Gentil Melo: “Não vislumbro que Edvaldo Nogueira vá indicar o vice de Fábio Mitidieri”

Entrevista

Jozailto Lima

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Gentil Melo: “Não vislumbro que Edvaldo Nogueira vá indicar o vice de Fábio Mitidieri”

“No espectro político, Fábio se aproxima mais do grupo do governador do que Edvaldo”
 

Graduando em Ciência Política pela Universidade Cândido Mendes, do Rio de Janeiro, e licenciado em Ciências Sociais e Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Sergipe, o sergipano Gentil Melo, 57 anos, tem se convertido num abalizado e coerente analista das cenas políticas do Estado de Sergipe e do Brasil.

E é por isso que, nessa quadra de afunilamento das candidaturas aos Governos dos Estados brasileiros e à Presidência da República, Gentil Melo está aqui como convidado da Entrevista Domingueira deste Portal JLPolítica. 

Na visão analítica de Gentil Melo, não há espaço para meio termo ou indefinição. Nem para agrados populistas, como, aliás, deve ser a postura de quem quer analisar com sensatez e honestidade intelectual cenas da política ou de qualquer outra atividade humana.

Enquanto para uns o governador Belivaldo Chagas, PSD, tem sido escasso, somítico e avaro na explicação do porquê de escolher como seu candidato a sucessor o deputado federal Fábio Mitidieri, PSD, e não o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, PDT, Gentil Melo vai direto na medula do problema: foi por serem correligionários de PSD.

Mas nem só isso, pondera Gentil Melo. “Acredito que essa variável pesou na avaliação e na decisão. Outra variável que deve ser considerada é a trajetória política do pré-candidato, o que nos leva a entender que no espectro político Fábio Mitidieri se aproxima mais do grupo do governador do que o prefeito Edvaldo Nogueira”, diz ele.

“Existem outras variáveis, tais como aproximação, relação de confiança, capacidade de articulação, enfim, outras de ordem subjetivas. E, claro, a que define melhor a política no Brasil seria a de acomodar os diversos interesses quando se trata do que oferece os poderes constituídos na estrutura do Estado brasileiro”, reforça ele, com uma opção bem plausível.

Na visão de Gentil Melo, a partir dessa escolha e de agora, Edvaldo Nogueira deve ser visto como um bicho solto e livre para alinhamentos políticos na sucessão, menos com o projeto de Belivaldo e Fábio.

“Não vislumbro que Edvaldo Nogueira vá indicar o vice de Fábio Mitidieri. Bem provável que ele aguardará um pouco mais, até porque existem candidaturas importantes e de peso em outras esferas que podem despertar o seu interesse e do seu agrupamento, caso  ele venha apoiar alguma candidatura, o que é provável”, analisa.

Mas para o cientista político Gentil Melo, há provimento no cuidado de Edvaldo de não se jogar nas águas da sucessão estadual, zunindo para o ar as garantias do seu mandato de prefeito de Aracaju por mais dois anos.

“Edvaldo Nogueira jamais deixaria dois anos de mandato de prefeito para colocar seu nome na disputa ao Governo do Estado sem uma certeza do seu nome ser o aprovado - posso me equivocar na minha análise, pois estamos lidando com conjecturas diante da conjuntura política muito conturbada e polarizada em nível nacional e que certamente exerce influência na política dos Estados”, diz Gentil Melo. Certamente ele não está equivocado.

Nesta Entrevista, Gentil Melo fala das possibilidades eleitorais de Rogério Carvalho, Jackson Barreto, Danielle Garcia, Valmir de Francisquinho, Alessandro Vieira, Eduardo Amorim e sobretudo das de Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Ele fala, ainda, das perspectivas das fake news na eleição, da endêmica corrupção nacional e dos riscos do pós-2022 para quem vencer o pleito no âmbito nacional.

José Gentil de Melo nasceu no dia 16 de julho de 1964 na cidade de Cedro de São João, em Sergipe. Ele é filho de José Vieira de Melo e de Maria de Lourdes da Costa Melo.

É casado com a professora do magistério estadual Ilmara Alves de Melo, com quem é pai de três filhos, todos com K: Klisman Alves de Melo, 32 anos, Ketlin Alves de Melo, 30, e Kevin Alves de Melo, 23.

