regra da história. O país não sonhava com moderação. O país queria um líder capaz de incorporar a revolta do povo e que, mesmo  de chicote em punho, botasse para correr os que arriaram a bandeira verde amarela, esqueceram do nome e símbolos da pátria e propunham substituí-los pela “pax” vermelha do socialismo. Bolsonaro não era o “après moi le deluge” - depois de mim, o dilúvio - e sim, o depois de mim, a ordem, o progresso e a paz.

JLPolítica - Diferentemente da maioria dos pares da sua área, por que o senhor não consegue associar Jair Bolsonaro a uma ameaça clássica ao Estado Democrático de Direito?
EC - Meus pares da OAB preferem Trotsky, Mao Tsé-Tung, Fidel Castro e Che Guevara. Como a grande China, não aceitam nas religiões os dez mandamentos, mas os pensamentos dos camaradas Mao e Xijiping. Entre nós não há afinidade. Até mesmo porque em democracia não se fecham templos religiosos.

Evaldo Campos e a esposa Eciene Elias de Jesus Campos, também da área do Direito
CONTRA FERAS DO CONGRESSO E OS CAPAS PRETAS DO STF
“Vejo Bolsonaro como o domador que se viu frustrado diante das feras do Congresso e dos deuses da capa preta do Supremo Tribunal Federal. Juntaram-se contra ele e contra o povo. Foi aí que o guerreiro vestiu-se de Don Quixote e atacou os moinhos de vento. Quase o destroçaram”


JLPolítica - Mas aqueles voos rasantes, aquelas marchas a cavalo e carros das Forças Armadas, aquelas concentrações populares convocadas por ele contra o STF, o Congresso Nacional, a Praça dos Três Poderes, em Brasília, não são suficientes para se constituir numa ameaça à democracia?
EC - Vejo Bolsonaro como o domador que se viu frustrado diante das feras do Congresso e dos deuses da capa-preta do Supremo Tribunal Federal. Juntaram-se contra ele e contra o povo. Foi aí que o guerreiro vestiu-se de Don Quixote e atacou os moinhos de vento. Quase o destroçaram, mas ele encontrou amparo no verso de Fernando Pessoa: “Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. Bolsonaro recuou alguns passos e jogou uma prenda ao Centrão, já quase morto de fome. Em seguida, adotou o conselho da canção popular: sacodiu a poeira e deu a volta por cima. E assim, fingindo-se arrependido, conseguiu aprovar muitos de seus projetos. Não foi a melhor conduta, mas foi a conduta possível.

JLPolítica - Há em curso uma campanha massiva de agressão ao STF, incluindo aí a ação do presidente. O senhor acha que há condimentos democráticos nessas posturas?
EC - O Supremo como instituição deve ser preservado. No entanto, a conduta de alguns de seus membros é um tapa na cara do povo. O STF instalou a ditadura da toga: investiga, prende e condena fora de sua esfera de competência. Para o STF, não há limites, nem mesmo os estabelecidos pela Constituição. Esbanja recursos públicos na mantença de suas sagradas benesses. Em um convescote em Lisboa, festejando o mal querido Gilmar Mendes, estupraram a Constituição, enxertando-lhe um meio presidencialismo que a Constituinte de 1988 não contemplara. Recordo aqui as ponderações de meu colega de concurso e de exercício como procurador da República, meu amigo fraterno Francisco Rezek, por duas vezes ministro do STF: “Há algo estranho no ar”. E há sim. A ditadura togada, contra a qual não há como se recorrer. Bem amigo, há lembretes, apenas, não condimentos: “Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris” - “Lembre-se, cara, que você é pó, e você deve voltar ao pó”.

JLPolítica - O senhor não consegue identificar desleixo e aviltamento às funções presidenciais por parte de Bolsonaro face à pandemia do coronavírus?
EC - Como todo revolucionário - e ele o é mesmo sem armas e quarteladas -, Bolsonaro nem qualquer outro ser sabia como enfrentar a crise pandêmica. Politizaram o vírus e, no confronto que não deveria ter acontecido, sucederam-se erros de parte a parte.

Dois dromedários do kardecismo, Evaldo e Divaldo Franco: “Tenho o espiritismo como uma ciência de consequências morais e filosóficas”
A COVID E OUTRA VISÃO DO NEGACIONISMO
“Não concordo com a acusação de negacionismo. Repito: todos carregavam a mala das incertezas e pequenas sacolas de conhecimento sobre o assunto. Ainda hoje continuamos sabendo muito pouco. Quem errou mais? Quem não divisou a extensão da tragédia ou quem desviou bilhões distribuídos pelo Governo Federal para o combate da pandemia?”


