AÇÃO SOCIAL
Por Ascom | 31 de Dez de 2017, 18h14
Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em Aracaju
Aracaju conta com cinco equipes de abordagem social
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Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em Aracaju

Inácia Brito, diretora de Proteção Social do Suas

Despedida e recomeço

Benedito Domingues está com a passagem marcada. Depois de dois anos em situação de rua, cinco tentativas de homicídio e oito dias em coma por conta de uma briga na rua, ele finalmente voltará a encontrar sua família. Natural de Piratininga, em São Paulo, entrou em depressão quando sua esposa faleceu. Na profunda tristeza, encontrou o crack. Ficou viciado por 16 anos. Sua família procurou ajuda em uma instituição em Lagarto. Ele fugiu do local e veio para Aracaju. Dormia na Praça Camerino, quando foi encontrado pela equipe de abordagem social. Encontrou na leitura bíblica a saída do mundo das drogas e, na Acolher, o caminho para recomeçar. “Eu me transformei. Era uma pessoa difícil, vulgar. Hoje estou sereno. Deus me tirou do labirinto e só tenho a agradecer por ele ter colocado as pessoas que me ajudaram aqui. Eu sinto que posso trilhar um novo caminho”, emociona-se.

Alcançar resultados trabalhando com pessoas é muito difícil e demorado. No entanto, a Prefeitura de Aracaju entende que, cada lágrima de emoção genuína, despendida ao recuperar a dignidade necessária a todo ser humano, faz valer todo o esforço.

Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em AracajuEm breve Benedito estará de volta ao convívio de sua família

Nova vida 

O fim de um ano pode trazer um sentimento nostálgico e, por vezes, até melancólico. No entanto, essa não parece ser a realidade na casa localizada na rua Campo do Brito, número 1396. No endereço, está situada a Casa de Passagem Acolher. Entre os cômodos, decorados com adereços de Natal, estão pessoas que foram “vistas” pelo poder público e recebem a ajuda necessária para transformar a passagem para um ano novo em um momento de esperança. 

O local recebe pessoas designadas pelo Centro POP, após o trabalho de abordagem social. Elas são vistas como casos específicos que precisam de atenção especial temporária. “A casa conta com uma equipe técnica composta por profissionais de áreas diversas, buscando atender as necessidades de cada uma das pessoas que se encontram aqui. O nosso objetivo é dar a elas um sentimento de pertencimento e resgatar suas dignidades”, ressalta Fernanda Fraga, assistente social e coordenadora da Casa.

Os moradores estão livres para ir e vir quando quiserem. Seu tempo é respeitado sempre. Alguns se sentem preparados para buscar seu próprio caminho após algumas semanas. Outros demoram mais tempo.

Há um ano, Fabiana Almeida, 34 anos, chegou ao local, depois de três meses em situação de rua. Carioca de nascimento, ela passou sua infância em Pernambuco. Foi criada por sua avó, que se mudou para Sergipe há 17 anos. Mãe de seis filhos, ela deixou seu lar após ter chegado ao limite de um relacionamento abusivo em que se viu envolvida. Buscando um recomeço, viu no local essa oportunidade. “É preciso parar para repensar a vida e tentar reconstruir de uma maneira melhor, diferente da vida que eu levava. Aqui eles me ajudam a conseguir isso e a buscar um novo significado”, relata. 

Fabiana é acompanhada por outras cinco mulheres. Elas dividem o quarto feminino, que pode abrigar até seis pessoas. Além das áreas de uso comum, como cozinha, refeitório e sala de estar, existem dois dormitórios masculinos aptos a acolher mais 14 pessoas. 

Os homens compõem uma parte maior dos acolhidos na Casa de Passagem. Até novembro, das 104 pessoas que foram atendidas no local, 76 são do sexo masculino e 28 do sexo feminino. Na maioria dos casos, esses rapazes se envolvem em conflitos familiares, por conta do abuso no consumo de álcool e outras drogas. 

José Antônio, 49 anos, faz parte dessa estatística. Quatro anos atrás se distanciou da família, que vive em Penedo, no estado de Alagoas, e passou a perambular pelas ruas da capital sergipana. Ele também nasceu no Rio de Janeiro, mas mudou-se com a família para o nosso vizinho de fronteira ainda na infância. Embora apresente um bom vocabulário, ele afirma que possui apenas o primeiro grau incompleto. “Eu precisava trabalhar. Fazia entregas e auxiliava caminhoneiros. Rodei pelo Brasil todo. Essa experiência me fez aprender uma coisa ou outra”, afirma. 