Gentil Melo é formado em Ciências Contábeis desde 1992 pela Universidade Federal de Sergipe e tem especialização em Auditoria Contábil.

Pela mesma UFS, tem ainda formação em licenciatura em Ciências Sociais e está cursando especialização em Ciência Política pela Universidade Cândido Mendes.

Gentil Melo e os amigos sindicalistas em instante de reivindicações em favor dos servidores da
Com a esposa Ilmara Alves de Melo e os filhos Klisman Alves de Melo, Ketlin Alves de Melo e Kevin Alves de Melo em ato da formatura de Ketlin

O PODER NEM TANTO ASSIM DAS PESQUISAS

“Não são as pesquisas eleitorais que definem o nome do candidato a concorrer a um mandato eletivo. O grupo liderado pelo governador Belivaldo, ao indicar o nome de Fábio Mitidieri, entende que os números das pesquisas podem ser revertidos”

 JLPolítica - Com as pré-candidaturas postas aí, é possível fazer-se uma leitura sobre o suposto favoritismo de alguém na sucessão estadual de Sergipe neste 2022?

Gentil Melo - Não. Ainda não temos a formatação final dos grupos que apoiam os nomes indicados. Grandes lideranças do interior do Estado com ou sem mandato ainda não se manifestaram. Além disso, a indicação e o apoio de nomes para os cargos proporcionais têm peso político que pode interferir na decisão do eleitorado.

 

JLPolítica - O senhor consegue visualizar a essência de um consenso na escolha da candidatura do deputado federal Fábio Mitidieri ao Governo de Sergipe?

GM - Não. Os nomes chegam para a sociedade a partir de discussões e entendimentos nos agrupamentos políticos coordenados pelas grandes lideranças, principalmente os mandatários de poder, o que exclui a sociedade da participação no processo. O consenso está no entendimento dos grupos que indicam os nomes que irão concorrer aos respectivos mandatos a partir de análises dos cenários, do perfil e da trajetória política dos prováveis candidatos.

 

JLPolítica - Partindo do que tem sido apontado pelas pesquisas eleitorais, é uma opção correta preterir-se o nome de Edvaldo Nogueira em favor do de Fábio Mitidieri na disputa pelo Governo?

GM - Não são as pesquisas eleitorais que definem o nome do candidato a concorrer a um mandato eletivo. O grupo liderado pelo governador Belivaldo, ao indicar o nome de Fábio Mitidieri, entende que os números das pesquisas podem ser revertidos ao apostar em um nome investido em um mandato de deputado federal cujo partido é o mesmo do governador.

Jair Bolsonaro, de acordo com Gentil Melo, faz um Governo desparafusado, e daí brota a rejeição alta

DO PORQUÊ DE NÃO TER SIDO EDVALDO

“O que nos leva a entender que no espectro político Fábio Mitidieri se aproxima mais do grupo do governador do que Edvaldo Nogueira. Existem outras variáveis, tais como relação de confiança, capacidade de articulação, enfim, outras de ordem subjetivas”

 JLPolítica - Essa condição de correligionário pesou?
GM - Acredito que essa variável pesou na avaliação e na decisão. Outra variável que deve ser considerada é a trajetória política do pré-candidato, o que nos leva a entender que no espectro político Fábio Mitidieri se aproxima mais do grupo do governador do que o prefeito Edvaldo Nogueira. Existem outras variáveis, tais como aproximação, relação de confiança, capacidade de articulação, enfim, outras de ordem subjetivas. E, claro, a que define melhor a política no Brasil seria a de acomodar os diversos interesses quando se trata do que oferece os poderes constituídos na estrutura do Estado brasileiro.

JLPolítica - Que leitura pode-se fazer agora da atitude futura de Edvaldo Nogueira: ele se resignará a indicar um candidato a vice na chapa de Fábio, ou poderá seguir uma tangente de apoio a outra candidatura?

GM - Edvaldo Nogueira jamais deixaria dois anos de mandato de prefeito para colocar seu nome na disputa ao Governo do Estado sem uma certeza do seu nome ser o aprovado - posso me equivocar na minha análise, pois estamos lidando com conjecturas diante da conjuntura política muito conturbada e polarizada em nível nacional e que certamente exerce influência na política dos Estados. Mas não vislumbro que Edvaldo Nogueira vá indicar o vice de Fábio Mitidieri. Bem provável que ele aguardará um pouco mais, até porque existem candidaturas importantes e de peso em outras esferas que podem despertar o seu interesse e do seu agrupamento, caso  ele venha apoiar alguma candidatura, o que é provável.