JLPolítica - Mas uma postura que não fosse a do negacionismo extremo, como a praticada pelo presidente, não teria nos legado uma quantidade menor de mortos e muito menos prejuízo à economia e ao erário nacionais?
EC - Não concordo com a acusação de negacionismo. Repito: todos carregavam a mala das incertezas e pequenas sacolas de conhecimento sobre o assunto. Ainda hoje não é muito diferente. Continuamos sabendo muito pouco. Respondo sua pergunta com uma indagação: quem errou mais? Quem não divisou a extensão da tragédia ou quem desviou bilhões distribuídos pelo Governo Federal para o combate da pandemia?Não é que eu lembrei da canção popular: há sinceridade nisso? Não há, não há. Não é, Omar Aziz, não é Renan Calheiros? Que pena Cícero da velha Roma não estar vivo. Que discurso lindo ele faria em homenagem aos “pais da pátria”? Valorosos combatentes do capitão, mas, omissos e acovardados que não seguiram o caminho do dinheiro?

JLPolítica - Para o senhor, numa visada a olhos nus, qual é o extrato administrativos dos três anos de Bolsonaro na Presidência do Brasil?
EC - Não é o que esperávamos. Ninguém imaginava que o eleito fosse dar combate ao vírus, mas à corrupção. A chegada do coronavírus foi como o cair de um meteoro gigante e inesperado. Perdemos vidas, experimentamos dores indescritíveis. Apesar de tudo, somos o país que, proporcionalmente, mais vacinou. Se compararmos com os 12 ou 13 anos de governos petistas, assistiremos, estarrecidos, a fuga de centenas de bilhões de reais ou até mesmo de alguns trilhões para o progresso e enriquecimento de corruptos nacionais e alguns de países ideologicamente ligados ao Brasil.

JLPolítica - Em quais Ministérios ou ministros o senhor vê uma atuação como algo acima da média?
EC - Vejo em Tarcísio de Freitas e Paulo Guedes, que têm feito coisas fantásticas. Quem os igualou nesses últimos 16 anos? Nunca tantas pontes, estradas de ferro e rodovias foram construídas. Elas e a transposição das águas do Velho Chico aguardavam há anos. Nossas estatais eram deficitárias e passaram a ter superávits. O agronegócio foi incentivado e sem haver ampliação da área plantada, realiza a façanha de colocar um prato de alimentos em um bilhão de bocas em todo o mundo. Empresas foram leiloadas e alguns bilhões acorreram aos cofres públicos. Em três anos de governo não há nenhum escândalo nascido da corrupção.

Evaldo Campos nos tempos da Procuradoria Geral da República, ao lado de Aristides Junqueira e de demais colegas da Procuradoria em Sergipe
VENDO A CULPA DO STF PELA COMPLICAÇÕES
Se não tivéssemos a pandemia e não padecêssemos a atuação autoritária do STF, hoje casa da consolação dos pequenos partidos de esquerda que, derrotados no Legislativo vão até lá enxugar suas lágrimas e buscar o aconchego do colo solidário de suas excelências, o Brasil iria de vento em popa”


JLPolítica - Mas o senhor não acha que, pela expectativa gerada desde a campanha de 2018, o Paulo Guedes deveria ser um agente público mais iluminado e com maior capacidade de resolutividade?
EC - Acho sim. Se não tivéssemos a pandemia e não padecêssemos a atuação autoritária do STF, hoje casa da consolação dos pequenos partidos de esquerda que, derrotados no Legislativo vão até lá enxugar suas lágrimas e buscar o aconchego do colo solidário de suas excelências, o Brasil iria de vento em popa.

JLPolítica - Ter sob os pés do Governo 13 milhões de brasileiros desempregados não seria um atestado aberto, com reconhecimento de firma, de que a atual gestão do Brasil não foi suficiente para responder, atalhar ou minimizar uma crise que começa lá em 2013, 2014?
EC - É só olhar para o que está ocorrendo. Herdamos mais de uma dezena de milhões desempregados e, ainda com a pandemia em curso, estamos criando, em média, mais de um milhão de empregos por mês.

