INVESTIGAÇÃO
Por FOLHA DE S,PAULO ONLINE | 22 de Ago de 2017, 15h04
Ex-presidente do BB e da Petrobras, Bendine é denunciado na Lava Jato
Primeiro ex-presidente da Petrobras a ser denunciado na Lava Jato, ele é suspeito de solicitar R$ 3 milhões em propina para executivos da Odebrecht
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Ex-presidente do BB e da Petrobras, Bendine é denunciado na Lava Jato

Aldemir Bendine depõe na CPI da Petrobras em 2015 (Foto: Alan Marques - 14.out.2015/Folhapress)

O ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine foi denunciado nesta terça (22) pela força-tarefa da Operação Lava Jato, sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço à investigação.

É o primeiro ex-presidente da Petrobras a ser denunciado na Lava Jato.

Bendine, que assumiu a estatal em meio à investigação, em fevereiro de 2015, é suspeito de solicitar R$ 3 milhões em propina para executivos da Odebrecht, a fim de proteger a empreiteira em contratos da Petrobras.

“Isso mostra a audácia da prática da criminalidade na Petrobras, justamente por aquele que iria barrar a corrupção na companhia”, comentou o procurador da República Athayde Ribeiro Costa.

O pedido de propina, que teria ocorrido pouco depois da posse de Bendine, foi relatado na delação do ex-presidente da empreiteira Marcelo Odebrecht e do diretor da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. Segundo eles, o executivo se colocou como interlocutor da Presidência na estatal e disse que iria resolver os problemas financeiros de empresas envolvidas na Lava Jato.

“O intento de Bendine era facilitar a vida da Odebrecht na Petrobras”, afirmou Costa.

Segundo o procurador, e-mails encontrados no endereço institucional de Bendine mostram que ele chegou a solicitar um parecer ao departamento jurídico da Petrobras sobre a possibilidade de encerrar o bloqueio cautelar contra a Odebrecht na estatal e que também atuou para a contratação direta do estaleiro Enseada Paraguaçu, do qual a empreiteira é sócia.

Um desses pedidos foi feito dias depois da reunião que acertou o pagamento da propina com a Odebrecht, em maio de 2015.

As duas operações, porém, não foram recomendadas pelo jurídico da Petrobras.

PAGAMENTOS

Segundo a denúncia, os pagamentos da propina acabaram sendo feitos em três parcelas de R$ 1 milhão, em espécie, em junho e julho de 2015 –por meio do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht.

Quase dois anos depois, na mesma época em que a delação da Odebrecht era homologada, Bendine e os irmãos André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva Jr., que receberam a propina em nome do executivo, resolveram declarar à Receita Federal os valores recebidos ilicitamente, sob o manto de serviços de consultoria prestados à Odebrecht. Eles chegaram a recolher impostos dos valores –o que, para o Ministério Público, representa um embaraço à investigação, por dissimular o pagamento de propina.

“Isso levou a investigação a caminhos errôneos”, afirmou Costa.

Bendine está preso preventivamente desde o final de julho, na 42a fase da Lava Jato. Ele, que tem cidadania italiana, tinha uma viagem marcada para Portugal, o que reforçou o pedido de prisão na época. Ele nega as suspeitas e disse que nunca recebeu vantagens ilícitas.

A pena do executivo, caso condenado, pode chegar a 25 anos de prisão.

Além de Bendine, também foram denunciados os irmãos André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva Jr., também detidos em Curitiba, os executivos Marcelo Odebrecht e Fernando Reis e o doleiro Álvaro Galliez Novis, que teria atuado no pagamento dos R$ 3 milhões.

Cabe ao juiz Sergio Moro, agora, decidir se aceita ou não a denúncia. Só então os denunciados virarão réus.

OUTRO LADO

As defesas ainda não haviam comentado a denúncia do Ministério Público Federal nesta terça (22).

O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Aldemir Bendine, tem afirmado que o ex-diretor, desde o início das investigações, forneceu dados fiscais e bancários e “se colocou à disposição […], demonstrando a licitude de suas atividades”. Segundo o defensor, quando esteve à frente da Petrobras, o executivo “pautou-se pela rigidez” com as empresas investigadas na Lava Jato e “intensificou política de ampla e irrestrita colaboração e interação com as autoridades”.

Já o advogado Ademar Rigueira Neto, que defende os irmãos André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva Jr., afirmou que, desde que o nome dos clientes apareceu nas delações da Odebrecht e na investigação, ele apresentou documentos para comprovar que os dois realizaram serviços para a empreiteira.

Segundo ele, André Gustavo foi procurado pela Odebrecht para ajudar na liberação de um recurso junto ao Banco do Brasil e teve sucesso no trabalho, recebendo assim o montante de R$ 3 milhões. “O dinheiro foi pago em espécie e pelo setor de operações estruturadas a pedido da empresa”, disse Rigueira.

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