 

JLPolítica - O senhor não identifica coragem suficiente em Edvaldo Nogueira para jogar tudo pro ar em Aracaju e disputar sozinho o Governo do Estado?

GM - Existem dois nomes praticamente definidos e que dialogam com os dois grandes blocos da política de Sergipe e que em certa medida estão em sintonia com as projeções da política nacional. Em relação a concorrer ao Estado, há possibilidades, mas não o vejo, como você diz, a “jogar tudo pro ar” e ser mais uma opção à sucessão de Belivaldo.

Porque ninguém é de ferro, uma parada pruma cervejinha com os dois rebentos Klisman e Kevin Alves de Melo

DE UMA PROVÁVÉL ALIANÇA ROGÉRIO-EDVALDO

“Não podemos esquecer que por muitos anos Edvaldo foi de um partido que caminhou lado a lado com o agrupamento liderado pelo PT no Estado. Isso nos leva a acreditar, sim, que o seu apoio poderia render bons dividendos políticos à candidatura de Rogério Carvalho”

 JLPolítica - Quais as chances política de Rogério Carvalho sair-se bem nesta disputa com possíveis deserções no grupo governista?
GM - O sucesso de uma candidatura passa pela capacidade de articulação e de ampliação do grupo. Obviamente que havendo deserções de qualquer lado, um ou outro sai fortalecido. Mas é necessário conhecer os nomes e até que ponto sua participação vai alterar o quadro. Reafirmo que em função de como a política no Brasil é tratada, e como se coloca para a população, o maior peso está no mandato e não no nome do político, exceção em alguns casos para aquelas lideranças chamadas de carismáticas.

JLPolítica - No que uma possível adesão de Edvaldo Nogueira ao projeto eleitoral de Rogério ajudaria ao petista?

GM - Primeiro, vale destacar que as pesquisas já apontavam Edvaldo Nogueira como um forte candidato à sucessão estadual. Segundo, é o prefeito da capital por quatro mandatos e construiu o seu capital político e, terceiro, não podemos esquecer que por muitos anos ele foi de um partido que caminhou lado a lado com o agrupamento liderado pelo PT no Estado. Isso nos leva a acreditar, sim, que o seu apoio poderia render bons dividendos políticos à candidatura de Rogério Carvalho.

 

JLPolítica - A suposta vantagem eleitoral de Lula em Sergipe poderá ter que impacto sobre a candidatura de Rogério Carvalho?

GM - Fazendo um recorte histórico das eleições de 2018, o Nordeste deu uma resposta positiva à candidatura apoiada por Lula. Sem entrar nas discussões dos processos imputados ao Lula e que hoje o Judiciário vem adotando um entendimento contrário, ou seja, de inocentá-lo, o ex-presidente Lula é uma figura política que tem influenciado nas indicações de nomes aos governos de alguns Estados da Federação. Indiscutivelmente não só em Sergipe, mas os números das pesquisas pró-Lula impactam positivamente nos demais Estados que tenham candidaturas do PT ou aliados concorrendo.

Luiz Inácio Lula da Silva: o Brasil teria mais a ganhar do que a perder com ele na Presidência, segundo Gentil Melo

BELIVALDO E FÁBIO NO PALANQUE DE LULA

“É um palanque possível. O alinhamento dos partidos não se dá de forma uniforme nos três entes federados, mas não vejo essa impossibilidade. A política terá que provar que há possibilidades da convivência harmoniosa e respeitosa entre os contrários”

 JLPolítica - Mas se Belivaldo Chagas e Fábio Mitidieri se declararem seguidores da candidatura de Lula, isso pode atenuar algo e diluir a suposta vantagem de Rogério?
GM - É um palanque possível. O alinhamento dos partidos não se dá de forma uniforme nos três entes federados, mas não vejo essa impossibilidade. A política terá que provar que há possibilidades da convivência harmoniosa e respeitosa entre os contrários.

JLPolítica - Que análise o senhor faria da desistência da candidatura do senador Alessandro Vieira à Presidência da República para vir disputar o Governo de Sergipe?