JLPolítica - O Governo de Bolsonaro não fez/faz muitas obras no Brasil, ou não se comunica suficientemente bem sobre o que faz, o que ajudaria a produzir ou a replicar revoltas de uns sobre os resultados?
EC - Agora aqui nós concordamos: a comunicação do Governo está deficiente. Faltam-lhe recursos que, em administrações anteriores, engordariam a imprensa ávida de tetas grossas. Para mudar o rumo da comunicação, basta rezar no cinismo dos insensíveis a oração de São Francisco: “É dando que se recebe”. Aqui nesse Governo, não se dá. Salvo, ao povo carente.

Ulices Andrade: se dependesse do desejo de Evaldo Campos, seria este o candidato dos governistas a suceder Belivaldo Chagas
DA DIFICULDADE DE SER ROTULADO IDEOLOGICAMENTE
“Não sou esquerda nem direita. Olho para trás e conto os milhões de mortos de Hitler, Mussolini, Stalin, Mao, Fidel, Saddam, Pol Pot. Tomara que essa onda passe ao largo e mesmo ao vê-la passar eu direi: já fora tarde. A perversidade não vem necessariamente do compromisso ideológico. Ele, apenas, pode despertar o déspota, o tirano, o sanguinário que habita dentro de nós”


JLPolítica - O senhor não está certo de que esse vir à tona na direita no Brasil é apenas um fogo de palha e, como tal, logo se dissipará, como chuva de verão?
EC - Essa resposta é difícil para mim. Não sou esquerda nem direita. Olho para trás e conto os milhões de mortos de Hitler, Mussolini, Stalin, Mao, Fidel, Saddam, Pol Plot. Tomara que essa onda passe ao largo e mesmo ao vê-la passar eu direi: já fora tarde.

JLPolítica - O senhor sempre foi um homem de direita ou se descobriu como tal somente agora?
EC - Nem esquerda, nem direita. Eu sou Brasil.

JLPolítica - Quem é, política e sociologicamente, mais perversa entre a direita e a esquerda?
EC - A perversidade não vem necessariamente do compromisso ideológico. Ele, apenas, pode despertar o déspota, o tirano, o sanguinário que habita dentro de nós.

Evaldo Campos, tomando posse como vereador de Aracaju, único mandato obtido em disputas eleitorais
BOLSONARO NÃO SERÁ UM DEPÓSITO DE ÓDIO
Ninguém é feito apenas de ideal ou de maldade. Relembro um provérbio árabe: “A intenção é a alma do ato, seu coração e seu sustentáculo”. Eu creio nas boas intenções, embora saiba que elas não bastam. Creio que a dor experimentada, o risco efetivo da morte por ele (Bolsonaro) vivenciado, não o transformarão em um depósito de ódio. Afinal, como todo bom soldado, ele deve, se necessário, doar a vida pela pátria”


JLPolítica - Sob sua análise, qual é o futuro da esquerda do Brasil?
EC - Será dizer: se eu soubesse, teria trilhado outros caminhos. E embora não me haja perguntado, à direita daria a mesma resposta

JLPolítica - É misogenia, professor, ou Dilma Rousseff foi mesmo um desastre enquanto presidente do Brasil?
EC - Foi mesmo um desastre. Eu teria votado na esquerda sim, se no lugar de Dilma Rouseff, a guerrilheira, o candidato fosse Marcelo Déda, sinônimo de brilho, inteligência e firmeza de caráter.

 JLPolítica - Em que posturas, atos e ações, o senhor consegue identificar um mínimo dedal de humanidade na figura pública de Jair Messias Bolsonaro?
EC - Ninguém é feito apenas de ideal ou de maldade. Relembro um provérbio árabe: “A intenção é a alma do ato, seu coração e seu sustentáculo”. Eu creio nas boas intenções, embora saiba que elas não bastam. Creio que a dor experimentada, o risco efetivo da morte por ele vivenciado, não o transformarão em um depósito de ódio. Afinal, como todo bom soldado, ele deve, se necessário, doar a vida pela pátria.

Evaldo num momento de lazer com a filha Alessandra Carla Soares Campos, os filhos Álvaro Augusto e Silva Campos e Iury Andrey Soares Campos, e o neto Felipe
UM CÉTICO DAS PESQUISAS ELEITORAIS
“O Brasil me ensinou a não acreditar em pesquisas eleitorais, salvo se eu as ler de cabeça para baixo. Eu não sei quem vai ganhar a eleição presidencial este ano. Se depender de mim, será Jair Messias Bolsonaro”


JLPolítica - Por que o senhor acha que no dia 2 de outubro deste ano Bolsonaro recarimbará o passaporte para mais quatro anos no comando do Brasil?
EC - Eu não acho. Eu espero, e meu voto terá esse objetivo.