Tudo mudou para José com o falecimento da sua mãe. Para superar a perda, começou a beber e, gradativamente, conheceu drogas mais pesadas. Separou-se da esposa e rumou para Aracaju. Conhecia a cidade por ter trabalhado por aqui na área de construção civil. No entanto, o tempo passava e o emprego não aparecia. Quando notou, estava em situação de rua. No início, recusava-se a conversar com os assistentes sociais da Prefeitura de Aracaju. Mas a insistência venceu e, dois meses atrás, foi encaminhado, através do Centro Pop, para a casa Acolher. “Na rua, você não dorme. No meio das drogas, o próprio colega que usa contigo pode te roubar. Aqui, nós recebemos cuidados e temos tranquilidade. Eles preparam a base para que a gente consiga se reerguer e dar o próximo passo”, explica.

Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em AracajuJosé agradece pelo apoio na tentativa de se reerguer

O Centro Pop também é o local responsável pela articulação entre essas pessoas e os demais serviços. Um trabalho intersetorial é realizado na tentativa de garantir a essas pessoas outras políticas públicas, como moradia, renda, qualificação profissional e saúde. O trabalho é sensibilizá-los e buscar a reinserção familiar. “Nossa política é respeitar essa população, mas, ao mesmo tempo, buscar alternativas para ela. Tudo é feito partindo do diálogo. Ouvi-los e fazê-los perceber que sua opinião é valorizada faz a diferença”, continua.

Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em AracajuFabiana achou um local para reconstruir sua vida

Aracaju conta com cinco equipes de abordagem social. Quatro delas distribuídas nos Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e uma no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP). O trabalho delas permite entender as mudanças que ocorrem no âmbito desses cidadãos e, a partir da extração dessa informação, adaptar-se. Além disso, torna possível separar as pessoas em situação de rua em dois grupos: aqueles que somente utilizam a rua como espaço de sobrevivência (ambulantes e pedintes), que muitas vezes possuem residência ou ajuda governamental, e os que não conseguiram tal amparo. 

Ambos passam pelo crivo técnico da equipe multidisciplinar. O primeiro grupo é aconselhado e encaminhado para os serviços de proteção básica, nos casos necessários, como trabalho infantil ou exploração sexual. O segundo é encaminhado ao local de referência no atendimento de pessoas em situação de rua. “Uma vez que traçamos o perfil na abordagem social, nós convidamos as pessoas para o atendimento no Centro POP. É lá que a equipe começa o trabalho de ressignificação da vida, ajudando a traçar novas metas. O intuito é que elas se motivem e busquem sair da situação de rua”, aponta Inácia. 

Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em AracajuOs moradores do local ajudam nas tarefas domésticas

Nos quadrinhos e no imaginário infantil ser invisível é um super poder. Ele permite resgates miraculosos e brincadeiras divertidas. No entanto, a realidade inalcançável pelos roteiristas e pela consciência dos pequenos é que não ser notado ou visto em sua individualidade é um grande problema. A vida é dura com as pessoas em situação de rua. Por entender isso a Prefeitura de Aracaju disponibiliza uma rede de Assistência Social que busca ressignificar vidas, através do respeito e do diálogo. 

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS), vinculado a Secretaria Municipal de Assistência Social, possui serviços específicos para pessoas em situação de rua. O trabalho é compreender a história de vida dessas pessoas e encaminhar suas demandas, por meio de um trabalho intersetorial.  O contato precisa ser meticuloso, sempre respeitando as especificidades de cada um. “O primeiro contato acontece por meio do programa ‘Abordagem Social’, onde uma equipe multidisciplinar (assistentes sociais, educadores e psicólogos) identifica o perfil das pessoas em situação de rua. Depois de conhecê-las, é feita uma articulação com os outros serviços públicos ofertados no município”, explica Inácia Brito, diretora de Proteção Social do SUAS. 

Acolhimento transforma vida de pessoas em situação de rua em AracajuFernanda Fraga, coordenadora da Casa de passagem Acolher
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