GM - Fazendo uma analogia ao futebol, nessa atividade o sonho do jogador é chegar à seleção brasileira. Na política, o detentor de mandato, seja em qualquer esfera, sempre almeja um cargo de maior destaque. Esse desejo não é questionável e é louvável que os detentores de mandato almejem, inclusive aqueles de projeção do campo mais progressista. O Brasil está carente de políticos que defendam um projeto mais inclusivo e que dialogue de forma respeitosa com as instituições democráticas, que preserve a soberania e acima de tudo respeite os princípios da administração pública em nome dos seus administrados. Eu teria pouco a comentar da desistência de Alessandro Vieira, uma vez que em tão pouco tempo se colocou como pré-candidato e em seguida retirou. Em relação ao Governo do Estado, há possibilidades da candidatura, mas não vislumbro possibilidades de êxito.

 

JLPolítica - Pelo mandato de quase quatro anos no Senado, ele poderia vir a ter que performance na sucessão estadual?

GM - Em relação ao Governo do Estado, não teria a mesma performance da eleição de 2018, até porque o seu agrupamento ainda não possui tamanho e robustez política para enfrentar os grupos definidos no processo. Ademais, são duas eleições diferentes em cenários também diferentes. As mudanças operadas pelos eleitores no campo da política não se dão de forma rápida e como deveria ser dada, é tanto que elas no parlamento ainda não refletem em mudanças nas práticas dos políticos. Em todo caso, é bom salientar que em certa medida o perfil do eleitor tem mudado e uma das mudanças ocorreu nas eleições de 2018, exatamente com a eleição do senador Alessandro Vieira. No mandato, em algumas votações ele foi criticado e adotou uma outra postura nas discussões sobre a CPI da Covid.

Casado a professora Ilmara Alves de Melo, Gentil Melo é pai Klisman, Ketlin e Kevin, todos Alves de Melo

EVENTUAL ÊXITO DE VALMIR NA SUCESÃO

“Inegável o protagonismo de Valmir na região do agreste. Exerceu dois mandatos como prefeito de Itabaiana, cuja população gira em torno de 97 mil habitantes, cidade pujante do ponto de vista da economia e com muita influência no cenário político. Teve reconhecimento enquanto político na eleição do substituto, o que em certa medida o credencia a postular o cargo de governador”

 JLPolítica - É possível pensar num protagonismo de Valmir de Francisquinho na sucessão estadual deste ano?
GM - Inegável o protagonismo dele na região do agreste sergipano. Exerceu dois mandatos como prefeito na cidade Itabaiana, cuja população gira em torno de 97 mil habitantes, uma cidade pujante do ponto de vista da economia no Estado e com muita influência no cenário político. Teve o seu reconhecimento enquanto político na eleição do seu substituto, o que em certa medida o credencia a postular o cargo de governador do Estado. Portanto, o alinhamento dos partidos, o arranjo político e a conformação das lideranças políticas do Estado, associados ao perfil de cada candidato, considerando a sua influência na região do entorno do seu domicílio e do Estado é que vão definir o destino das candidaturas que se propuserem.

JLPolítica - O senhor vê chances de pintar uma surpresa na disputa pela única vaga do Senado este ano, como ocorrera em 2018 com Alessandro Vieira?

GM - Eu não comungo muito com a ideia de que Alessandro foi uma surpresa, mesmo considerando a forma de fazer política no Estado brasileiro. A eleição de Alessandro Vieira se deu devido a alguns segmentos da sociedade sergipana mais esclarecida desaprovarem alguns nomes postos para o Senado - segmentos esses que estavam e continuam ansiosos por mudanças. O nome de Alessandro Vieira continua forte, o que não impede que um nome novo conseguir êxito para o referido cargo.

JLPolítica - Qual o papel da delegada Danielle Garcia nas eleições deste ano? Ele poderia ter um protagonismo na disputa pelo Senado ou ao Governo do Estado?