JLPolítica - Com base em que o senhor torce o beiço para as pesquisas que dão a Luiz Inácio Lula da Silva quase três vezes mais intenções de votos para presidente do que a Jair Messias Bolsonaro?
EC - O Brasil me ensinou a não acreditar em pesquisas eleitorais, salvo se eu as ler de cabeça para baixo. Eu não sei quem vai ganhar a eleição presidencial este ano. Se depender de mim, será Jair Messias Bolsonaro.

JLPolítica - Como seria o amanhã do Brasil comando mais uma vez por Luiz Inácio Lula da Silva?
EC - Não sei. Espero que ele promova um exame de consciência e faça um bom governo. Quem vier a ser eleito, será o presidente de todos e não apenas de uma parcela.

Evaldo com a filha Nathália da Silva Campos e João Augusto da Silva Campos
DESPREZO PELO INSTITUTO DA REELEIÇÃO
“Não gosto de reeleição, embora algumas décadas atrás eu a houvesse defendido, como forma de manter os bons administradores por mais tempo. Mas a experiência me diz que reeleição e corrupção são irmãs gêmeas. Conviver com ela é como “um olho no padre e outro na missa””.


JLPolítica - Como seria o amanhã do Brasil (re)comandado por Jair Messias Bolsonaro?
EC - Não gosto de reeleição, embora algumas décadas atrás eu a houvesse defendido, como forma de manter os bons administradores por mais tempo. Mas a experiência me diz que reeleição e corrupção são irmãs gêmeas. Conviver com ela é como “um olho no padre e outro na missa”.

JLPolítica - Por que e em que aspectos o senhor considera o aliancismo de Bolsonaro com a turma do Centrão como o elixir da salvação?
EC -
Não é o elixir da salvação. É o antibiótico. Pode até curar o paciente, mas deixará tantas sequelas...

JLPolítica - O Centrão não estaria mais para uma máfia política? Não foi da base dele que Lula construiu o seu castelo do mensalão em 2005?
EC -
Sim, foi. Estamos de acordo. Tomara que o Centrão se cure. Meu medo é que ele fique como o portador assintomático de vírus, e continue contaminando.

Seja nas aulas de Direito ou de Oratória, Evaldo Campos sempre mandou bem como educador, e tem saudade
URNAS ELETRÔNICAS, SIM, MAS MAIS SEGURAS
Quanto às urnas eletrônicas, não vejo porque não dotá-las de mais e mais proteção. Afinal, mísseis americanos com ogivas nucleares amanheceram desativados. Não se sabe por quem. Será que nossas urnas são mais seguras que eles? Só na cabeça de barro do Barroso”


JLPolítica - O que difere um bolsonarista atávico de um lulopetista atávico?
EC - São tão parecidos que se não se vestirem, um de vermelho e outro de verde e amarelo, ninguém os distingue. O pior é aquele que é verde por fora e vermelho por dentro. Deus nos livre de suas companhias.

JLPolítica - O senhor também criminaliza a eleição via urnas eletrônicas?
EC - Quanto às urnas eletrônicas, não vejo porque não dotá-las de mais e mais proteção. Afinal, mísseis americanos com ogivas nucleares amanheceram desativados. Não se sabe por quem. Será que nossas urnas são mais seguras que eles? Só na cabeça de barro do Barroso.

JLPolítica - Por que a sua corda de mandatos eletivos foi tão curta e escassa, apesar das tantas disputas às quais o senhor se submeteu?
EC - Por que tive só um mandato? Se soubesse já teria, pelo menos, sido deputado federal ou estadual. Acho que não tenho o perfil que o povo quer e o chefe político aplaude. Respeito o povo e, por isso, sempre o obedeci quando ele me deu o recado de Mandeta: fique em casa. Mas se os chefes políticos mudarem a forma de pensar e o povo me convocar de verdade, deixo de escrever e fazer palestras e botarei a cabeça, pelo menos, fora da janela. É piada, contarei outra melhor (risos).

