Opinião -
Por | 20 de Out de 2021, 11h18
Os mais antigos municípios do interior sergipano aniversariam hoje
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Os mais antigos municípios do interior sergipano aniversariam hoje

[*] José de Almeida Bispo

Os três municípios mais antigos do interior sergipano estão completando hoje 324 anos de criados. Logo, parabéns para Itabaiana, Lagarto e Santo Amaro das Brotas. São Cristóvão não entra nessa conta de município do interior porque já nasceu capital, perdendo esse status 265 anos depois.

Tanto tempo faz que até historiadores se confundem, por vezes mergulhando no senso comum, criado a partir do Decreto-lei 311, de 2 de dezembro de 1938, que impôs que as sedes municipais dali em diante seriam todas cidades, acabando, pois, com a velha instituição romana e portuguesa de vila. 

Com a hierarquia das urbes: cidade, núcleo fortificado; vila, núcleo sem aparato especial de fortificação.
São Cristóvão nasceu cidade para ser núcleo de combate aos franceses. Do mesmo modo Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital paraibana; e São Sebastião do Rio de Janeiro. 
De fato, três das quatro primeiras cidades assim foram criadas por causa do assédio francês ao nosso litoral. Apenas Salvador foi assim criada para ser a capital do Brasil, e importantíssimo ponto de apoio, somente na ida para a Índia. 

Esse aspecto deve-se a um fato sempre negligenciado pela historiografia em geral: as correntes marítimas e o efeito Coriólis, que jogavam as naus da costa da Guiné na costa sul-africana, depois de percorrer um arco de 180 graus pelo Atlântico, passando pela costa nordestina do Brasil. Nem só de vento vivia a navegação antes do vapor.

Itabaiana foi projetada para ser cidade, possivelmente uma cidade clássica, com muros, torres, fosso e pontes, além das pesadas portas. O motivo é que o núcleo itabaianense, gerado em torno da igreja de Santo Antônio e Almas nasceu da criação dessa paróquia, provável imposição secreta real através de D. Rodrigo de Castelo Branco, plenipotenciário do rei, à cata da lendária prata de Itabaiana, que, se encontrada, careceria de uma fortaleza para ser guardada até o embarque para Lisboa. 

Numa vila ou cidade era imperativo a presença de uma paróquia. Poucas são as antigas cidades para não dispor numa praça ou no mesmo quarteirão de representação dos então três poderes: Câmara Municipal e Cadeia; Alcaidaria e a Matriz católica.

Não houve prata, não houve cidade. Mas a matriz ficou, fazendo surgir o tímido núcleo de “cem vizinhos”. A matriz de Santo Antônio, de 30 de outubro de 1675, foi seguida quatro anos depois pela de Nossa Senhora da Piedade do Lagarto. D Rodrigo desenganou da prata; e foi-se embora definitivamente com seu pequeno exército de oficiais e engenheiros no início de 1679.
D. Rodrigo foi assassinado por Borba Gato no sumidouro, sudeste de Minas Gerais, em 1682, e, assassino fugiu para os sertões lá encontrando o ouro de Minas Gerais.
Ao mesmo tempo um padre de quem se conservou seu nome em segredo como de resto tudo o mais relativo ao ouro, o encontrou em Itabaiana, em 1695. Temendo o grave problema para a segurança da colônia, foi decretado sigilo total e o padre ficou apenas na memória, com proibição completa sobre o tema.

A nomeação por carta de 15 de março de 1696, de Diogo Pacheco de Carvalho para ouvidor e provedor da comarca de Sergipe de El-Rei sinalizou que o rei estava querendo mais controle em Sergipe.

Em 5 de setembro de 1696 o rei emitiu uma carta ordenando ao governador-geral, D. João de Lencastro, a criação de municípios e respectivos instrumentais administrativos e de segurança: câmaras e cadeias, padres – obviamente confessores – cartórios, ordenanças policiais. Itabaiana e Lagarto, entre elas.

Em 20 de outubro de 1697 era materializada a ordem real com a criação de três, e não apenas dois municípios no interior da capitania de Sergipe. Não ocorreu logo também o de Santa Luzia, possivelmente por dissenso entre os futuros munícipes, sobre onde ficaria a sede: se no desenvolvido povoado da Estância do Rio Real de Henrique Dias, ou na então incipiente Santa Luzia, que de fato nunca desenvolveu.

Em 1° de agosto de 1721 já havia contestação dos moradores de Estância. Já Santo Amaro das Brotas entrou de primeira; mas por decisão do ouvidor, depois de consulta ao governador-geral.

É que com a invasão holandesa a região recebeu muitos imigrantes vindos por Pernambuco; e depois que as tropas de Henrique Dias – sob comando geral de André Vidal de Negreiros - pôs os holandeses para correr de Sergipe, após a saída de Nassau, mais se acentuou por todo o redor do Caminho do Mar, povoando a região de europeus; até então concentrados na Itabaiana e no Lagarto, num triângulo amoroso com São Cristóvão. E continuou a crescer gerando a efetivação dos primeiros engenhos de açúcar, e das primeiras grandes famílias da nobiliarquia sergipana que ainda hoje comandam o estado. De Santo Amaro a cana migrou para os vales do Cotinguiba, Vaza-Barris e Piauitinga.

Lagarto ganhou status de cidade em 20 de abril de 1880; Itabaiana, finalmente se viu cidade em 28 de agosto de 1888 (sem muros, sem fosso, torres, ponte e portas). Já Santo Amaro quase virou povoado de Maruim em 1835; e somente por efeito do supracitado Decreto-Lei 311/1938 passou a ser cidade. 

Para efeito complementar, Santa Luzia, que foi rebaixada a povoado de Estância por decreto provincial de 25 de outubro de 1831 – transferência da sede para Estância - foi emancipada e restaurada com o adendo “do Itanhy”, em 23 de março de 1939.

Parabéns aos três municípios que aniversariam neste 20 de outubro de 2021 pelos 324 anos.
 
 [*] É intelectual e pesquisador de Itabaiana.

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