GM - Há um apelo forte de alguns setores organizados da sociedade em mudanças no quadro geral da política do Brasil, justamente porque constatamos que ao se elegerem um afastamento grande da sua base social e falham no compromisso em defender as pautas sociais e as agendas da classe trabalhadora do país. Filiada recentemente ao Podemos, Danielle Garcia conseguiu uma votação expressiva nas eleições de 2020 para a Prefeitura de Aracaju, o que a credencia a postular outros mandatos no cenário político brasileiro. Os nomes na política são construídos, ela deu início a esse processo e com certeza hoje tem o seu nome respeitado e aprovado por um determinado número de eleitores. Porém concorrer aos mandatos citados não é uma tarefa muito fácil, mas não é impossível para quem está no jogo político. O protagonismo dela é evidente e pode ser exercido no momento sem concorrer a mandato eletivo ou aguardar o momento certo.

Valmir de Francisquinho: político que Gentil Melo vê com extrato pessoal para o protagonismo

DAS CHANCES DANIELLE GARCIA NESTE ANO

“Danielle Garcia conseguiu uma votação expressiva nas eleições de 2020 para Aracaju, o que a credencia a postular outros mandatos no cenário político. Os nomes na política são construídos, ela deu início a esse processo e com certeza hoje tem seu nome respeitado e aprovado por um determinado número de eleitores”

JLPolítica - Jackson Barreto age corretamente ao tentar pela terceira vez um mandato de senador?

GM - A questão central não é o número de vezes que um candidato concorre, pois temos exemplo no país de deputados que já estão há cinco ou mais mandatos. Jackson Barreto é um político antigo e é um dos que conhecem de norte a sul os eleitores do Estado, exerceu os mandatos de deputado federal em outra conjuntura econômica, social e política do país tendo como adversários políticos que hoje não estão mais no cenário. Acredito que embora tenha alterado pouco a forma de fazer política no país, temos que considerar o perfil dos novos eleitores e talvez seja isso um elemento que venha dificultar o seu sucesso nas eleições para o mandato de deputado federal.

 

JLPolítica - É possível vislumbrar-se uma brecha para Eduardo Amorim na busca por uma volta ao mandato de senador?

GM - Sim. Os espaços na política no Brasil sempre estão abertos para quem dispõe de recursos financeiros e óbvio de algum capital político. Mas temos que considerar a importância de como são operadas as discussões por dentro dos grupos para acomodar os interesses de todas as chamadas forças políticas em nome da unidade para ganhar as eleições.

 

JLPolítica - Entre Lula e Bolsonaro, com quem estão as maiores chances de converter-se em presidente nestas eleições?

GM - Enquanto os números das pesquisas de intenções de votos para Lula se mantêm num percentual de diferença em relação a Bolsonaro em torno de 20%, os números da rejeição ao Governo Bolsonaro se mantêm em níveis altíssimos, o que me levam a defender a tese de que as maiores chances de vitória são para o candidato Lula.

Gentil Melo paramentado para um ato público como figura do Sintufs

CHANCES MAIORES DE LULA FRENTE A BOLSONARO

“Enquanto os números das pesquisas de intenções de votos para Lula se mantêm num percentual de diferença em relação a Bolsonaro em torno de 20%, os Da rejeição ao Governo Bolsonaro se mantêm em níveis altíssimos, o que me levam a defender que as maiores chances de vitória são para o candidato Lula”

 JLPolítica - O senhor acha que isso pode ser decidido ainda no primeiro turno?
GM - Não é fácil trabalhar no campo das humanidades que envolvem emoções, visões de mundo, concepções e entendimentos da realidade nas suas diversas dimensões, porém esse é o nosso desafio, o de discutirmos os cenários apresentados que ensejam diversos entendimentos. O conjunto de forças políticas importantes representadas por partidos de expressão no cenário político nacional até poderiam decidir a eleição pra Lula ainda no primeiro turno. Mas hoje, dia 19 de março de 2022, dia em que encerramos esta Entrevista, não acredito na decisão do pleito no primeiro turno pelo arranjo político que está desenhado.

JLPolítica - Pelo digladiar constante entre esquerda e direita, o senhor teme uma eleição com alto grau de violência?
GM - Sim, temo e tenho conversado com alguns colegas no meio sindical e em outros grupos sobre essa possibilidade. A eleição de 2018 foi marcada por uma polarização nítida entre dois campos - o da direita conservadora e o outro e se pudermos conceituar como do campo da esquerda que passou por um processo de desgaste perante a credibilidade da população. Após a redemocratização o Brasil em 1985, nunca tínhamos passado por uma experiência política dessa natureza. O debate perdeu espaço para a proliferação e a incitação à violência e perpetuação do ódio entre os opositores associado a uma campanha que teve nas redes sociais o principal veículo de informação aos eleitores, cujo conteúdo se deu à base de mentiras (fake news) que até hoje é fruto de investigação pelo Judiciário brasileiro.