Edvaldo Nogueira: tentativa de acesso para diálogo embargada pela burocracia
A DIFÍCIL INTERLOCUÇÃO COM EDVALDO NOGUEIRA
“Por três meses, liguei para o gabinete de Edvaldo. Recebi repostas amáveis, do tipo: “O prefeito é muito ocupado, não pode recebê-lo”. Depois de insistir por uns 30 dias, liguei novamente. A mesma resposta. Arrisquei: “Senhorita, não vou pedir emprego. Quero falar é mesmo pelo telefone”. A resposta veio certeira: “Ele está ocupado e não pode atendê-lo”. Meti a viola no saco e não toquei mais no assunto”


JLPolítica - Há quem diga, entre os seus amigos, que o senhor guarda certas mágoas pessoais e políticas do prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira. Em que consiste isso?
EC - Nada de sério e seria uma traição não dizer a ele. Vou contar aqui esse segredinho e que ninguém nos ouça. Por três meses, liguei para o gabinete de Edvaldo. Isso deve ter sido há dois ou três anos já passados. Recebi repostas amáveis, do tipo: “O prefeito é muito ocupado, não pode recebê-lo”. Depois de insistir por uns 30 dias, liguei novamente. A mesma resposta. Arrisquei: “Senhorita, não vou pedir emprego. Quero falar é mesmo pelo telefone”. A resposta veio certeira: “Ele está ocupado e não pode atendê-lo”. Meti a viola no saco e não toquei mais no assunto. Mas o Ed é gente boa. Fomos colegas de vereança e gosto muito dele, e por isso respeito o direito dele de não gostar muito de mim.

JLPolítica - O senhor tem hoje um pré-candidato a governador de Sergipe?
EC - Se tenho candidato ao Governo de Sergipe? Tenho, e é Ulices Andrade, amigo de décadas, exemplo de bom caráter, homem de palavra e preparo para o cargo. Se não for ele, afinal nem sei mesmo se ele quer, examinarei outro. Afinal, a lista é boa e alguns me agradam.

JLPolítica - O senhor está convencido de que o seu “estilo tribunal de júri” e do “eternamente treinado pela e para a oratória” aplicado por sua pessoa no dia a dia convence as pessoas? Não lhe soa um pouco fora da curva do normal, passadista?
EC - Meu estilo é o mesmo. Ouvir e ver mais, falando menos. Escutar a linguagem silenciosa do corpo. Ele fala e é tão eloquente. É o que busco ensinar em meus cursos.

Evaldo Campos, menorzinho, a irmã Salete, uma prima e o irmão Everaldo, em Itacuruçá, no Rio de Janeiro
DAS INCOMPREENSÕES SOBRE OS CRIMINALISTAS
O criminalista é um incompreendido, sim. Quem sofreu a brutalidade do criminoso tem dificuldade em compreender que, sem defesa efetiva e competente, não há justiça. Um lado acusa, o outro defende. Um juiz ou o júri faz o julgamento. Os dois primeiros são e devem ser parciais. O terceiro, independente e justo”


JLPolítica - O senhor considera o criminalista, ou o penalista, um advogado segregado, descriminado e maltratado pela sociedade e por algumas instâncias do Direito?
EC - O criminalista é um incompreendido, sim. Quem sofreu a brutalidade do criminoso tem dificuldade em compreender que, sem defesa efetiva e competente, não há justiça. Um lado acusa, o outro defende. Um juiz ou o júri faz o julgamento. Os dois primeiros são e devem ser parciais. O terceiro, independente e justo. Somente há clima para um julgamento justo, quando os dois polos, acusação e defesa, se desincumbem de seu papel.

JLPolítica - Qual é a maior porção de erro que se comete contra um criminalista?
EC - Destaco que os autores dos delitos mais graves e de maior repercussão que tiveram meu patrocínio, eram pessoas sem recursos, em sua quase totalidade. Defendi-os com muito empenho, zelo e garra redobrada. Se isso for um erro, confesso-o, sem qualquer arrependimento. Gosto de fazer o que amo ou, pelo menos, aprender a amar aquilo que faço. Mas os criminalistas, sobretudo aqueles que atuam em favor dos que estão sob o comando de instituições criminosas ou aqueles outros que vivem em extrema pobreza, sem escola, sem emprego, tomados pelo álcool ou pela droga, padecem a incompreensão de quem, quer puta e simplesmente, o encarceramento. Encarcerar sem tratar para recuperar é delito de extrema gravidade. Como sofre, é acusado de incentivar a criminalidade, focando, apenas, a obtenção de polpudos honorários.

