Para o autor, a concessão de um título dessa envergadura, nas condições atuais do homenageado, somente seria justificável como uma afronta às demais instituições
(*) Sérgio Menezes Lucas, cidadão sergipano, juiz de direito e ex-aluno da UFS*
Sem tecer maiores comentários sobre a origem e o significado do título honorífico em apreço, vemos que a Universidade Federal de Sergipe – UFS – está às vésperas de relegar a importância das comendas por ela outorgadas, passando por cima da sua própria história e desdenhando da sua reputação.
Um campus circense será armado no seio da UFS para a entrega do título de doutor honoris causa – assim, em minúsculas – a Luiz Inácio Lula da Silva, um cidadão condenado pela justiça.
Não entrarei no mérito sobre a justiça da condenação. Esse é papel exclusivo do Poder Judiciário. Existem recursos às instâncias superiores e eles, certamente, serão utilizados.
Posicionar-se contra ou a favor de um réu, ter convicções apaixonadas, é direito de qualquer cidadão. No entanto, estamos falando da mais
importante instituição pública de ensino superior do Estado de Sergipe.
Esta, por seu turno, representa a si mesma e a cada um dos atuais e pretéritos docentes e discentes. Em sua seara de competência, representa, também, esse povo conterrâneo de Tobias Barreto e Gumercindo Bessa.
Uma instituição não tem ideologia, defende princípios e legados. Uma instituição é infinitamente superior aos seus eventuais reitores e administradores e às preferências pessoais de quaisquer destes.
Poder-se-ia dizer que a escolha se dera em momento anterior à sentença condenatória e que o novel “doutor”, a despeito da sua confessada aversão aos estudos, contribuiu para o engrandecimento da nossa universidade. A solução seria simples e diplomática: aguardar o julgamento final e o trânsito em julgado do processo.
A concessão de um título dessa envergadura, nas condições atuais do homenageado, somente seria justificável como uma afronta às demais instituições e poderes se estivéssemos sob o pálio de um regime ditatorial.
Na hipótese aventada, a resistência seria prova de coragem. Na conjuntura atual, é um menoscabo às regras de civilidade. É um tomar partido institucional contra a própria Justiça, em pleno estado democrático de direito.
Dói imaginar que essa ópera bufa será encenada em um dos mais organizados estados do Brasil e que a nossa UFS promoverá, aos olhos do país, o nosso apequenamento ao tamanho de nossa diminuta extensão geográfica.