Danielle Garcia: Gentil Melo a vê como alguém que plantou e agora estaria se preparando para tentar colher

O ERRO DA OMISSÃO FRENTE À POLÍTICA

“O que vemos na realidade e na prática é um povo apático, desestimulado, que não discute a política na sua essência. São os desprovidos de assistência pelo Estado Brasileiro e entendem a política como uma forma de resolver suas necessidades imediatas, e está aí o grande equívoco”

 JLPolítica - Com Lula em cena o caldo engrossa?
GM - Sim. Se naquele momento com a impossibilidade de Lula concorrer e com o desgaste do PT em relação ao envolvimento em crimes sobre os quais hoje está havendo um outro entendimento do Judiciário, a eleição ocorreu no nível relatado, imaginem em outubro com a perspectiva de o PT tomar o poder, pelo menos é o que as pesquisas apontam, não restam dúvidas de que a direita vai pra cima com todo o seu aparato ideológico conservador e com a violência demonstrada nos argumentos e nas práticas dos que integram o Governo Bolsonaro.

JLPolítica - Até que ponto o ódio que permeia a política ultimamente pode eleger em 2022 mais pessoas sem a devida qualificação para a atividade política?

GM - É como se o fenômeno da política fosse algo desconectado de regras e desprovido de alguns valores internalizados na sociedade. É recorrente em diversos setores da sociedade, como falei anteriormente, o apelo à renovação do quadro político brasileiro, numa perspectiva de que aqueles que nos representam deveriam no mínimo atender aos preceitos do Estado Democrático de Direito. Entretanto, o que vemos na realidade e na prática é um povo apático, desestimulado, que não discute a política na sua essência. São os desprovidos de assistência pelo Estado Brasileiro e entendem a política como uma forma de resolver suas necessidades imediatas, e está aí o grande equívoco. Num segundo plano, constatamos que os partidos políticos não têm cumprido seu papel social, embora sejam relevantes nas democracias modernas, uma vez que não se ocupa cargo eletivo se não for via esses organismos. Uma outra observação é a de que a população tem de forma urgente que ampliar os mecanismos de controle social e de intervenção junto aos poderes constituídos, e por fim o Brasil necessita de várias reformas, inclusive a reforma política com a participação popular que poderia alterar com certeza esse quadro tanto do ponto de vista de qualificação quanto de representação.

Aqui, Gentil Melo a esposa Ilmara Alves de Melo, os filhos Klisman, Ketlin e Kevin Alves de Melo em mais uma formatura familiar

SEM CHANCES PARA UMA TERCEIRA VIA

“Candidaturas surgem, mas não as vejo com chances efetivas de alterar essa polarização. Essa disputa tendo nomes representados por dois blocos políticos que lideram posições político-ideológicas definidas e diferentes, vem se apresentando há décadas”

JLPolítica - Diante dessa animosidade, é possível prever hoje quais consequências se sobreporão em 2023 sobre o governo do vencedor de 2022?

GM - A política, mesmo que haja acordos em nome de um suposto projeto, não é um campo muito fértil para se cultivar os mais nobres princípios da boa convivência. Não vejo consequências em 2023 que poderão atrapalhar ou inviabilizar a gestão. Acredito que as dificuldades podem se apresentar, o que é normal, em função de como se darão as relações entre o Executivo e o Legislativo. As dissensões e divergências no campo da política costumam ser minimizadas nos pleitos seguintes, quando se instala uma nova ordem.

 

JLPolítica - O Brasil terá mais perdas ou ganhos com uma reeleição de Bolsonaro?