JLPolítica - Houve algum crime ou criminoso do qual o senhor se arrependeu de ter feito a defesa?
EC - Não me arrependi. Lamentei por não tê-los visto mudar a trajetória de suas vidas. Ficaria feliz se a absolvição houvesse significado, ao mesmo tempo, a paga por meu trabalho e a recompensa por vê-los regenerados. Felizmente, foram poucos. Acumulo centenas de histórias interessante e curiosas. Lembranças que levarei para o silêncio da sepultura.

Tarcísio de Freitas, para Evaldo, é um ministro de Bolsonaro sem igual nos últimos 16 anos no Brasil
PROFESSOR DEVE DOAR AFETO, TERNURA E CONFIANÇA
“Do magistério guardo lembranças amenas e a alegria de haver descoberto que ninguém transfere conhecimento como se fosse o enfermeiro injetando remédios. A arte da vida, disse-o Ghandi, é fazer da vida uma obra de arte. O professor se quiser realizar esse sonho deverá ser doador de afeto, ternura e confiança ao discípulo”


JLPolítica - O senhor guarda sob seus pés alguma frustração no campo da sua profissão?
EC - Não guardo frustração, mas preciosas lições. Lamento sim, o excesso de entusiasmo. Fiz meu primeiro júri por volta dos 21 anos. Foi lá no sertão da Bahia. Nem era, sequer, estudante de Direito. Em uma área maior que o Estado de Sergipe, com dezenas de comarcas, militavam apenas três advogados. O juiz não se conformava, pois não tinha o que fazer. Advogado, apenas umas duas vezes ao ano. Tomou uma decisão: baixou uma portaria e me nomeou para residir em juízo. Assim, começou a nascer em mim o advogado dos bandidos pobres e também dos pobres bandidos. Foi vitória após vitória. Fui ovacionado em algumas sessões do júri. E o magistrado dizia: “Agora não. Esperem terminar o julgamento e eu aplaudirei com vocês”. Hoje eu descubro que aprendi com o poeta Tiago de Melo: “Caminhante, não há nenhum caminho, o caminho se constrói ao caminhar”. Fiz minha estrada, tracei meu destino. Assisti ao despertar de minha alma de advogado criminalista e vi surgir no nascente os passos do procurador da República que, em minha juventude, eu afirmava que haveria de ser e que uma década após transformei em realidade. De modo que não tenho mesmo frustrações. Lamento não ter servido e amado mais os carentes de amor que Deus colocou nas difíceis mas aprazíveis estradas de minha vida. Obrigado Senhor, é o que proclamo, agradecido e contrito.

JLPolítica - O que fica ou sobra do exercício da cátedra para um velho advogado?
EC - Do magistério guardo lembranças amenas e a alegria de haver descoberto que ninguém transfere conhecimento como se fosse o enfermeiro injetando remédios. A arte da vida, disse-o Ghandi, é fazer da vida uma obra de arte. O professor se quiser realizar esse sonho deverá ser doador de afeto, ternura e confiança ao discípulo. É o que ele precisa para mergulhar no coração da existência e iluminar sua trajetória. Tomara que eu tenha deixado marca generosa de minha passagem em todas as estrelas que pontilharam no céu de minha caminhada.

JLPolítica - Por que o senhor não fez carreira numa universidade pública do Brasil?
EC - Ensinei, apenas por 12 meses, na UFS após ser o primeiro em uma seleção. Deixei o compromisso por me haver comprometido com os dois colegas que ocuparam a segunda e terceira colocações. Eles sonhavam, merecidamente, com essa oportunidade. Eu já lecionava em outras faculdades. Deixei-me levar pela brisa que nos apresenta às surpresas do amanhã e segui em frente.

JLPolítica - Desde quando o senhor se aplica ao kardecismo, e o que ele, em síntese, lhe disse até hoje do ponto de vista existencial?
EC - Sim, sou espírita. Mas não tenho o espiritismo como religião, e sim uma ciência de consequências morais, filosóficas e que cria um clima de religiosidade. Nele, reforcei minha crença em Deus, causa incausada, origem de tudo, que em tudo está. Deus que não precisa de templos nem de arautos, embora não o condene ou rejeite. Eu o sinto na brisa que sopra, na semente que brota, na vida, no macro e naquela que se agita no micro. Eu o percebo na lágrima que corre, no sorriso de uma criança, nas dores do cárcere, no perdão aos que erram. Sabe, Deus, talvez eu seja cego, mas eu o vejo na escuridão de minha ignorância enchendo de luz os meus caminhos repletos de dores.

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