GM - Mais perdas. O Governo Bolsonaro tem demonstrado despreparo e falta de competência nas mais diversas áreas, e ele não está sozinho nessa caminhada ao longo desses três anos e pouco de mandato. Os ministros por ele nomeado seguem a mesma toada. Falta de conhecimento e de compromisso com as suas pastas e, o mais cruel e difícil de entender é como eles tratam a coisa pública. Chegam até a ridicularizar e a banalizar o papel das instituições democráticas. De fato é um desrespeito à população. Acrescentam-se a essas informações os ataques de várias ordens aos profissionais da imprensa, a falta de diplomacia aos se relacionar com outras nações ou fazer comentários e sobretudo as reformas que foram aprovadas no seu governo e outras que estão em curso, que tem como único objetivo retirar direitos dos trabalhadores e desmontar a estrutura social do Estado brasileiro.

Edvaldo Nogueira, segundo Gentil Melo, deve agir com passe livre na sucessão de 2022

RAZÕES PARA A CORRUPÇÃO VICEJAR TANTO

“Endêmica sim, mas imbatível não. Precisamos reeducar o nosso povo, dando oportunidades para que todos exerçam efetivamente a cidadania. A cultura colonial patrimonialista deve ser deixada para trás. A corrupção no país está generalizada e vem corroendo a estrutura de todo o tecido social da sociedade”

 JLPolítica - O Brasil terá mais perdas ou ganhos com uma eleição de Lula?
GM - Mais ganhos. Eu entraria em contradição se minha opinião fosse outra, porém é bom destacar que a conjuntura política, econômica e social do país e do mundo será outra, e não sabemos ao certo que forças comporão o futuro Congresso Nacional. A nova composição é imprescindível para garantir o mínimo de condições de governabilidade, e não faço aqui apologia a práticas imorais ou ilegais. É necessário conhecer bem a nova geopolítica do mundo, principalmente a da América do Sul, uma vez que o Brasil foi um dos protagonistas na criação do Mercosul como organismo de fortalecimento da soberania e da economia da região e do bloco.

JLPolítica - A esta altura, é morta a chance de vicejar uma terceira via na eleição nacional?

GM - Candidaturas surgem, mas não as vejo com chances efetivas de alterar essa polarização. Essa disputa tendo nomes representados por dois blocos políticos que lideram posições político-ideológicas definidas e diferentes, vem se apresentando há décadas.
 

JLPolítica - O que é que move, essencialmente, o interesse do eleitor na hora do voto?

GM - A sua causa. Num país de dimensão continental como o Brasil, não podemos esperar uma uniformidade de interesses e de intenção de votos. Um dos fatores que têm afastado determinados segmentos da sociedade dos pleitos é a prática dos políticos, que caminha na contramão dos interesses da sociedade.

Fábio Mitidieri, pela lógica de Gentil Melo representa melhor os interesses de Belivaldo Chagas

JLPolítica - O senhor acha que a política nesta quadra, diferentemente da de outras épocas, está gerando mais mal do que bem ao Brasil?

GM - O fenômeno da política está em descrédito perante a sociedade, e essa realidade tem se agravado devido ao não atendimento aos anseios da maioria da população. E há uma tendência evidente desse quadro piorar devido as dificuldades da população no que diz respeito ao acesso aos bens públicos e aos serviços que o Estado poderia colocar à disposição da sociedade. Só para ilustrar um que faz mal basta citar o valor previsto no orçamento da União para os fundos que financiam as campanhas eleitorais. Não é a política que faz “mal”. É a concepção que se tem dela no Brasil e os interesses de quem ela atende.

 

JLPolítica - A ação das fake news em 2022 será mais atenuada do que fora nas eleições de 2020 e 2018? 

GM - Sim. Mas os órgãos competentes de fiscalização e o próprio Judiciário estão fiscalizando, combatendo, apurando e enquadrando na legislação penal os crimes dessa natureza.

 

JLPolítica - Haveria uma explicação plausível para que a corrupção nacional se configure endêmica e seja imbatível?

GM - Endêmica sim, mas imbatível não. Precisamos reeducar o nosso povo, conscientizando-o, dando oportunidades para que todos exerçam efetivamente a cidadania. A cultura colonial patrimonialista deve ser deixada para trás. A corrupção no país está generalizada e vem corroendo a estrutura de todo o tecido social da sociedade. A corrupção hoje no Brasil tomou corpo e se configurou em um grande negócio que mobiliza pessoas, recursos tecnológicos, financeiros e materiais, e atua através de instituições fora e dentro do Estado brasileiro. Transformou-se num complexo com várias redes interligadas com seus respectivos níveis de influência.

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